Trump, um governante narcisista e infantil

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Por EDELBERTO BEHS*

“Você é um puta mentiroso”. Com essa constatação de John Dowd, a respeito do presidente dos Estados Unidos, termina o livro de 397 páginas do jornalista Bob Woodward – “Medo – Trump na Casa Branca” –, no qual traz análises e informações sobre o primeiro mandato de Donald na presidência estadunidense.

Dowd foi o advogado contratado por Trump a 100 mil dólares mensais (cerca de 540 mil) para defendê-lo na investigação sobre a Rússia, iniciada pelo procurador especial Robert Mueller, em Washington. Dowd, então com 47 anos de profissão, era um dos advogados mais reconhecidos na defesa de acusados de cometerem crime de colarinho branco.

Ele não foi o único a enxergar em Trump um sujeito despreparado para o exercício da presidência. O rol inclui pessoas que trabalharam com Trump na Casa Branca no primeiro mandato. “Ele é um idiota. É perda de tempo tentar convencê-lo de qualquer coisa. Ele saiu dos trilhos. Isso aqui virou maluquice completa”, disse numa reunião com poucas pessoas o general John Francis Kelly, chefe de Gabinete da Casa Branca de 31 de julho de 2017 a 2 de janeiro de 2019. O mesmo conceito foi manifesto pelo secretário de Estado, Rex Wayne Tillerson.

Antes do general Herbert Raymond McMaster, coordenador do Conselho de Segurança Nacional, reunir-se com Trump na residência em Mar-a-Lago, o assessor político do presidente, Stephen Kevin “Steve” Bannon aconselhou-o a não dar aulas a Trump. Ele não gosta de intelectuais. É um sujeito que “nunca foi a uma sala de aula. Nunca consultou uma apostila. Nunca tomou nota de nada. Nunca assistiu a uma palestra.”

O major general James Mattis, secretário de Defesa até sua renúncia, em dezembro de 2018 por divergências com o presidente, estava abalado com o estilo impulsivo com que Trump tomava decisões. O chefe de Gabinete nos primeiros seis meses na Casa Branca, o advogado Reinhold Richard “Reince” Priebus concluiu que “o presidente tem zero habilidade psicológica para qualquer tipo de empatia ou piedade”.

Ele também empreendeu esforços, junto com outro colega, para convencer Trump a usar menos o Twitter, o que, claro, ele não aceitou, tanto que se achava o “Ernest Hemingway dos 140 caracteres”. “É assim que eu sou. Foi isso que me elegeu. É meu megafone. É assim que falo com as pessoas sem nenhum filtro. Elimino o ruído. Elimino as notícias falsas. É o único jeito que tenho de me comunicar”. (Mas ele próprio é o ruído!)

Trump era um aficionado telespectador, tanto que começava a trabalhar lá pelas 11h da manhã, depois de assistir o noticiário e colunistas da televisão, tanto os da Fox News, que o bajulavam, como os seus críticos, que apareciam nas telas da CNN e em jornais. Ele chegava a ficar de seis a oito horas diante da TV.

“Os assuntos de que o presidente trataria de manhã, normalmente tinham a ver com o que vira na televisão, especialmente na Fox News, ou com alguma coisa publicada nos jornais, que lia com mais atenção do que o público em geral imaginava”, descreve Woodward. “Ele vivia avaliando a si mesmo. Na maioria das vezes as avaliações eram apaixonadamente positivas”.

Mattis admitiu que Trump era um bom ouvinte, desde que não se tocasse em uma de suas áreas mais sensíveis, a imigração e a imprensa. Se tocar numa delas, ele pode sair pela tangente e não voltar por muito tempo. Também era notória a capacidade do presidente solicitar de sua equipe uma medida hoje e dois dias depois voltar atrás. Tudo era provisório.

Bannon estava convencido de que Trump se sentia atordoado. “Ele não tinha ideia de que ia ganhar”, disse mais tarde. “E não se preparou”, e não teve equipe de transição. Em conversa com um interlocutor, Bannon chegou a dizer que foi “a mão de Deus” que elegeu Trump. “Alguma dúvida de que a Providência divina trabalhou para que Trump ganhasse?”

Fato é que a eleição de Trump reacendeu a divisão no país. “Havia uma relação mais hostil com a mídia. As guerras culturais ganharam força. O racismo se expressava. Trump estimulara aquilo”, anota o Woodward. (Alguma diferença com o período do capitão na presidência do Brasil?)

O presidente enfatizava que “o verdadeiro poder era o medo”. Talvez por insegurança. Como constatou o jornalista do Washington Post, “lamúrias eram parte importante da sua identidade, algo muito similar a um menino de catorze anos que julgasse que os outros estavam pegando no seu pé de forma injustificada. Não é possível conversar com ele seguindo uma lógica adulta. Era necessário apelar para uma lógica adolescente”.

Pelo visto, Trump não cresceu ao assumir o segundo mandato.


*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa: Creative Commons

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