Por ANGELO CAVALCANTE*
A língua portuguesa, como diz Caetano Veloso, “não é pátria, é mátria”.
É que de tão fértil, viva, intensa e fecunda vai traduzindo, revelando amiúde o que as coisas são ou deixam de ser.
Tomemos como exemplo a ignóbil, vergonhosa e recentemente aprovada “PEC da Blindagem”; elevada por uma Câmara dos Deputados dominada, garroteada por maioria bolsonarista e como de costume, sedenta por benesses, proteção e privilégios.
Isso – a PEC da Blindagem – ora, é uma legislação sui generis e que, em seu geral, protege, resguarda todos os deputados federais e presidentes de partidos de qualquer tipo de crime, delito ou contravenção ainda que tais atos estejam repletos de testemunhas, que tenham sido filmados, documentados e apresentados devidamente às autoridades judiciárias.
É inacreditável!
Nossa boa língua portuguesa, quente, poética e ferina não deixa por menos e parte para ressignificar essa lei infame.
E começa: “PEC do PCC”, “PEC do narcotráfico”, “PEC do narco-Estado”, “PEC da bandidagem” e segue…
A esse respeito, o espanto, o escândalo e a comoção foram gerais e como consequência, as ruas estão sendo preparadas para arder!
É nesse contexto que ensaio algo e que, ao menos para mim, está posto e estabelecido, o que seja, a incapacidade do assim dito, Estado Democrático e de Direito de relacionar-se devida e adequadamente com as “ollas”, as ondas neofascistas e que sacodem o país.
Democracia frágil, sempre frágil, com amplo e largo histórico de golpes e atentados outros contra sua realização e permanência vê-se atualmente ante a incursões intermitentes e criminosas do fascismo e que, de todas as formas, opera por desmantelar esse delicado circuito social e político e que tratamos por democracia.
A citada “PEC da Blindagem” é apenas uma expressão desse extenso movimento e que assumidamente opera em favor de rupturas, golpes e mesmo da implantação de uma ditadura de direita ou extrema direita no Brasil.
O que, por fim, se verifica é a necessidade de uma tipificação distinta do fascismo e dos movimentos que cria e recria. Dessa nova e enérgica forma de relacionamento repousa o próprio futuro do país.
Por fim, um fascista operando não é um delinquente portando navalha e que rouba aposentados na praça central; não é um estelionatário e que vende loteamentos na lua; da mesma forma, não é um político malandro e que, com as verbas de gabinete, faz esquema com o dono do posto de gasolina.
O fascista quando faz política transpira ácido sulfúrico. Esse indivíduo mira na destruição de toda a vida social, de todos os laços humanos e que coesionam o cotidiano e o trabalho; a ação política do fascista é incendiar tudo o que é justo, razoável e moderno.
É a besta do tempo operando e que tem que ser barrada, empatada, obstruída ou tudo o que há perece!
*Angelo Cavalcante é economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), Itumbiara.
E-mail : angelo.cavalcante@ueg.br
Foto de capa: © Kayo Magalhaes/Câmara dos deputados




