Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
“Eu só quero é ser feliz, andar tranquilamente na favela onde eu nasci”. O “Rap da Felicidade”, de Julinho Rasta e Kátia, famoso nas vozes de Cidinho e Doca, tornou-se uma espécie de clássico moderno não apenas pela sua qualidade. Mas pela forma como aborda um sentimento que abrange a imensa maioria das pessoas que moram nas comunidades mais pobres, não apenas no Rio de Janeiro. Elas só querem felicidade. Só querem paz. Andar tranquilamente. Favela não deveria ser sinônimo de criminalidade e de violência. Na terça-feira (28), no mesmo momento em que se iniciava a guerra nos Complexos do Alemão e da Penha, Renan Monteiro e sua equipe guiavam tours de turistas nas favelas da Rocinha e do Vidigal.
300 turistas
Criado há quatro anos, o projeto Favela Turismo já levou mais de 300 turistas em visitas à Rocinha, Vidigal e PPG. Há dois modelos: um tour a pé pelas ruas dos dois morros, que dura cerca de duas horas, e outro na garupa de motocicletas, de duração mais curta.
Sem incidentes
Até agora, não se registrou um incidente sequer. O projeto é a constatação de que pode haver um outro mundo possível. No qual, como diz o “Rap da Felicidade”, o morador da favela pode “se orgulhar” de mostrar onde vive, com “a consciência de que o pobre tem seu lugar”.
Visitas foram canceladas após a operação

Rocinha: outra favela é possível | Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil
Em conversa com o Correio Político, Renan Monteiro, porém, admite os prejuízos que a situação de violência no Rio provoca. “Infelizmente, depois da operação diversos passeios foram cancelados”, conta. “Felizmente, porém, estamos já voltando à normalidade”, confia. “É difícil convencer um turista que não conhece a cidade que aqui é diferente do Alemão e que as favelas aqui são pacíficas”, diz Renan. “Se uma situação como essa afeta a economia e as atividades da cidade inteira, imagine-se o que acontece nas favelas”. Renan explica que os passeios são o tempo todo monitorados, com diversos pontos de apoio para atender ao visitante.
Curso
Na próxima quarta-feira, 5 de novembro, haverá o encerramento do curso da primeira turma de condutores de turismo na Rocinha, Vidigal e PPG. O evento será às 10h, no Mirante da Rocinha. O curso dos monitores teve apoio do Sebrae e da Secretaria de Turismo do Rio.
Cultura
“Essa formação representa a valorização do saber e da cultura local”, diz Renan. “São os próprios moradores conduzindo visitantes por suas ruas, contando suas histórias e mostrando o verdadeiro rosto das favelas. É geração de renda e orgulho comunitário”.
Visitantes
O que os visitantes fazem não é uma aventura pela “selva”. Mas um mergulho no cotidiano de gente honesta e trabalhadora, vivendo a sua rotina. Com as vistas maravilhosas que só o Rio de Janeiro proporciona. Essa é a ideia que se quer ver prevalecer.
Sebastião
Na linha do samba, a única parceria dos grandes poetas Aldir Blanc e Paulo Cesar Pinheiro, com Moacyr Luz, assim cantava em “Saudades da Guanabara”: “Brasil, tira as flechas do peito do teu padroeiro, que São Sebastião do Rio de Janeiro ainda pode nos salvar”. É possível.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: A primeira turma de monitores do Favela Turismo | Foto: Divulgação




