Morre Lô Borges, o músico que encantou muito além da esquina

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A música popular brasileira perdeu uma de suas vozes mais originais e vibrantes: o cantor, compositor e guitarrista mineiro Lô Borges faleceu aos 73 anos em Belo Horizonte, conforme foi confirmado pela família do artista na manhã desta segunda-feira, 3. Ele estava internado na Unidade Terapia Intensiva (UTI) desde 17 de outubro, quando foi hospitalizado devido a uma intoxicação por medicamentos.

A gênese de um autor fora do eixo

Nascido Salomão Borges Filho, em Belo Horizonte, Minas Gerais, Lô Borges começou sua trajetória musical ainda muito jovem. Aos 19 anos, já participava de encontros que germinariam o legado do movimento Milton Nascimento e do coletivo Clube da Esquina.

Em 1972, ele co­assina o seminal álbum Clube da Esquina — uma obra-marco da música brasileira — ao lado de Milton e outros músicos de Minas. Ainda naquele ano, sai o seu álbum solo Lô Borges, apelidado de “o Disco do Tênis”, pela capa icônica, que imediatamente entrou para o cânone da música do Brasil.

O legado criativo: entre a leveza e a aventura

Nas mãos de Lô, a canção se fez passeio por trilhas da MPB, do folk psicodélico, do jazz e da experimentação pop. Hinos como “Paisagem da Janela”, “Para Lennon e McCartney”, “O Trem Azul” e “Clube da Esquina nº 2” tornaram-se parte da memória brasileira e foram regravados por gerações.

Embora tivesse 50 anos de carreira, Lô manteve uma vertigem criativa impressionante nas duas últimas décadas. Como declarou em 2024: “não consigo parar de compor, tenho fascínio pelo desconhecido”. Essa persistência significou álbuns como Dínamo (2020) e Muito Além do Fim (2021) e uma atividade que poucas lendas da música nacional mantêm com intensidade.

A persona e o Brasil que escutou

Lô era também parte de uma narrativa que ultrapassa gêneros: homem de Minas, compositor de traços pop e soprados de jazz; autor que fez a ponte entre o experimentalismo dos anos 70 e a contemporaneidade da era digital. Foi ouvido, influenciou e foi citado — o vocalista do Arctic Monkeys, Alex Turner, apontou-o como inspiração para o álbum Tranquility Base Hotel & Casino. Mas seu lugar, sempre, foi longe da raízes do espetáculo fácil: “As músicas vêm do céu, mas é preciso buscar”, dizia ele em 2024 ao lançar o álbum Tobogã.

A morte e o que ela nos lembra

O músico estava internado em Belo Horizonte desde meados de outubro, após um quadro de intoxicação medicamentosa que o levou à UTI, traqueostomia e hemodiálise. Nesse sentido, a perda de Lô não é apenas a de uma voz — é a queda de uma ponte viva entre a origem da música moderna brasileira e os rumos da música contemporânea. Como tantos outros artistas que vieram antes, ele deixa em seu desaparecimento a provocação: que música queremos, que país estamos escutando?

Uma obra que persiste e exige revisitação

No legado de Lô Borges — agora repleto de saudade — há também a provocação de revisitar a música brasileira além dos clichês. Sua obra exige atenção para as entrelinhas, desejo por inventar, recusa à acomodação. Em tempos em que se troca “digitalizações” por canção, o caminho que ele trilhou permanece como convite: compor, experimentar, não desistir.


Imagem destacada: Divulgação Redes Sociais de Lô Borges

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