Brasília, Gaza e as Peripécias Internacionais: Uma Crônica da Realidade que Assusta

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Fome e genocídio em Gaza - Imagem gerada por IA ChatGPT

Por CASTIGAT RIDENS*

I. Genocídio declarado — e com retórica afiada

Em vez de modismos, Lula optou pela coragem: chamou o que ocorre em Gaza de genocídio, não “guerra com efeitos colaterais”. Uma denúncia que não se limita ao discurso — é ato político e ética, típica da democracia que ainda insiste em ser. Resultado? Israel fez seu teatro: declarou Lula persona non grata, pausou a cordialidade e esqueceu o sotaque brasileiro de vez.

II. O Brasil rebate — e se afasta com dignidade

De forma clara e firme, o Itamaraty lembrou que 63 mil palestinos já caíram nesse ciclo de violência, muitos deles mulheres e crianças, com fome usada como arma de guerra. As “ofensas, inverdades e grosserias inaceitáveis” proferidas por Israel Katz (ministro das Relações Exteriores de Israel, figura central do Likud e aliado histórico de Netanyahu) viraram pretexto — para que o Brasil continuasse seu caminho, alinhado ao que há de civilidade internacional.

III. Agrément negado e diplomatas retirados — o lacre final da crise

O Itamaraty não precisou gritar para mostrar firmeza: simplesmente não concedeu o agrément ao embaixador indicado por Benjamin Netanyahu. Em resposta, Israel retirou seu próprio embaixador de Brasília, deixando a relação bilateral no modo “ponto morto” — sem rompimento formal, mas sem fluxo político digno desse nome. O Brasil manteve sua representação, com chargé d’affaires, como quem lembra: diplomacia é diálogo, mas não submissão.

IV. Protestos em Israel — crises internas, ecos de Gaza

Enquanto Lula e Brasília seguram a civilidade, do outro lado do globo israelenses estão em trânsitos de revolta civil:

  • Na terça-feira, 26 de agosto de 2025, um “Day of Disruption” parou estradas, mobilizou manifestantes em Tel Aviv e Jerusalém e pediu — pasme — cessar-fogo imediato e liberação dos reféns. Foi organizado por famílias dos sequestrados em Gaza e capturou a exasperação popular contra um governo que aposta na escalada da violência.
  • No começo de agosto, mais de 100 mil pessoas lotaram as ruas de Tel Aviv em protesto contra a nova ofensiva planejada, clamando por paz e pelo cessar fogo — um claro sinal de que a sociedade civil está exasperada com o caos.
  • No último domingo, 24 de agosto de 2025, o The Gardian estimou em 500 mil pessoas a multidão que tomou as ruas de Tel Aviv para pedir fim à guerra de Israel em Gaza e a libertação dos reféns (veja no vídeo abaixo).

Essas mobilizações, em escala e intensidade, lembram as Diretas Já no Brasil dos anos 1980: multidões que, diante de um governo moralmente falido, tomam as ruas para exigir dignidade. Assim como lá, agora em Israel, o povo demonstra que não precisa de autorização para pedir o óbvio: o fim da barbárie.

V. Criticar Netanyahu não é antissemitismo

E aqui está o truque mais perverso da retórica conservadora: tentar carimbar como antissemitismo qualquer crítica à política genocida de Benjamin Netanyahu, primeiro-ministro de Israel. Confundir o Estado de Israel com a humanidade judaica é expediente cínico. Lula, ao denunciar o genocídio, não atacou judeus, nem a existência de Israel. Apenas fez o óbvio: recusou compactuar com o extermínio de inocentes.

Ser contra Netanyahu não é ser antissemita. Nem anti-Israel. É, no fundo, um ato de humanidade mínima. É não fechar os olhos diante de crianças bombardeadas e famílias inteiras soterradas. É estar do lado da vida — e, ironicamente, do lado de muitos israelenses que hoje gritam nas ruas por paz e dignidade.


O que está em jogo (com ironia e aplauso contido)

  • Brasil toma a frente da dignidade — desafia, nomeia, não se curva a chantagens diplomáticas.
  • A memória do Holocausto como escudo falho — o mundo sabe que memória não pode servir de muro moral para encobrir genocídio.
  • Israel, dividido e vulnerável — o próprio povo sai às ruas, cobrando o fim da guerra e resgates de reféns.
  • Lula no alvo das ofensas — mas firme em um princípio simples: criticar Netanyahu não é odiar judeus, é apenas recusar ser cúmplice da barbárie.

*Castigat Ridens é uma abreviação da expressão latina “Castigat ridendo mores”, que significa “corrige os costumes rindo” — ou critica a sociedade pelo riso, lembrando que, às vezes, rir é a forma mais alta de coragem.

PS – Por sugestão de leitores, o autor modificou o título deste artigo, retirando a palavra “irônica” da expressão “crônica irônica”, que constava na versão original.

Ilustração da capa: Fome e genocídio em Gaza – Imagem gerada por IA ChatGPT


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