Um Planeta que Desistiu do Futuro

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Por CELSO JAPIASSU*

A humanidade vive neste século o momento mais crítico da vida do planeta que habita. A aceleração das mudanças climáticas, resultado direto da atividade industrial, da derrubada das florestas e da intensa exploração dos recursos naturais, tornou indiscutível o impacto da ação humana sobre a Terra. Os eventos extremos multiplicam-se, as médias de temperatura ultrapassam recordes históricos, e os ecossistemas encontram-se ameaçados pela enorme pressão a que são submetidos.

Em 2025, os relatórios científicos e as conferências internacionais, como a COP30 prevista para realizar-se em Belém do Pará, de 10 a 21 de novembro, apontam para uma catástrofe anunciada: ou se muda radicalmente o modelo de desenvolvimento ou o planeta enfrentará um colapso ambiental nas próximas décadas. A existência humana está em risco e a consciência dessa verdade não tem abalado nem os governos nem o modo de produção capitalista.

As mudanças climáticas deixaram de ser uma projeção para o futuro distante; são realidades presentes. Temperaturas médias elevadas, secas prolongadas, chuvas torrenciais e enormes incêndios atingem simultaneamente diferentes regiões do mundo. O impacto não se limita ao ambiente natural, mas estende-se à economia mundial, à saúde pública e à estabilidade política de várias nações. O que antes era considerado um problema climático, hoje é reconhecido como um dos maiores desafios para a própria existência humana.

Temperatura

Nas últimas duas décadas, a temperatura média global aumentou cerca de 1,2°C em relação à era pré-industrial. Embora possa parecer modesto, esse número tem consequências devastadoras. O aquecimento intensifica a perda de gelo nos polos, eleva o nível do mar e ameaça comunidades e cidades costeiras. Cerca de 200 milhões de pessoas serão deslocadas até 2050 por causa de inundações e da perda de territórios habitáveis. O derretimento das geleiras da Groenlândia e da Antártida está acelerado e compromete sistemas oceânicos inteiros além de alterar as correntes marítimas que são responsáveis pela regulação climática planetária.

Além das alterações físicas, há efeitos diretos na biodiversidade. Aproximadamente um milhão de espécies encontram-se em risco de extinção, segundo relatórios da ONU. A destruição dos habitats naturais pela agricultura intensiva, mineração e expansão urbana, rompe o equilíbrio ecológico e reduz a capacidade dos ecossistemas de armazenar carbono — criando um círculo vicioso de mais aquecimento e mais destruição. As florestas tropicais, especialmente a Amazónia, que funcionam como “pulmões do planeta”, sofrem um processo acelerado de degradação. Caso ultrapassem o ponto de não retorno, poderão transformar-se em savanas, multiplicando o ritmo de aquecimento global.

A escassez de água em regiões áridas, o declínio de culturas agrícolas tradicionais e as ondas de calor extremo afetam o sustento de milhões de pessoas. A fome, que os relatórios oficiais chamam de insegurança alimentar, já se manifesta em países africanos e asiáticos, e tende a intensificar-se se o aumento da temperatura ultrapassar 2°C. A migração climática torna-se um problema político global: populações deslocadas buscam refúgio em áreas mais estáveis, pressionando estruturas urbanas e gerando tensões sociais.

Emissões

O panorama político internacional mostra um desequilíbrio entre discursos e ações. Apesar das metas estabelecidas em Paris em 2015 e reiteradas nas COPs seguintes, as emissões mundiais continuam em patamares muito altos. A transição energética, embora em progresso, ainda enfrenta resistência de setores dependentes dos combustíveis fósseis. O uso crescente de carvão e gás em algumas economias emergentes compromete o esforço coletivo. Nesse contexto, o papel das grandes potências é decisivo — não apenas pela redução de suas emissões, mas pelo incentivo financeiro e tecnológico às nações em desenvolvimento, para que também possam adaptar-se e mitigar os efeitos das mudanças climáticas. Os EUA, um dos grandes responsáveis pelas emissões, tem no governo Trump uma posição de descrença quanto ao problema ambiental e se retirou dos acordos internacionais de proteção ao meio ambiente.

