Cinco anos após ser lançado pelo Banco Central, o Pix consolidou-se como o meio de pagamento mais utilizado do país e um dos instrumentos de maior impacto recente na economia brasileira. A ferramenta, que nasceu para agilizar transferências entre pessoas, ultrapassou essa fronteira e se transformou em peça-chave na inclusão financeira, no estímulo ao comércio digital e na forma como brasileiros lidam com dinheiro.
Hoje, cerca de 75% da população — mais de 161 milhões de pessoas físicas, segundo dados do Banco Central — têm pelo menos uma chave cadastrada. As transações refletem essa adesão: apenas em outubro de 2025, foram 7 bilhões de operações, somando R$ 3,3 trilhões. Ao longo de 2024, o Pix já havia movimentado R$ 26,3 trilhões, quase o dobro do PIB brasileiro daquele ano. Os dados foram compilados a partir de levantamentos do BC divulgados por InfoMoney e g1.
O impacto é revelado também no sistema financeiro mais amplo. Desde 2020, o número de brasileiros com algum relacionamento bancário saltou de 177 milhões para 204 milhões, uma expansão ligada diretamente à digitalização acelerada durante a pandemia e à simplicidade do Pix. Um estudo da FGV, citado pelo InfoMoney, aponta que um aumento de apenas 1% no uso da ferramenta resulta na abertura de 0,77 novas contas por mil adultos — sinal claro de que a tecnologia induz inclusão.
Mudança de comportamento e protagonismo nos pagamentos
A popularização do Pix alterou a lógica do dinheiro no país. O uso de espécie segue em queda e os saques diminuíram 35% desde 2020. No segundo trimestre de 2025, foram registrados 19,3 bilhões de pagamentos via Pix, superando com folga os 12,6 bilhões realizados com cartões e ultrapassando em mais de 330% as operações com boletos e convênios.
O sistema também impulsionou o empreendedorismo digital. Vendas por WhatsApp, microcomércios informais e novos serviços financeiros encontraram no Pix um ambiente barato e imediato. Segundo a economista Carla Beni (FGV), ouvida pelo g1, o arranjo permitiu que pessoas com pouco acesso a meios de pagamento participassem mais ativamente da economia: “o Pix simplificou e democratizou os pagamentos digitais”.
Esse uso mais diversificado foi ampliado pelas funcionalidades lançadas ao longo dos anos: Pix Cobrança, Pix Saque e Troco, Pix Agendado, Pix por Aproximação, Pix Automático, além da integração com o Open Finance, que permite iniciar pagamentos a partir de diferentes plataformas e aplicativos.
Segurança: o principal desafio do BC na nova fase
Se o Brasil abraçou o Pix, a escala também expôs vulnerabilidades. Somente em 2024, o BC contabilizou R$ 6,5 bilhões em perdas com fraudes, um aumento de 80% em relação ao ano anterior, além de registrar em 2025 o maior ataque hacker da história do país: R$ 800 milhões desviados de instituições financeiras ligadas ao sistema.
A resposta da autoridade monetária foi reforçar a agenda de segurança. Entre as medidas recentes estão:
- coincidência cadastral obrigatória entre a chave Pix e os dados da Receita Federal;
- limite de R$ 15 mil por operação para instituições ainda não autorizadas ou que usam infraestrutura terceirizada (PSTIs);
- endurecimento do manual de penalidades e novas exigências de credenciamento;
- definição objetiva do que caracteriza “fundada suspeita de fraude”, promessa feita pelo diretor do BC, Renato Gomes.
O Mecanismo Especial de Devolução (MED) — que permite bloquear valores após golpes — também está em transformação. Em 2024, mais de 1,13 milhão de devoluções foram concluídas, somando cerca de R$ 400 milhões. Mas o modelo atual só rastreia a primeira conta recebedora dos valores. Por isso, o BC prepara o MED 2.0, que permitirá reconstruir toda a cadeia de transações usadas para pulverizar dinheiro ilícito.
Outra evolução prevista é o bloqueio preventivo de chaves, permitindo ao usuário impedir que cadastrem novas chaves com o seu CPF — um mecanismo pedido por especialistas desde os primeiros casos de fraude por identidade falsa.
Próximos passos: parcelamento, duplicatas e internacionalização
O Pix entra no sexto ano mirando um conjunto de inovações que podem alterar ainda mais o mercado financeiro. Entre elas:
- Pix Parcelado: já oferecido por alguns bancos, mas ainda sem regras unificadas. O BC promete regulamentação até o fim de novembro.
- Pix Duplicata: voltado a transações entre empresas, deve reduzir custos e substituir o boleto em parte do mercado corporativo.
- Pix Internacional: apesar de soluções privadas já existirem, ainda não há padronização oficial. A autoridade monetária acompanha propostas para integração do sistema brasileiro com plataformas de pagamento de outros países.
Segundo Renato Gomes, o avanço internacional é “uma avenida promissora” e deve ganhar protagonismo nos próximos anos.
Um sistema que virou infraestrutura do país
De ferramenta nova a componente indispensável da economia, o Pix consolidou um modelo de pagamentos instantâneos que se tornou referência internacional — e que, ao completar cinco anos, ganha uma agenda mais robusta de segurança e expansão.
Os próximos movimentos do BC indicam que o sistema seguirá se sofisticando, pressionando fintechs, bancos e operadores tecnológicos a elevar padrões de proteção, ao mesmo tempo em que abre espaço para novos produtos, integrações e usos no mundo físico e digital.
O Pix, que começou como um botão de transferência no celular, tornou-se, de fato, uma infraestrutura nacional — uma que já movimenta cifras superiores às do PIB e que molda o futuro dos pagamentos no Brasil.
Imagem destacada: Bruno Peres/Agência Brasil




