Da REDAÇÃO
Morreu neste domingo, no Rio de Janeiro, o cartunista Sérgio de Magalhães Gomes Jaguaribe, o Jaguar, aos 93 anos. Internado há três semanas com pneumonia, deixou a mulher e uma filha. Foi um dos idealizadores e alma do semanário O Pasquim, símbolo da irreverência e resistência política durante a ditadura militar no Brasil.
Início discreto, talento notório
Jaguar nasceu em 29 de fevereiro de 1932, no Rio de Janeiro. Começou a carreira em 1952 como desenhista de charges na revista Manchete, sob influência do cartunista Borjalo, que o ajudou a adotar o pseudônimo Jaguar. Na época, conciliava o trabalho no Banco do Brasil com sua veia humorística.
Nos anos 1960, destacou-se como um dos principais cartunistas da revista Senhor e colaborou em publicações como Pif-Paf, Revista da Semana, Última Hora e Tribuna da Imprensa. Em 1968 lançou o livro “Átila, você é bárbaro”, cujo humor mordaz criticava a ignorância e a violência social daquela época.
O Pasquim e a criação de um símbolo
Em 1969, junto a Tarso de Castro e Sérgio Cabral, fundou o semanário O Pasquim—nome sugerido por Jaguar com ironia, significando “jornal injurioso”, buscando antecipar críticas ao jornal.
A publicação rapidamente se tornou um marco da oposição ao regime militar, misturando humor, crítica social, política e costumes, com linguagem coloquial e anárquica. Em pouco tempo, sua tiragem saltou de 28 mil para mais de 200 mil exemplares semanais.
Jaguar ainda criou o símbolo icônico do jornal: o ratinho Sig, inspirado em Sigmund Freud, que ilustrava o espírito irreverente da publicação.
Censura, ataques e prisão
O Pasquim enfrentou dura repressão. Em 1970, Jaguar e grande parte da redação foram presos após publicarem uma charge iconoclasta sobre “O Grito do Ipiranga”. Mesmo na cadeia, o jornal seguiu nas bancas com a colaboração de nomes como Chico Buarque, Glauber Rocha e Rubem Fonseca. Jaguar passou cerca de três meses preso, sendo libertado apenas no Réveillon de 1970.
O jornal também foi alvo de ataques violentos: sofreu atentados a bomba que destruíram a sede em Botafogo e ameaçaram vidas.
A censura se intensificou com o chamado “Decreto Leila Diniz” em 1970, decretando censura prévia a veículos que publicassem conteúdo considerado “subversivo” ou imoral. A entrevista de Leila Diniz no Pasquim—polêmica, com palavrões e defesa da contracultura—fez daquele número o terceiro mais vendido do jornal e precipitou a medida.
Uma imprensa marginal que cresceu com o Pasquim
O Pasquim e Jaguar foram peças-chave no surgimento e consolidação da chamada imprensa “nanica” durante a ditadura militar. Em meio à censura oficial imposta aos grandes jornais, pequenos veículos independentes passaram a circular com propostas editoriais alternativas e combativas. Inspirados pelo humor, ousadia e independência editorial do Pasquim, surgiram títulos como Movimento, Opinião, Em Tempo e Versus, de circulação nacional, que buscaram dialogar com setores da sociedade civil ignorados pela mídia tradicional. Além desses, em praticamente todos os estados da federação surgiram veículos independentes e críticos à ditadura, como o Coojornal, em Porto Alegre, e o Posição, em Vitória. A atuação desses jornais foi fundamental para manter vivo o debate público e denunciar os abusos do regime, mesmo sob forte repressão.
Legado duradouro
Enquanto os demais fundadores deixaram a equipe, Jaguar permaneceu até o fim da publicação em novembro de 1991, simbolizando uma fidelidade admirável ao projeto.
O Pasquim é lembrado como pré-história da imprensa alternativa no Brasil — um agente de transformação no jornalismo e saudação à democracia. A irreverência de Jaguar continua a inspirar gerações de humoristas e jornalistas.
O cartunista Jaguar sai de cena, mas seu traço ácido, irreverente e resistente segue firme. Nas páginas do Pasquim, ele ajudou a desmontar o regime do medo com risadas e traços decisivos. Seu legado permanece pulsante no humor político brasileiro.
Ilustração da capa: Página do Pasquim
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Jaguar, cartunista, O Pasquim, censura, ditadura militar, imprensa alternativa, humor político





Respostas de 3
Jaguar era para mim uma figura simpática até eu ler que foi o Pasquim que publicou matéria dando conta que Wilson Simonal seria “dedo duro” e colaborador do Regime Militar, sem a devida apuração, o que jogou a carreira e a vida do cantor e showman na sarjeta. A materia do Pasquim acabou com Wilson Simonal em doses homeopáticas e requinte de crueldade. Jaguar pode ter deixado um legado de resistência e irreverência para muitos, mas para mim, fica o de ter destruído a vida de um homem que deu muito duro para vencer na vida. Wilson Simonal, presente!
Besteira! Simonal nao era o babaca inocente que pintaram no documentário! Só que sucumbiu por ter sido um burguesinho de merda!
Valter, como é que você sabe que o Simonal não era dedo-duro? Acreditou num filme que a Globo fez? As versões da Globo são sempre suspeitas. A história que eu li foi que ele usou os contatos que tinha na comunidade de informações e repressão da ditadura para que eles torturassem um contador que ele achava que o estava roubando. O que pensar de uma pessoa que tem amizades no DOI-CODI?