Trump convoca 800 generais e exige lealdade ideológica em ação inédita nos EUA

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O presidente dos EUA, Donald Trump, se reúne com o presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, no Salão Oval da Casa Branca, em Washington (EUA).

Em uma medida inédita na história recente dos Estados Unidos, o presidente Donald Trump e seu secretário da Guerra, Pete Hegseth, reuniram mais de 800 oficiais-generais dos seis ramos das Forças Armadas para apresentar novas diretrizes que buscam alinhar os militares à ideologia direitista do governo. O encontro ocorreu na base dos Fuzileiros Navais em Quantico, na Virgínia, em um cenário montado para remeter ao famoso discurso do general George S. Patton na Segunda Guerra Mundial.

Hegseth foi direto: afirmou que qualquer oficial descontente deveria pedir demissão, numa mensagem de expurgo que já resultou na saída de quase vinte militares de alta patente somente no primeiro ano do segundo mandato de Trump. O secretário também defendeu medidas polêmicas, como a proibição do uso de barbas, a retomada de exercícios físicos diários e de testes de aptidão duas vezes por ano. “É completamente inaceitável ver generais e almirantes gordos nos salões do Pentágono”, disse, provocando críticas e piadas nas redes sociais sobre a forma física do próprio presidente.

Trump, por sua vez, adotou um tom político em seu discurso. Defendeu a ideia de usar cidades americanas consideradas “inseguras” como campos de treinamento militar e afirmou que o país estaria sob “invasão por dentro”, comparando a situação a uma guerra contra um inimigo sem uniforme. Em tom de ameaça, sugeriu que quem discordasse de suas ordens poderia perder patente e carreira. Ao final, recebeu apenas aplausos protocolares.

Expurgos e mudanças

Desde o início do segundo mandato, Trump e Hegseth têm promovido uma ampla substituição no alto comando militar. Entre os afastados estão o general Charles Q. Brown Jr., primeiro negro a chefiar o Estado-Maior Conjunto, e a almirante Lisa Franchetti, primeira mulher a comandar a Marinha. Também foi demitido o general Jeffrey Kruse, chefe de inteligência militar, após contrariar a versão oficial sobre ataques ao programa nuclear iraniano.

Trump chegou a fazer uma declaração considerada constrangedora e racista ao falar sobre armas nucleares. Disse que havia “duas palavras N que não podiam ser usadas”, associando o termo à palavra ofensiva “nigger”, usada de forma pejorativa contra negros.

O governo também retomou políticas que limitam a inclusão e diversidade nas Forças Armadas. Pessoas trans voltaram a ser proibidas de servir, medida já validada pela Suprema Corte. Além disso, temas como mudanças climáticas e gênero foram descartados como prioridade.

Comparações internacionais e simbolismo

Analistas apontam que a tentativa de enquadrar os militares à ideologia presidencial remete ao modelo adotado na Venezuela desde o início do chavismo. A ironia, destacam críticos, é que o regime de Nicolás Maduro é constantemente alvo de ameaças de Trump.

O próprio encontro buscou inspiração cinematográfica: a encenação em Quantico, com a grande bandeira americana ao fundo, reproduziu a cena do filme Patton (1970), e não a realidade histórica do general, um reflexo do estilo performático do trumpismo.

Contradições

Durante seu primeiro mandato, Trump enfrentou forte resistência da cúpula militar. O então chefe do Estado-Maior Conjunto, general Mark Milley, declarou ao se aposentar, em 2023, que os militares não juraram lealdade a um “aspirante a ditador”. Ao voltar ao poder, Trump revogou a proteção legal que impedia represálias contra Milley.

Agora, ao mesmo tempo em que seu governo defende a redução de 20% no número de generais e almirantes de quatro estrelas — equivalente aos postos mais altos —, Trump insiste que quer Forças Armadas maiores. Os EUA, que já detêm quase 40% de todo o gasto militar mundial e o terceiro maior efetivo de soldados (atrás de China e Índia), continuam sendo a maior potência bélica da história.

Imagem destacada: Isac Nóbrega/Fotógrafo Presidência da República 2019

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