O avanço tecnológico oferece esperança, mas exige investimento e coordenação. Energias renováveis, captura de carbono e políticas de economia circular estão entre as alternativas possíveis. No entanto, sem vontade política consistente, os esforços isolados são insuficientes. O futuro depende de uma transformação global de mentalidade, capaz de substituir o modelo produtivo baseado em crescimento ilimitado por um paradigma de sustentabilidade e justiça ambiental.

A nova era

A humanidade entra numa nova era climática. A situação atual demonstra que os impactos do aquecimento global já são praticamente irreversíveis, mas ainda há espaço para reduzir as consequências futuras. O desafio é simultaneamente científico, político e ético. Proteger o planeta requer não apenas medidas técnicas, mas uma mudança de consciência que ultrapasse fronteiras e interesses imediatos.

As ameaças para o futuro do planeta — aumento do nível do mar, colapso dos ecossistemas, crises alimentares e energéticas — não são hipóteses remotas, mas algo previsível se nada for feito. A Ciência e o conhecimento dizem que o tempo de agir é agora. A COP30 no Brasil representa uma oportunidade crucial para reafirmar compromissos e implementar soluções concretas. O sucesso dependerá da capacidade das sociedades humanas de compreender que o equilíbrio ambiental é a base da vida em todas as suas formas.

Se a os governos e os demais responsáveis continuarem a ignorar os alertas científicos, o século XXI poderá ser lembrado não como o século do progresso e da revolução tecnológica, mas como o da derrocada. A luta contra as mudanças climáticas é uma luta pela sobrevivência e pela dignidade das gerações futuras. Cabe à humanidade decidir se será apenas espectadora do colapso que se anuncia.

O relógio do fim do mundo

O Relógio do Fim do Mundo – Doomsday Clock – encontra-se, em outubro de 2025, a apenas 89 segundos da meia-noite – o ponto mais próximo do colapso global registrado desde a sua criação em 1947. Esse alerta, feito pela equipe do Bulletin of the Atomic Scientists, reflete um acúmulo sem precedentes de ameaças globais simultâneas:

  • A intensificação de riscos nucleares devido a conflitos internacionais, nomeadamente a guerra entre Rússia e Ucrânia e a deterioração dos tratados de controle de armas.
  • A crise ambiental, com o agravamento das mudanças climáticas e o registro de 2024 como o ano mais quente já medido.
  • Novos perigos associados a pandemias, ao uso indevido de biotecnologias, à ascensão de tecnologias disruptivas – como a inteligência artificial – e à proliferação de informações falsas que prejudicam a tomada de decisões globais.
  • Persistência de conflitos ativos envolvendo potências nucleares e ausência de iniciativas políticas eficazes para reverter essa situação.

O Relógio funciona como um alerta simbólico e científico: ao atingir 89 segundos para a meia-noite, assinala que o perigo de autodestruição ou catástrofe é extremo e que as ações para evitar uma crise civilizacional têm sido insuficientes.


*Celso Japiassu é autor de Poente (Editora Glaciar, Lisboa, 2022), Dezessete Poemas Noturnos (Alhambra, 1992), O Último Número (Alhambra, 1986), O Itinerário dos Emigrantes (Massao Ohno, 1980), A Região dos Mitos (Folhetim, 1975), A Legião dos Suicidas (Artenova, 1972), Processo Penal (Artenova, 1969) e Texto e a Palha (Edições MP, 1965).

Foto de capa:  bedneyimages/ Freepik

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Uma resposta

  1. Numa enchente, se vc perder a casa, a duras penas pode reconstruí-la e se mudar para uma nova. A pergunta é, se o planeta colapsar, vc muda pra Marte….??????

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