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Opinião

O que caracteriza uma organização criminosa? E o que se deve fazer com ela?

O que caracteriza uma organização criminosa? E o que se deve fazer com ela?

Artigo por RED
03/11/2022 10:00 • Atualizado em 05/11/2022 09:58
O que caracteriza uma organização criminosa? E o que se deve fazer com ela?

De LEONARDO MELGAREJO*

Como devem ser interpretadas as ações da policia rodoviária federal (PRF), de caráter inédito e voltadas a dificultar o acesso de eleitores, às urnas, em locais onde predominavam votos contra o fascismo (Ações da PRF para dificultar o voto teriam sido combinadas com comitê bolsonarista)? O que explica o descaso da mesma PRF (que se fez omissa até ser obrigada a intervir, por determinação judicial) no caso de bloqueios de estradas organizados por bolsonaristas insatisfeitos com os resultados das eleições (Manifestação de caminhoneiros bolsonaristas bloqueia estradas em 16 estados)? O que isso tem a ver com as manifestações bolsonaristas que ocorreram a partir do dia de finados, pedindo a intervenção do exército sobre o Supremo Tribunal Federal e a anulação das eleições (Apoiadores de Bolsonaro fazem atos pelo país e pedem intervenção federal), de forma simultânea em vários pontos do território nacional?

Que relações podem ser estabelecidas entre aqueles fatos e o silêncio por 44 horas, seguido por fala curta, dúbia e ofensiva a milhões de brasileiros que rejeitaram suas políticas entreguistas, por parte do presidente que mente, após lideres democráticos da Europa, Ásia, África, Oceania e todas as Américas manifestarem seu apreço e disposição de dialogar com o presidente eleito, Luis Inácio Lula da Silva?

 

Vejo correlação estreita entre ocorrências tão dispares como a sinalização dissimulada do presidente que mente, em relação/de apoio aos conflitos de rua, e o convite à Lula, para participar da COP 27. Estas e outras ocorrências similares indicam que estamos diante de um ponto de inflexão, um momento crucial para definição do futuro.

De um lado o Brasil se encaminha para retomada de espaço que perdeu entre as nações, com a credibilidade e respeitabilidade que merecemos. Desenham-se, assim, oportunidades para captação de investimentos e articulações hoje inviabilizadas pela condição de pária a que fomos levados pelo desgoverno que agora finda.

De outro lado, os acontecimentos desta semana indicam a auto revelação de ampla organização criminosa que a partir do golpe de 2016 se consolidou entre os agentes do Estado Democrático, corrompendo-o e dele se servindo para atiçar o ódio à democracia, aos direitos humanos, aos povos indígenas, aos pretos, às crianças e aos idosos já discriminados pela absurda concentração de renda e crescente restrição de oportunidades de vida digna, neste pais.

Disso resulta a urgência de articulações em defesa do caminho que se abre com Lula e do apagamento dos rastros e armadilhas instauradas contra os interesses nacionais, pelo grupo criminosos do qual, esperamos, em breve estaremos livres. O primeiro passo ocorrerá ao natural, com alegria, envolvendo a vasta articulação arquitetada pela frente de redemocratização nacional. Mas o outro, a ser processado em simultâneo, não será simples nem fácil.

Em ambiente de paz e entrosamento, o Brasil precisará enfrentar com energia a já referida organização criminosa, desmascarando e punindo exemplarmente suas lideranças, de modo a interromper processo degenerativo que, como demonstram as reações do mundo civilizado em apoio à eleição de Lula, precisam ser expurgadas daqui por necessidade nossa, sim, mas também porque ameaçam o planeta inteiro.

Está claro que, com a vitória de Lula e seu pronto reconhecimento internacional, não apenas se está colocando freio à práticas ecocidas como também escapamos (por hora) de processo genocida que foi antecipado pelas atitudes endoidecidas de Roberto Jefferson e Carla Zambeli. Aquelas idiotices exibicionistas revelaram mais do que a antecipação vaidosa de gestos combinados no interior da organização criminosa a que me refiro. Ali se expressou a naturalidade com que bandidos costumam agir sempre que se consideram protegidos pela impunidade assegurada a cúmplices dos soberanos de caráter ditatorial. Aqueles amigos do presidente que mente seguramente contavam, bem como as lideranças envolvidas no bloqueio de estradas e nas ações em frente aos quartéis, com o recrudescimento de um golpe que seria facilitado por um resultado eleitoral que não ocorreu.

Nada mais claro, pela organicidade e dispersão dos eventos.

A direção da PRF simplesmente comandou ações coerentes com o pretendido pelos organizadores das demais manifestações, aquelas que aconteceram em sequência, antes e após a fala tardia do presidente que mente, e que em sendo pífias, acabaram por ele qualificadas como normais, democráticas e espontâneas.

