Concentração de renda no Brasil cresce sob Temer e Bolsonaro: 0,1% mais rico dispara, aponta estudo

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Concentração de renda dispara no Brasil durante os governos Temer e Bolsonaro - Imagem gerada por IA ChatGPT

Por Redação RED, com informações de Frederico Nascimento Dutra, Priscila Kaiser Monteiro e Sérgio Wulff Gobetti

Um estudo recente realizado pelos economistas Frederico Nascimento Dutra, Priscila Kaiser Monteiro e Sérgio Wulff Gobetti revela que a renda dos milionários brasileiros cresceu a um ritmo acelerado durante os governos Temer e Bolsonaro, enquanto a renda das famílias em geral seguiu praticamente estagnada. A pesquisa, baseada em declarações do Imposto de Renda de Pessoa Física (IRPF), mostra que a concentração no topo da pirâmide aumentou de forma expressiva entre 2017 e 2023.


O topo da pirâmide cresceu mais rápido

De acordo com os dados, a renda média do 0,1% mais rico cresceu 6,9% ao ano no período, contra apenas 1,4% ao ano da renda das famílias brasileiras. O 0,01% do topo avançou ainda mais rápido: 8% ao ano. Assim, a fatia do 1% mais rico passou de 20,4% para 24,3% da renda nacional, sendo que 85% desse ganho ficou concentrado no 0,1%.

Esse diferencial fez com que a fatia apropriada pelos super-ricos aumentasse significativamente:

  • 1% mais rico: de 20,4% para 24,3% da renda nacional.
  • 0,1% mais rico: capturou 85% de todo o ganho do 1%.
  • 0,01% mais rico: concentra hoje 6,2% da renda das famílias.

Em termos comparativos, metade da renda do 1% está no 0,1%, e metade do 0,1% está no 0,01%.

Renda concentrada pelo 1% mais rico no Brasil

Concentração de renda no topo

O motor da concentração: lucros e dividendos

O estudo mostra que lucros e dividendos foram os principais motores desse crescimento no topo. No 0,1% mais rico, 66% do aumento da participação na renda veio desse tipo de rendimento, como pode ser verificado na tabela abaixo. Entre os demais integrantes do 1%, o avanço do capital espelhou a queda dos salários, revelando um processo de pejotização: substituição de rendimentos do trabalho por rendimentos de capital.

Decomposição do aumento da concentração

O “efeito 2023” e a Lei nº 14.754

Um ponto importante destacado pelos autores é o impacto da Lei nº 14.754/2023, que alterou a tributação sobre fundos exclusivos e offshores. A norma instituiu uma tributação periódica (come-cotas anual) sobre fundos de investimento fechados e ativos mantidos em paraísos fiscais, além de prever regras de transição. Isso levou muitos contribuintes a anteciparem rendimentos em 2023, gerando um efeito extraordinário nas declarações de IR.

Para evitar uma superestimação da concentração de renda, os pesquisadores ajustaram os dados, excluindo esses rendimentos pontuais. Sem o ajuste, a participação do 0,1% teria saltado de 12,5% para 15,9%, e a do 0,01%, de 6,2% para 9,9%.

  • Com ajuste: participação do 0,1% ficou em 12,5% da renda.
  • Sem ajuste: o número subiria para 15,9%.

Os autores alertam que esse efeito “one-off” não pode ser confundido com aumento estrutural, mas reforça a urgência do debate sobre tributação de rendimentos de capital.


Onde a concentração mais cresce

O fenômeno não é homogêneo no país. Mato Grosso lidera, com o 1% mais rico apropriando 30,5% da renda estadual em 2023, um salto de 10 pontos percentuais desde 2017. São Paulo, Goiás e Paraná também superam a média nacional, enquanto o Rio de Janeiro teve crescimento mais moderado.


Por que o IRPF importa mais que a PNAD

O estudo também destaca que pesquisas domiciliares, como a PNAD, subestimam a renda do topo. Em 2023, a renda do 0,01% captada pela PNAD foi quase 12 vezes inferior à registrada no IRPF. Isso confirma a necessidade de combinar ambas as bases para medir com precisão a desigualdade.

Por isso, segundo os autores, medir a desigualdade com precisão exige combinar PNAD e IRPF.


Implicações para políticas públicas

Os autores reforçam que políticas de transferência de renda continuam fundamentais para reduzir a pobreza, mas não bastam para conter a escalada da concentração no topo. A agenda deve incluir:

  • Revisão da tributação da renda, corrigindo isenções e privilégios;
  • Redução dos incentivos à pejotização;
  • Maior progressividade no IR;
  • Fortalecimento das políticas de transparência e fiscalização sobre lucros e dividendos.

Segundo os autores, uma reforma bem desenhada poderia ser distributiva e eficiente, corrigindo distorções que prejudicam também a competitividade da economia brasileira.


Autores e fonte

A pesquisa foi desenvolvida pelos economistas Frederico Nascimento Dutra, Priscila Kaiser Monteiro e Sérgio Wulff Gobetti e publicada pela plataforma FiscalData em 14 de agosto de 2025.

👉 A nota técnica completa pode ser acessada neste link.


Gráficos e Tabelas: Elaboração dos autores do estudo.

Ilustração da capa: Concentração de renda dispara no Brasil durante os governos Temer e Bolsonaro – Imagem gerada por IA ChatGPT


Tags:
concentração de renda, desigualdade social, IRPF, milionários no Brasil, lucros e dividendos, pejotização, 1% mais rico, reforma tributária, FiscalData


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