Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
A condenação do ex-presidente Jair Bolsonaro ao final do julgamento que começa nesta terça-feira (2) na Primeira Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) é coisa líquida e certa. A essa altura, mesmo o próprio Bolsonaro já não tem esperança de uma sentença diferente. No máximo, o que ele acalenta é a possibilidade de uma pena menor que a máxima. Seu maior otimismo abraça-se a uma hipótese de prisão domiciliar por conta da idade e da saúde – mas mesmo isso é considerado improvável. Diante disso, já não seria exagero se falar um pós-Bolsonaro. Para onde irá a onda de direita que ele começou a erguer com sua eleição em 2018? Para ajudar nessas respostas, o Correio Político ouviu o cientista político Isaac Jordão.
Tamanho
Para Jordão, como ficará o tamanho da liderança de Bolsonaro após a condenação e a prisão é uma coisa ainda nebulosa. As pesquisas indicam a força do ex-presidente sobre uma massa de eleitores hoje de pelo menos 30%. Mas, sem ele, para onde esses eleitores iriam?
Direita
Esses eleitores hoje votam em Bolsonaro ou votam em qualquer candidato de direita com perfil semelhante? O que eles considerariam um perfil semelhante? O definidor, nesse caso, será o aval de Bolsonaro, a benção do ex-presidente? A sua clara indicação?
Se controlar timing, Bolsonaro define segundo turno

Prisão domiciliar já teria silenciado Bolsonaro | Foto: Fabio Rodrigues-Pozzebom/ Agência Brasil
Para Isaac Jordão, se Jair Bolsonaro for capaz de controlar o timing do momento da sua benção, o ex-presidente poderá ser o definidor do segundo turno em 2026. “O que parece certo, pelo cenário de hoje, é que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva estará no segundo turno”, diz o cientista político. Em 2018, mesmo preso, avalia Jordão, Lula conseguiu controlar o tempo da indicação de Fernando Haddad como seu candidato. Conseguiu levar Haddad ao segundo turno com Bolsonaro. Mas Haddad perdeu a eleição no final. Para alguns, no caso o timing teria sido longo demais: dificultou a construção da candidatura de Haddad.
Lula
Em 2018, Lula conseguiu manter mobilizado um grupo de militantes em frente à sua cela na Polícia Federal em Curitiba. E interlocutores que o visitavam ajudavam a fazer a intermediação. Bolsonaro terá a mesma capacidade? Talvez dependa de onde ficará preso.
Domiciliar
Isaac Jordão observa que mesmo a prisão domiciliar agora já teria diminuído um pouco a capacidade de liderança de Bolsonaro. Mas ele ainda existe. E os candidatos do campo da direita, especialmente o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, esperam isso.
Abril
Um momento crucial será o mês de abri, prazo para desincompatibilização de outros cargos. Momento em que Tarcísio terá de definir se deixa o governo de São Paulo para arriscar a candidatura à Presidência ou se tentará a reeleição. Bolsonaro consegue levar seu tempo até lá.
Férias
Em um país em crise permanente, é impossível prever o melhor momento para tirar férias. Desde o início do ano, nos organizamos para tirar as nossas agora. De longe, porém, vamos acompanhar o desfecho do destino do país. Para novas análises em um mês. Até lá!
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Bolsonaro pode passar por presídio |Lula Marques/Agência Brasil