Para nós, e isso graças ao posicionamento do STF, de governadores e de lideranças internacionais, o pior, o que estava preparado, não aconteceu. Mas uma vez revelada a abrangência da organização criminosa que arquitetou e deu caráter de rede àqueles fatos, o pior se mantém latente como possibilidade futura.

Em concreto, o sumiço do presidente que mente, seu silêncio e depois seu micro discurso com mais entrelinhas do que linhas, acabaram sendo interpretados como elemento de estímulo aos acontecimentos que se seguiram, dando corpo a parcela das ações por eles programadas contra todos nós. Deu no que deu. Pacientes necessitados de hemodiálise, mulheres em iminência de parto, vendedores de peixes, leite e alfaces e toda sorte de cidadãos teoricamente com direito de ir e vir, na pratica acabaram retidos em barreiras, com medo, esperando pelo desfecho de um processo que jamais deveria ter ocorrido.

 

Com isso, em sua lógica, dimensão e sincronicidade, acabou sendo desmascarado um mecanismo construído com o objetivo de fraudar as eleições e, após, independentemente dos danos causados, justificar e incitar sublevação criminosa direcionada à colocar a nação de joelhos, fazendo-se sabe-se lá o que com os democratas e os Ministros do Supremo Tribunal Federal.

Ações criminosas, organizadas em grupo, de forma planejada revelam a existência de uma organização criminosa. E quando esta organização criminosa se faz audaciosa a ponto de estender sua rede desde milicianos homenageados e gerentes de rachadinhas até o centro de governo, supõe-se urgente seu desmantelamento, com transparência e sob os rigores da lei. Ou não?

Repito. O que vimos esta semana expressa uma linha condutora que vem de longe e se manifestou tanto na mobilização de patrulheiros para fiscalização de pneus carecas, no Nordeste , como na multiplicação de madames vestindo bandeiras diante de quartéis e pedindo, aos prantos, ações do exercito brasileiro contra, inclusive, –pasme-se – os agentes de Sadan Hussein (Bolsonarista chora e diz: PM foi comprada por Saddam Hussein).

Descontando a idiotice de alguns, no todo se percebe o perigo de ampla e orquestrada ação mafiosa, planejada em detalhes, com a clara intenção de provocar o caos e acabar com nossa frágil democracia. Não há como minimizar o fato de que atua entre nós um grupo organizado, perigoso a ponto de incluir entre seus não apenas parlamentares e milicianos com também malucos equipados com arsenal, tão poderoso e ameaçador que mesmo a parcela legalista das forças armadas ignora seu potencial e localização.

 

Concluindo, cabe reafirmar a convicção de que os resultados eleitorais de 30 de outubro foram um primeiro passo. Dali se abre dialogo para a construção de apoios necessários tanto à recuperação do Brasil como também ao enfrentamento daquela organização criminosa que desmascarou a si mesma com as ações destes últimos dias. Por isso, a fala de Luis Inácio Lula da Silva, que foi clara e convocatória, verdadeiro chamado à necessária reaproximação e amorosidade entre todos os brasileiros, não deve ser interpretada como recomendação de descuido para com os criminosos e suas ações.

A partir de agora, a vigilância se faz tão necessária quanto a ampla articulação que definirá prioridades políticas a serem orientadas localmente, envolvendo todos os níveis de governança (organizações populares, prefeitos, governadores), sob coordenação nacional de um governo comprometido com a democracia, as necessidades do povo e o respeito à constituição federal.

Vigilância sim, incluindo este momento em que os criminosos estão ocupados com a ocultação das provas de seus crimes, e estendendo-se até que os ovos de serpentes por eles dispersos venham a ser quebrados a pontapés, ou apodreçam por si.

Faremos isso sambando, como canta o Chico.

Agradeço à Beatriz Fagundes, da Rádio Manawa, pela dica precisa. Esta é uma musica que a um só tempo nos traz a história e alimenta a força de que precisamos para corrigir o mal e construir um futuro que esconjure a ignorância, que desmantele a força bruta, que espante o tempo feio e remedie todos seus estragos.


*Engenheiro Agrônomo, mestre em Economia Rural e doutor em Engenharia de Produção. Foi representante do Ministério do Desenvolvimento Agrário na CTNBio  e presidente da AGAPAN. Faz parte da coordenação do Fórum Gaúcho de Combate aos Impactos dos Agrotóxicos e é colaborador da Campanha Permanente Contra os Agrotóxicos e pela Vida, do Movimento Ciência Cidadã e da UCSNAL.

Imagens de reprodução da televisão e da internet.

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