Bloqueio a la Cuba

Por NUBIA SILVEIRA*

O perigo de o Brasil se tornar comunista e satélite da então URSS – União das Repúblicas Socialistas Soviéticas foram apontados pela direita e extrema direita brasileiras como justificativas tanto para o golpe de Getúlio Vargas, em 1937, quanto para o militar, de 1964. Mudamos de século, mas a justificativa para a tentativa de um novo golpe segue a mesma. Com uma única diferença: o bicho papão, agora, não é mais a inexistente URSS, nem a Rússia, seu sucedâneo, mas a China. Os direitistas, ou conservadores, como querem muitos, também afirmam e reafirmam que, sob os governos de esquerda, o Brasil corre o risco de se tornar uma nova Cuba ou Venezuela. Empenhados em tomar o poder e usá-lo em seu benefício, assustam ingênuos e desinformados com um discurso que não se sustenta na realidade atual: o Brasil não vive uma ditadura, muito menos comunista.

Apesar de vivermos numa democracia, sem censura, em que os opositores são livres para espalhar suas mentiras, Eduardo Bolsonaro e Paulo Figueiredo trabalham para que o governo Trump aumente as sanções ao Brasil e a servidores da Justiça e do Executivo. Os dois comemoram estes ataques, sem qualquer resquício de vergonha. Isto me faz crer que eles sonham com a decretação de um total bloqueio econômico ao país, ao estilo do determinado a Cuba, em 1962, pelo então presidente John Kennedy. Já temos os nossos próprios gusanos. Eles seguem a cartilha dos vermes que, para manterem pequenos ou grandes poderes, não vacilam em destruir seus países. O Zero Três já disse que mergulharemos no caos, se seu pai não for anistiado, antes mesmo de ser condenado pela tentativa de golpe.

O filho do ex-presidente e o neto do ditador João Figueiredo mantêm contatos com a administração Trump, conversam com congressistas republicanos, dão entrevistas a jornalistas norte-americanos com o intuito de disseminar, entre autoridades e população norte-americanas, a imagem de um Brasil autoritário, inimigo dos Estados Unidos. Um país que precisa ser salvo pelos defensores da liberdade, dos direitos humanos, da democracia, sem levar em conta que todos estes princípios vem sendo atacados pelo próprio presidente dos EUA.

Já tinha escrito estes três primeiros parágrafos, quando li o texto do historiador Christian Lynch, publicado no X. Ele afirma que o objetivo de Trump, festejado pelos gusanos, que atuam fora e dentro do Brasil, “é provocar uma deterioração das relações bilaterais, que culmine na ruptura diplomática, abrindo caminho para sanções semelhantes às aplicadas a países como Irã, Cuba, Coreia do Norte e Venezuela”. Senti estar em boa companhia quanto à percepção dos perigos que enfrentaremos.

Diz o historiador: “A experiência com a família Bolsonaro e seus aliados nos ensinou, (que) não se pode esperar decência, honradez ou honestidade de fascistas”.  Eles – os direitistas, os bolsonaristas e os fascistas – abusam da liberdade de que desfrutam por aqui, para reforçar a mentira de que o culpado pelo tarifaço e as pressões de Trump é o presidente Lula. Exigem, com o apoio de parte da imprensa, que Lula se cale ou pegue o telefone e ligue para Trump, como se o telefonema funcionasse feito uma varinha de condão, que com sua magia resolveria todos os problemas com o aliado do capitão. Para estes críticos do presidente, a humilhação salvaria o Brasil. Mas eles sabem que esta não é uma verdade.

O futuro do Brasil – mais uma vez – depende dos democratas, sejam eles de esquerda ou de direita. É hora de os partidários de um Brasil soberano se unirem contra os supremacistas.

*Nubia Silveira é jornalista

Foto de capa: Painel em Havana acusa os EUA de praticarem genocídio ao manter embargo econômico durante 52 anos | Enrique De La Osa/Reuters