A primeira semana da COP30, em Belém do Pará, terminou deixando um saldo considerado positivo por governos, especialistas e parte da sociedade civil. Apesar das tensões típicas das negociações multilaterais, o tom predominante tem sido de avanço prático: financiamento climático mais ambicioso, participação indígena inédita e avanços em temas delicados como adaptação, monitoramento e transição energética.
Logo na abertura, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deu o tom político da conferência ao afirmar que forças extremistas têm difundido mentiras para travar políticas ambientais, defendendo que o combate à desinformação é central para proteger não apenas florestas, mas a própria democracia . Em outro momento, Lula reforçou que a transição energética precisa de um caminho claro e financiamento consistente, reconhecendo que não se trata de um processo imediato, mas inevitável para garantir soberania climática aos países do Sul Global .
O grande anúncio da semana veio de André Corrêa do Lago, presidente da COP30, que apresentou o “Baku to Belém Roadmap”, plano que busca mobilizar US$ 1,3 trilhão ao ano para ações globais de mitigação, adaptação e transição energética. Diplomata brasileiro com significativa carreira nas áreas de clima e energia, Lago tem ganho atenção e destaque na condução da conferência. O Brasil também lançou o Círculo de Ministros das Finanças, grupo que pretende articular economias para destravar recursos em escala sem precedentes . Especialistas ouvidos por veículos públicos brasileiros apontam que a discussão sobre financiamento — historicamente travada — teve progresso “acima da média” nesta primeira semana, com países demonstrando mais disposição a avançar na negociação de textos-base para a fase ministerial .
Outro destaque positivo foi a maior participação indígena da história das COPs. Estima-se que cerca de 3 mil indígenas estejam em Belém, com mil deles acessando diretamente a zona de negociações oficiais. A presença reforça o reconhecimento internacional de que territórios indígenas são fundamentais para a biodiversidade e para o equilíbrio climático — e que proteger quem protege a floresta é parte essencial da agenda climática global. Exposições, debates e feiras de saberes tradicionais dominaram a “Green Zone”, ampliando a visibilidade e a influência política dessas lideranças .
Na agenda de transição energética, o Brasil apresentou uma proposta robusta para ampliar o uso de combustíveis sustentáveis — biocombustíveis, biogases e combustíveis sintéticos — com o objetivo de quadruplicar sua participação até 2035, uma medida vista como pragmática para descarbonizar setores de difícil redução de emissões. A iniciativa recebeu apoio de diversos países e organismos internacionais.
O clima de otimismo não impediu o surgimento de polêmicas. Protestos de lideranças indígenas cobraram que a retórica da “COP amazônica” se traduza em garantias concretas de direitos territoriais. Há também críticas sobre o impacto ambiental de obras de infraestrutura erguidas para acomodar o evento. Além disso, o alto custo de hospedagem em Belém gerou preocupação entre delegações menores e levou a ONU a limitar o envio de funcionários para a conferência .
Apesar dos impasses, especialistas avaliam que a primeira semana encerra com mais convergências do que divergências. Textos sobre adaptação, medição de emissões e financiamento avançaram o suficiente para serem encaminhados aos ministros na próxima rodada de negociações — um sinal de que esta COP pode romper com o ciclo de promessas vagas e dar passos concretos rumo à implementação.
Se o ritmo se mantiver, a COP30 pode entrar para a história não apenas como a COP da Amazônia, mas como a COP que transformou ambições em mecanismos reais de financiamento, inclusão e ação climática.
Imagem destacada: Tânia Rêgo/Agência Brasil




