*Filme imperdível sobre o genocídio e suas origens, Palestina 36, produzido esse ano, deve entrar nos cinemas depois de atravessar a onda de festivais de cinema. Quem assistiu diz ser imperdível. Sua autora, Anne Marie Jacir, fala da Naksa de 1967, da Nakba, de 1948 e, bem antes, dos anos de 1936/39, da colonização britânica, quando foi promulgado o Mandato da Liga das Nações determinando o poder britânico sobre a Palestina, em 1920. A ler a excelente resenha do professor da Unifesp, Alberto Handfas. (A Terra é Redonda).
*Citando o ex-ministro de Direitos Humanos, Paulo Sergio Pinheiro em seu mais do que preciso texto O massacre de Cláudio Castro: “O massacre no Rio deve ser compreendido dentro de um contexto político mais amplo, articulado por Castro e outros governadores de extrema direita. Após a condenação e prisão de seu líder máximo e de seus aliados, esses atores políticos buscam utilizar o discurso da guerra contra o tráfico de drogas para desestabilizar o Estado federal e melhorar suas perspectivas nas próximas eleições. Além disso, tentam alinhar-se à narrativa continental de combate ao narcotráfico, atualmente liderada pelos EUA”.
*Nada lá fora e aqui dentro, de Giovanna Raimundo, ganhou o Prêmio Candango de Literatura. Livro anterior da autora é Sorriso sorvete de cereja.
*Forte expectativa, a estreia do filme italiano La Grazia, de Paulo Sorrentino, que abriu o Festival de Veneza desse ano. Roteiro e fotografia também são do excelente ator-diretor. O tema: eutanásia. Sorrentino faz um Presidente da República que deve decidir sobre o procedimento.
*Conrado é o nome do photo book de Maria Eugenia Nabuco realizado com imagens “sobre o efêmero”, como diz a autora, que percorrem a costa do bairro de São Conrado desde o pontão da Avenida Niemayer até o pontão do Joá — por sinal, uma das praias mais preservadas do Rio de Janeiro; até agora. O trabalho participa do Festival FotoDoc desse ano e o lançamento se deu na livraria da Escola Panamericana de Arte e Design, em São Paulo.
*Outro trabalho destacado: a edição e venda do livro da jornalista e escritora Leneide Duarte-Plon, A Tortura como Arma de Guerra — da Argélia ao Brasil, em árabe, em Argel, tradução do diplomata Chafik Benllala. A edição francesa, da Harmattan, sairá até o fim desse ano.
*Talvez ocasionado pela solidão imposta durante o tempo de duração de covid, talvez pela decepção com relações frustrantes com o Outro, o ser humano, é notável o aumento do número de adoções de animais domésticos, em particular de cachorros, nos últimos anos. O filme que vem estourando as bilheterias cinematográficas, aqui e lá fora, Caramelo, de Diego Freitas, é um dos sintomas. E em paralelo, o livro Voltei, de Sergio Mena Barreto, (Ed. Qualifick) rapidamente se transformou em best seller na mesma época. A indústria e o comércio veterinários estão em pleno valor e agradecem a sede de companheirismo, lealdade e afeto irrestritos efetivos.
*Leitura necessária. No dia 5 de novembro de 2015, a barragem de rejeitos de minério de ferro de Fundão, em Mariana, Minas Gerais, se rompeu. A estrutura armazenava 55 milhões de metros cúbicos de rejeitos de mineração que jorraram e destruíram tudo por onde passaram. O Rio Doce nunca mais foi o mesmo. Atingiu 38 municípios, matou 19 pessoas e eliminou toda forma de vida em um dos rios mais importantes do país. Agora, João Marcos Mendonça, morador de Governador Valadares e autor de Doce Amargo: Um relato em quadrinhos do maior desastre ambiental do Brasil, testemunha a tragédia e escreve sobre esse maior desastre ambiental do país, sobre os dias de caos, medo e angústia após a tragédia. Muito importante não esquecer. (Ed. Nemo).
*Uma geração que se despede. Essa semana, partiu Lô Borges, um dos corações do Clube da Esquina, referência cultural e musical de toda uma época. Que siga em paz.
*E o programa é aplaudir e se envolver em esperança com a vitória devastadora de Zohran Mamdani, africano, imigrante, socialista e corajoso para a prefeitura de Nova Iorque. Ele já mandou um recado para o atual presidente dos EUA: “Aumente o volume”.
*Léa Maria Aarão Reis é jornalista.
Ilustração de capa: Marcos Diniz




