Por BENEDITO TADEU CÉSAR*
Na passagem simbólica deste 7 de setembro de 2025, data em que o Brasil deveria celebrar a sua Independência enquanto expressão máxima da democracia republicana, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, protagonizou um momento que vai além da política: foi uma declaração de alinhamento irreversível com o bolsonarismo mais radical — um gesto que rasgou de vez a fantasia de um centro moderado.
O discurso na Avenida Paulista: ruptura declarada com o Judiciário e a democracia
Em um ato realizado por apoiadores do ex-presidente Jair Bolsonaro, Tarcísio ergueu, em plena Avenida Paulista, a bandeira da radicalização. Ele questionou a existência de provas — chegando a dizer que “não acredita em elementos para [Bolsonaro] ser condenado” —, alimentando uma narrativa de perseguição judicial e deslegitimando as instituições do Estado de direito.
Ainda mais explícito foi o ataque ao ministro Alexandre de Moraes, rotulado de “tirano” e alvo de gritos de “Fora Moraes” por parte da plateia. Isso não foi mero efeito de palco: era a essência da ruptura. A retórica passou à ação com um ultimato claro ao presidente da Câmara dos Deputados para pautar imediatamente o projeto de anistia ampla e irrestrita, proposta apresentada como “reparação da liberdade”.
Anistia: retomada histórica, democracia em risco
A defesa de anistia total e irrrestrita para os envolvidos nos atos golpistas — com extensão ao próprio Bolsonaro — revela uma intenção estratégica de invalidar a justiça e preservar o bolsonarismo em ascensão. Tarcísio refaz deliberadamente o paralelo com 1979, último suspiro da ditadura militar, ao chamar o atual processo de “maculado” e “viciado”, evocando a agenda da anistia como caminho para remediar injustiças — uma inversão flagrante da justiça pela conveniência política.
Tarcísio abandonou e salgou o terreno do centro
Tarcísio de Freitas não apenas abandonou o terreno do centro — ele o incendiou e jogou sal em cima. O gesto de associar-se, em pleno feriado cívico, às vozes que desafiam a legalidade, anulam instituições e pedem impunidade, simboliza uma estratégia política ousada e profundamente antidemocrática. Essa escolha não é retórica: é um posicionamento público e irreversível.
O Brasil, em sua busca por justiça social, soberania e democracia consolidada, não pode ignorar esse salto rumo à radicalização. A “fantasia” desfeita hoje revela um projeto de poder que tensiona os fundamentos da República. Há de se resistir à erosão da normalidade institucional, com clareza e responsabilidade cívica.
*Benedito Tadeu César é cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em democracia, poder e soberania, integra a Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e é diretor da RED.
Ilustração da capa: Tarcísio de Freitas tira a máscara – Imagem gerada por IA ChatGPT
Tags: Tarcísio de Freitas, 7 de Setembro, bolsonarismo, anistia ampla, ataques ao STF, Alexandre de Moraes, democracia, radicalização política.





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