Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Durante o período em que foi interventor na área de segurança do Distrito Federal, o presidente da Agência Brasileira de Desenvolvimento Industrial (ABDI), Ricardo Capelli, por mais de uma vez perguntou aos policiais militares por que razão eles não foram capazes de conter a turba que invadiu as sedes da República no dia 8 de janeiro. “Vocês já controlaram manifestações de 20 mil, 30 mil pessoas. Por que naquele dia não conseguiram conter entre 4 e 5 mil?”, questionou. A primeira razão é a admissão de que, de propósito pelos comandantes ou não, não houve coordenação. Mas a segunda razão, repetida várias vezes, é de que havia muita gente muito bem treinada infiltrada, sabendo muito bem o que estava fazendo.
Não espontâneo
Essa informação demole, considera Capelli, qualquer sustentação de que as invasões teriam sido uma eventual descontrole espontâneo. Ainda que parte ali tenha sido massa de manobra, o plano teria sido, sim, invadir e ocupar os prédios da República para criar uma situação.
Sem anistia
Assim, com a autoridade de quem comandou todo o processo após a invasão, Capelli rebate a ideia de que fosse algo justo propor uma anistia, ainda que restrita àqueles que naquele dia não depredaram órgãos públicos nem cometeram atos de violência.
STF celebrou 102 acordos para reduzir penas mais leves

Havia profissionais infiltrados conduzindo as invasões | Foto: Jose Cruz/Agência Brasil
Capelli lembra que, ao contrário do que muitos dizem, o Supremo Tribunal Federal celebrou 102 acordos de persecução para reduzir penas de quem cometeu no dia 8 de janeiro delitos mais leves. E ofereceu a vários também a possibilidade de acordo, e muitos não aceitaram. Mas, para além disso, Ricardo Capelli considera que o Brasil perderá uma imensa chance de virar uma página da história caso repita os mesmos erros do passado de perdoar atos como o que se tentou no Brasil. “Mais de uma vez perdoamos no Brasil tentativas de golpe para que os mesmos atores viessem a ser os protagonistas da tentativa de golpe seguinte”, disse.
JK
Defensor da ideia de uma anistia restrita, como registrou a coluna na segunda-feira (25), o deputado Luiz Carlos Hauly (Podemos-PR) citou como exemplo o que fez Juscelino Kubitschek com os que tentaram impedir sua posse e demovê-lo do poder.
1964
Segundo Capelli, esse é o melhor exemplo do que a história mostra que não se deve fazer. Quatro anos depois, aqueles que foram perdoados por JK estavam à frente da trama que levou ao golpe militar de 1964. Ensaios de golpe dão errado até o momento em que dão certo.
Argentina
Por conta de acertos semelhantes no passado, o Brasil acabou não fazendo o que fez, por exemplo, a Argentina. Exibido esta semana na televisão, o filme “Argentina, 1985”, sobre o julgamento do ex-presidente na ditadura militar Jorge Rafael Videla, mostra bem isso.
Chile
O mesmo houve no Chile. Enfim, uma tendência brasileira de fazer acordos, num estilo “O Leopardo”, de “é preciso que tudo mude para que tudo permaneça como está”, faz com que muitas vezes nossa história não avance. Para Capelli, temos essa chance agora.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Capelli em almoço na Casa Correio da Manhã | Rudolfo Lago/Correio da Manhã




