O delírio histórico de Tiago Simon

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Deputado Estadual Tiago Simon MDB/RS - Crédito Raul Pereira/ALRS

Por CASTIGAT RIDENS*

A genealogia do desatino

Na tribuna da Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, o deputado estadual Tiago Simon (MDB) decidiu exercitar a oratória em sua versão mais trágico-cômica. Filho e herdeiro político do ex-senador Pedro Simon, escolheu transformar o plenário em palco de um espetáculo que beira a alucinação histórica. Comparar o Brasil de 2025 à ascensão do nazismo nos anos 1930 não é apenas distorção — é quase um atentado pedagógico contra a memória.

Ao atacar o ministro Alexandre de Moraes com uma retórica inflamável, Simon aderiu ao repertório pronto da extrema-direita bolsonarista: a invenção do “tirano togado”, o espantalho da “ditadura judicial” e a velha desculpa para relativizar ataques reais às instituições. O truque é conhecido: finge-se indignação com a toga para escamotear a conivência com a farda.

A história que não se aprende

Simon parece ignorar que foi justamente a complacência institucional com o extremismo, na República de Weimar, que abriu caminho para Hitler. No Brasil recente, com todos os problemas e críticas que cabem ao STF, foi a Corte que ergueu a última trincheira contra o autoritarismo bolsonarista. Não por virtude divina, mas por pura necessidade histórica.

Mas o deputado insiste em comparar Moraes a tiranos, evocando Churchill como se estivesse num comício universitário mal ensaiado. O detalhe é que Churchill, ao menos, sabia o que estava dizendo. Simon, não.

A herança que pesa

Não é novidade ver parlamentares de direita flertando com a retórica do “estado de exceção” para fugir ao compromisso democrático. Mas quando isso vem de alguém que carrega o sobrenome Simon, o constrangimento ganha outra dimensão. Há nomes que evocam uma história de defesa da legalidade; há filhos que parecem empenhados em rasurá-la.

O registro original

A seguir, a reprodução integral da coluna de Henrique Ternus, publicada em 6 de agosto de 2025 no portal GZH:


Alucinação histórica
Deputado gaúcho compara Brasil de hoje à ascensão de Hitler na Alemanha nazista

Tiago Simon (MDB) fez duras críticas ao ministro Alexandre de Moraes e disse que “não adianta buscar conciliação com tiranos”

Henrique Ternus

Ao discursar na tribuna da Assembleia Legislativa, o deputado estadual Tiago Simon (MDB) fez duras críticas ao ministro do STF Alexandre de Moraes. O parlamentar comemorou o fato de que o Senado está perto de recolher as assinaturas necessárias para abrir um processo de impeachment de Xandão.

Para o deputado, filho mais velho do ex-senador Pedro Simon, o Brasil vive uma crise institucional, moral e civilizatória, marcada por uma “escalada autoritária” promovida por Moraes. Ele denunciou o que chamou de relativização de direitos e a supressão da liberdade de expressão.

— A retirada de Alexandre de Moraes não é um capricho político. O Brasil já cruzou a linha do arbítrio institucionalizado e a retomada da normalidade democrática vai demandar mais do que uma conduta apaziguadora — criticou.

Durante o discurso, Simon afirmou que não é possível “fingir que há uma normalidade das instituições” nem que há “plena liberdade institucional”. O deputado denunciou uma suposta perseguição a opositores políticos, acusando o STF de agir como um partido e o Legislativo federal de ter se “apequenado”.

Ao citar a necessidade de se retomar a democracia “com firmeza”, Tiago Simon comparou o cenário atual do Brasil à ascensão da Alemanha Nazista — o que posteriormente motivou o início da Segunda Guerra Mundial.

— Não adianta buscar a conciliação com os tiranos. A leniência com o autoritarismo só faz retardar o colapso. Quando a Alemanha se agigantava com o nazismo, Churchill se levantou com uma voz dissonante, dizendo que não haveria como ter concessão com a tirania. Há uma frase conhecida dele, que entre a guerra e a desonra, escolhemos a desonra e ganharemos a guerra. Moraes caminha para o isolamento. Alexandre de Moraes cometeu uma ruptura constitucional e vai pagar por isso, porque soberano é o povo — discursou.

Ao final, Simon reforçou que não defende os atos de 8 de Janeiro nem a conduta do deputado Eduardo Bolsonaro — que pressionou o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, para impor sanções ao Brasil, e enquadrar Moraes na Lei Magnistky —, mas cobrou respeito ao rito legal e à separação entre os Poderes.

*Castigat Ridens é uma abreviação da expressão latina “Castigat ridendo mores” que significa “corrige os costumes rindo” ou “critica a sociedade pelo riso”, muito usada no contexto da comédia como instrumento de crítica social.

Foto da capa: Deputado Estadual Tiago Simon MDB/RS – Crédito Raul Pereira/ALRS


Tags: Tiago Simon, Assembleia Legislativa RS, Alexandre de Moraes, STF, democracia, extrema-direita, Pedro Simon, negacionismo histórico, autoritarismo, análise política

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Respostas de 3

  1. Exatamente nisso que dá, essa mania brasileira de achar que à atuação política de qualidade, se da por herança, são centenas de casos nos quais o coronelismo oligarca cria filhos inúteis. Um dos exemplos recentes é a família Collor.
    E o maís atualizado, só que mais gansterouso é a família Bolsonaro.

  2. Com esse sangue correndo nas veias e fazendo um discurso alheado da história brasileira e mundial… Que vergonha! Deve ter muitos “interésses” aí, como diria o Tio Briza. O Pedro Simon não deve ter ficado sabendo disso. Se ficou, chorou e deu umas palmadas na bunda desse moleque…

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