Por LÉA MARIA AARÃO REIS*
Depois de seis meses da estreia nos cinemas, o longo filme ganhador do Oscar desse ano, O Brutalista, acaba de chegar ao streaming. Já tardava a sua entrada nos catálogos de plataformas. Mesmo com o intervalo de quinze minutos entre a primeira e segunda parte praticado nos cinemas, assistir a obra do diretor norteamericano Brady Corbet em casa é mais convidativo para os espectadores curiosos de conhecerem a história épica de um imigrante arquiteto húngaro nos Estados Unidos, aguardada desde fevereiro. O filme dura três horas e 45 minutos.
Quando The Brutalist estreou, após ganhar o Oscar de Melhor Ator com o trabalho do protagonista, Adrien Brody, e de ter sido um dos mais fortes indicados a Melhor Filme do ano, essa curiosa coprodução dos Estados Unidos, Reino Unido e Hungria é um drama que percorre a trajetória de um arquiteto húngaro, László Tóth, fugido da guerra na Europa na década dos anos 40, em busca de refúgio nos Estados Unidos, no ‘sonho americano’, como ocorreu com milhares de outros europeus, na época; grande parte deles, de origem judáica como o personagem Tóth.
The Brutalist também foi escolhido Leão de Ouro em Veneza, em 2024, foi apontado como um dos melhores filmes daquele ano pelo American Film Institute e recebeu nada menos que sete indicações para o Globo de Ouro.
O roteiro não é inspirado em qualquer livro. Trata-se de um recorte das experiências familiares do próprio ator Adrien Brody e do diretor Corbet, que teve a atriz norueguesa Mona Fastvold, sua companheira, como coroteirista. Uma trajetória semelhante às vividas pelos milhares de imigrantes que chegavam a Nova Iorque em 1947, grande parte deles fugidos do Holocausto, procurando segurança e precisando reencetar suas vidas profissionais.
Logo no início do prólogo, a advertência do que está por vir, no filme: a imagem da Estátua da Liberdade vista de cabeça para baixo na visão do arquiteto imigrante, à espera de desembarcar, e olhando para cima, ainda no porão do navio.
The Brutalist é dividido em três partes. A primeira, O enigma da chegada. A segunda, O núcleo duro da beleza (o mais admirável do ponto de vista plástico, com cenário da cidade de Carrara e suas montanhas recobertas de um mármore extraordinário), e a terceira, o epílogo intitulado A Primeira Bienal de Arquitetura de 1980.
Para além da odisseia do arquiteto Tóth, da sua angustiada espera da companheira que ficou para trás, em um campo de concentração, em Budapest; para além de se tornar o protegido de um milionário, Harrison van Buren, interpretado pelo ator Guy Pearce, e de acabar conhecido como uma das principais referências profissionais da arquitetura do seu tempo, para além desses sub temas, uma das duas principais atrações do filme são as imagens da bela arquitetura de estilo brutalista, de edifícios e monumentos com as digitais da escola alemã do Bauhaus que revolucionou o design moderno e contemporâneo com sua funcionalidade e simplicidade de formas. Como detalhe: a mesma arquitetura brutalista que reverberou com força nos trópicos do Brasil de Corbusier, com Mies van der Hoe, Breuer, com a Brasília de Niemeyer e com Phillip Johnson.
Várias das sequências de prédios e monumentos brutalistas são fascinantes, mesmo que algumas delas supostamente tenham sido produzidas por inteligência artificial, motivo de reprovação de alguns críticos cinematográficos, mas contestadas pelos autores.
A outra atração que permeia O Brutalista é o detalhamento da complexa relação já mencionada, desenvolvida entre o empresário da Pensilvânia, alguém que ‘’apenas pensa em vender, que só pensa em dinheiro’’, como se observa em um diálogo de Tóth sobre o seu primo, imigrante como ele próprio, porém já adaptado à cultura capitalista. O monumental trabalho do arquiteto só seguirá em frente se financiado pelo ricaço que o volta e meia o humilha, mas que, ele também, é fascinado pelo talento do artista.
E há uma terceira abordagem que alfineta o filme; e não é levada adiante: a questão das multidões de imigrantes que chegavam nos anos 40/50. ‘’Eles não nos querem aqui’’, diz um personagem. Mas esse viés acaba não sendo detalhado.
O Brutalista pertence àquela dinastia autora da história do cinema clássico de Hollywood, a Era de Ouro que perdurou até o século passado. É uma curiosidade que vale a pena ser assistida por quem ainda vive, hoje, em um compasso de tempo mais pausado, do passado. E também pelo que é mostrado da esplêndida beleza da arquitetura brutalista e sua celebração dos espaços, dos movimentos da luz e do que é essencial.
*O Brutalista pode ser assistido no Prime Vídeo e na Apple TV.
*Léa Maria Aarão Reis é jornalista.
Foto de capa: Divulgação





Respostas de 4
Bom saber que chegou em casa. Então arquitetura boa história e grande elenco. Adorei a dica pro final de semana.
Típico filme pseudointelectual, tenta passar uma aura crua de relacionamentos, fazendo um paralelo com as linhas retas da arquitetura. Apesar do esforço do ator ele repete a mesma performance do ” Pianista”, lento e chato, nem a presença de Guy Pearce salva. Fuja !
Muito bom o filme é uma metáfora do arquiteto e o investidor capitalista que são absorvidos pelo cimento armado , que é o cimento bruto
É bem lento, mas as cenas prendem a atenção para o próximo ato. Achei bem interessante!