Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
O samba cantado por Dudu Nobre na abertura do saudoso humorístico A Grande Família não sai da cabeça. As peças divulgadas na quarta-feira (20) pela Polícia Federal que sustentam o novo indiciamento do ex-presidente Jair Bolsonaro e de seu filho, o deputado licenciado Eduardo Bolsonaro (PL-SP), mostram à sociedade uma família, como a cantada por Dudu Nobre, “muito ouriçada”. Se ela é “muito unida”, depende da interpretação. “Muito unida” no propósito de, a qualquer custo, livrar Bolsonaro da iminente condenação no Supremo Tribunal Federal (STF) por tentativa de golpe de Estado. Muito desunida, porém, na estratégia que julga ser a melhor para isso. E também na forma de se conduzir politicamente o pós-Bolsonaro.
Trump
Os pontos que mais elevam a temperatura da conversa no quesito falta de educação dizem respeito ao tarifaço imposto pelo presidente do Estados Unidos, Donald Trump. É em torno dele que termos pouco carinhosos aparecem de forma mais clara.
Ingrato
Bolsonaro faz numa entrevista uma crítica a Eduardo. Que responde com o filho mandando o pai “tomar” algo que não se bebe e ampliando o adjetivo “ingrato” com um palavrão. Também sobre o mesmo tema o pastor Silas Malafaia chama Eduardo de “idiota”.
Tarifaço é o grande ponto controverso da estratégia

Há fortes reações a Tarcísio como herdeiro | Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
Silas Malafaia acabou entrando na operação porque apareceria em muitos momentos como uma espécie de conselheiro. Em uma conversa, ele critica duramente Eduardo Bolsonaro. Diz que o filho do ex-presidente teria, com sua ação nos Estados Unidos, dado aos adversários de presente um discurso de defesa da soberania e dos interesses nacionais. É quando o chama de “idiota”. Curioso é que depois o mesmo Malafaia faz uma crítica, bem mais educada, a Bolsonaro pela entrevista. E, aí, o aconselha a fazer vídeos com argumentos em favor da anistia, no sentido de dizer que era claro que o tarifaço se referia a Bolsonaro e a seu processo.
Lula
Se a carta de Trump era para Bolsonaro, e visava o seu processo, enfraquece-se completamente o argumento que parte da oposição vem usando no sentido de dizer que ele é uma reação do presidente dos Estados Unidos à aproximação de Lula com a China.
“Política”
Diz Malafaia, em outro trecho, que todas as demais sobretaxações que Trump vem fazendo são econômicas, com exceção da brasileira, que seria “política”. Se é isso, o governo teria razão ao dizer que nada pode fazer para reverter a sanção imposta pelos Estados Unidos.
Tarcísio
O pós-Bolsonaro é outro ponto claro de desunião que transparece das conversas. Os xingamentos de Eduardo também estão relacionados a isso. Na entrevista, Bolsonaro chama Eduardo de “imaturo” por ter criticado o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas.
Eduardo
Eduardo fala claramente que trabalha nos EUA para desfazer a ideia de que Tarcísio venha a ser o herdeiro do espólio político de Bolsonaro, que está inelegível e provavelmente em breve condenado. Ou seja, desunião total quanto ao projeto político de futuro.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Ação de Eduardo é claro ponto de divergência |Paola De Orte/Agência Brasil





Uma resposta
O texto é informativo. Fiel aos acontecimentos. A balbúrdia bolsonarista tem sim absurdos que beiram a comédia não fosse a tragédia que imprimem aos legítimos poderes do Brasil democrático.