Quando o Lar Deixa de Ser Refúgio

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Por EDELBERTO BEHS*

Mulheres com filhos e separadas ou desquitadas são mais propensas a sofrer algum tipo de agressão – física, verbal, emocional – por parte de parceiros ou ex-parceiros. O lar, considerado um lugar seguro, é o maior palco das agressões.

A vitimização de mulheres com filhos (43,8%) é maior do que entre as que não têm filhos (33,7%); divorciadas (60,9%) são mais suscetíveis às agressões do que as solteiras (53%), casadas (44,4%) e viúvas (51,8%). “Isto é, o rompimento pode ser mais um fator de vulnerabilidade”.

É o que constata a pesquisa quantitativa Visível e Invisível, elaborada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública e pelo Instituto Datafolha, que ouviu 1.040 mulheres de 16 anos para mais, de 10 a 14 de fevereiro, em 126 municípios brasileiros de pequeno, médio e grande porte.

Nos últimos 12 meses, considerando o mês de fevereiro como marco da pesquisa, 37,5% das mulheres, o que representa, ao menos, 21,4 milhões de brasileiras de 16 anos ou mais, vivenciaram algum tipo de violência. Esta é a maior prevalência já identificada, desde 2017.

Uma em cada dez mulheres sofreram abuso sexual e/ou foram forçadas a manter relação sexual sem seu consentimento, o que representa cerca de 5,3 milhões de mulheres; 31,4% das brasileiras sofreram ofensas verbais, como insulto, humilhação ou xingamento.

Do universo pesquisado – a margem de erro é de 3,0 pontos para mais ou para menos – 8,9% sofreram lesão por algum objeto que lhes foi atirado, 7,8% sofreram espancamento ou tentativa de estrangulamento, e 6,4% foram ameaçadas com faca ou arma de fogo.

A pesquisa também levantou quantas brasileiras com 16 anos ou mais tiveram fotos ou vídeos íntimos divulgados na internet sem seu consentimento (3,9%), percentual que representa 1,5 milhão de mulheres. Considerando a religião das vítimas, 42,7% das mulheres evangélicas relataram que sofreram alguma forma de violência, índice de 35,1% entre as católicas.

Os principais autores das violências aplicadas às mulheres no ano passado foram o cônjuge, companheiro, namorado, marido (40,0%), e o ex-parceiros (26,8%). Dos casos relatados, 57% responderam que a casa foi o local onde sofreram violência mais grave. A rua aparece com 11,6% dos relatos.

Brasileiras vitimadas no último ano disseram que sofreram violência na presença de terceiros (91,8%). Em 47,3% dos casos a violência foi presenciada por pessoas amigas ou conhecidas; 27% diante de filhos e em 12,4% por outros parentes.

Quanto ao perfil racial, a pesquisa mostrou que 41,7% das mulheres negras relataram ter sofrido violência no último ano; 35,4% entre as brancas e 35,2% entre as pardas. O mais surpreendente é que 47,4% das mulheres agredidas não procuraram qualquer tipo de apoio ou encaminharam denúncia; já 33,8% procuraram familiares e amigas, e 25,7% buscaram órgãos oficiais, como a Delegacia Especializada de Atendimento à Mulher (14,2%).

“Esse é um padrão que se repete desde a primeira edição desta pesquisa, em 2017, e que sugere a persistência de barreiras estruturais, emocionais e institucionais que dificultam a busca de apoio e proteção”, assinala o relatório da pesquisa.

Parceiros chegam até mesmo à chantagem emocional; 16,4% afirmaram que o parceiro íntimo ou ex-parceiro ameaçou se suicidar por estar triste ou chateado com ela; 10% relataram que foram impedidas de ter o seu próprio dinheiro e 17,1% disseram que o parceiro pediu que deixassem de trabalhar ou estudar fora de casa por ciúmes.

O percentual de mulheres brasileiras com 16 anos ou mais que sofreram algum tipo de agressão (32,4%) é superior ao percentual levantado pela Organização Mundial da Saúde, que realizou estudos em 161 países entre os anos de 2000 e 2018, concluindo que 27% das mulheres com idade entre 15 e 49 anos experimentaram violência física ou sexual provocada por parceiro ou ex-parceiro íntimo ao longo da vida.


*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa: Reprodução

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