Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), foi o principal artífice da ideia de tentar colar ao relatório do deputado Guilherme Derrite (PP-SP) para o PL Antifacção a ideia de que era o projeto de Blindagem 2. E, na sua avaliação, a estratégia deu muito resultado. A reação ao que ficou batizado como “PEC da Blindagem” foi um dos principais pontos de inflexão que tiraram o governo das cordas e, por um momento, colocaram nelas a oposição. O debate sobre segurança pública parecia poder novamente virar o jogo em favor da oposição. Lindbergh avalia que, porém, os adversários acabaram dando de presente a chance de o governo se manter na onda a partir da ideia de reduzir a autonomia da Polícia Federal nas ações contra o crime organizado.
Aval
A ideia de Derrite era obrigar que as ações da PF nos estados precisassem ter o aval dos governadores. À primeira vista, a ideia parecia ótima: fortaleceria os governadores do campo em um momento em que a estratégia é mostrar o que cada um deles faz para combater o crime.
Desconfiança
Lindbergh tratou de plantar a desconfiança. A PF está já na oitava fase da Operação Overclean, que investiga desvios de recursos de emendas orçamentárias. As informações são de que há mais de uma dezena de parlamentares a essa altura sendo investigados.
Limite à Polícia Federal acabaria sendo geral
Ao determinar uma autorização prévia dos governadores, esse aval seria geral, para qualquer operação. Imaginar que um governador daria autorização para uma investigação que no seu estado tivesse como alvos parlamentares e prefeitos (quando não os próprios governadores), que poderiam ser aliados, é pedir demais do caráter cívico e do desprendimento dos governantes. Ou seja, poderia parecer uma tentativa de ressuscitar o espírito da PEC da Blindagem. Com uma nova perspectiva de desmoralização da Câmara. Depois que os deputados aprovaram a tal PEC, o Senado passou como trator, derrubando-a por unanimidade.
Mesmo destino
O presidente da Comissão de Constituição e Justiça do Senado, Otto Alencar (PSD-BA), já dizia que o destino de um projeto que reduzisse poder da PF seria o mesmo. Diante do risco, os próprios governadores de oposição pediram a Hugo Motta o adiamento.
Qual texto?
Bastidores da reunião que Motta teve com os governadores na tarde de quarta-feira (12) dão conta de que havia uma total insegurança sobre qual seria o texto votado. Derrite faria uma quarta versão do PL Antifacção. Mas o que conteria esse novo texto ninguém sabia.
Adiamento
Como já adiantara o Correio Político na terça-feira (11), adiar a votação já era o que pretendia o governo. A posição dos governadores de oposição associou-se ao desejo dos governistas. Com os dois lados na mesma linha, a possibilidade tornou-se remotíssima.
Tempo
Assim, os dois lados pregavam no final do dia a mesma necessidade de tempo para refazer o projeto. Porque não votar poderia fazer colar uma nova pecha a quem parecesse o responsável: não quer ver aprovado um projeto que endurece o combate ao crime organizado.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Lindbergh liderou a ideia de colar a blindagem | Valter Campanato/Agência Brasil




