Da REDAÇÃO
Pela primeira vez desde o retorno à democracia, a eleição presidencial boliviana de 17 de agosto não teve candidatos da esquerda no segundo turno. Rodrigo Paz, do centro moderado, e o conservador Jorge “Tuto” Quiroga avançaram, superando o histórico Movimento ao Socialismo (MAS). Depois de 20 anos no poder, em que revolucionou o país com a ascensão de lideranças dos povos originários e a adoção de políticas sociais e econômicas que reduziram a pobreza e melhoraram as condições de vida da população, a esquerda fica de fora. A divisão foi fatal.
Um resultado surpreendente
Rodrigo Paz alcançou 32,8 % dos votos, ultrapassando as expectativas e surpreendendo analistas. Quiroga ficou em segundo lugar, com 26,4 %, garantindo vaga para o segundo turno.
Motivos da eliminação da esquerda
A divisão do MAS e seus efeitos
O Movimento ao Socialismo (MAS), partido que governou a Bolívia por duas décadas, entrou no pleito completamente fragmentado. De um lado, o ex-presidente Evo Morales, que foi impedido de concorrer, convocou seus apoiadores a votarem nulo em protesto contra a candidatura apoiada por seu antigo aliado e atual presidente, Luis Arce. Esse movimento teve impacto direto: os votos nulos chegaram a 19 %, percentual inédito e que corroeu a base tradicional do MAS.
Além disso, dentro do partido havia pelo menos três correntes em conflito:
- Moristas, fiéis a Evo, que não aceitaram outro nome de liderança;
- Arcistas, ligados à gestão atual, tentando se manter no poder;
- Renovadores, que defendiam uma guinada pragmática e nova liderança para dialogar com setores urbanos e de classe média.
A falta de consenso transformou o MAS em um campo de disputa interna, mais ocupado em resolver seus conflitos do que em apresentar soluções para a crise econômica.
Crise econômica e perda de confiança
O desgaste também foi intensificado pela inflação alta, escassez de combustíveis, falta de dólares e queda na confiança de investidores. O modelo estatizante que antes sustentava crescimento foi acusado de se tornar insustentável, o que reduziu o apelo do MAS junto ao eleitorado urbano e às novas gerações.
Quem são os candidatos à segunda rodada?
Rodrigo Paz (Partido Democrata Cristão – PDC)
- Perfil: Senador de centro moderado, com trajetória ligada à elite política (filho do ex-presidente Jaime Paz Zamora).
- Propostas: descentralização administrativa, crédito acessível, incentivos fiscais regionais e combate à corrupção. Defende não privatizar o lítio para evitar soluções emergenciais e desequilíbrios.
Jorge “Tuto” Quiroga (Coalizão Libre)
- Perfil: Ex-presidente com discurso conservador. Fundou a Aliança Libre após crise na unidade de oposição.
- Propostas: aproximação ao FMI, privatizações, livre comércio e redução do tamanho do Estado. Pretende reverter estatizações do período do MAS.
Projeções para o segundo turno (19 de outubro)
- Novo mapa político: com o MAS fora da disputa direta, o cenário favorece um embate entre dois candidatos que se posicionam como “modernizadores”, ainda que com projetos distintos.
- Peso dos votos nulos: com quase 20% dos votos inválidos, esses eleitores podem ser decisivos. A campanha de Quiroga pode atrair descontentes que rejeitaram o MAS, enquanto Paz pode se apresentar como alternativa conciliadora.
- Investidores atentos: o mercado reagiu positivamente à liderança de Paz, com alta nas cotações de títulos e otimismo quanto à estabilidade.
- Risco de polarização: embora ambos se distanciem da esquerda, Quiroga é visto como mais radical. Paz, mais brando, pode conquistar o eleitor moderado ou insatisfeito.
Foto da capa: Trabalhadoras bolivianas – Royalty-Free Images, Stock Photos & Pictures
Tags
Bolívia, eleições 2025, Rodrigo Paz, Jorge Quiroga, MAS, esquerda boliviana, divisão política, segundo turno, crise econômica





Uma resposta
A esquerda tem que se renovar sempre