Por BENEDITO TADEU CÉSAR*
Enquanto a direita brasileira se fragmenta na disputa pelo apoio de Jair Bolsonaro e na tentativa de construir uma candidatura viável contra Lula em 2026, um nome paira com força simbólica e estratégica: Michelle Bolsonaro. Ela ainda não é apresentada oficialmente como candidata preferencial — mas seu nome mobiliza a base evangélica, agrada ao bolsonarismo raiz e oferece uma rota quase certa para a anistia de seu marido. O silêncio é tático, não ausência.
1. Arquétipo do Testemunho: Da Vida “Errante” à Salvação
Michelle Bolsonaro é, por excelência, o espelho do evangélico típico em sua narrativa de “redenção”: filha de uma família envolvida com o crime — com mãe e tia ligadas ao tráfico de drogas —, passou por empregos instáveis e uma trajetória obscura na Câmara dos Deputados antes de se casar com Jair Bolsonaro. Foi esse percurso, vivido na margem e reformulado pelo discurso da fé, que a tornou símbolo de transformação e adesão incondicional à causa bolsonarista-evangélica.
Ela encarna o ideal do “testemunho” que move milhões de fiéis neopentecostais: alguém que esteve “no fundo do poço”, foi salva por Cristo e agora luta pela “família, Deus e pátria”. Esse roteiro, tantas vezes explorado em púlpitos e mídias evangélicas, torna Michelle um ativo político de valor incomum. Ela não precisa declarar candidatura — basta existir com essa biografia para mobilizar afetos e lealdades.
2. A Candidatura da Anistia
Com Michelle candidata, Bolsonaro não precisaria confiar em ninguém além dela para garantir sua liberdade. Tarcísio, Zema, Leite ou Ratinho Jr. poderiam hesitar — Michelle, não. É sua esposa, sua aliada incondicional, e sua possível eleição seria o caminho mais direto para o indulto ou o bloqueio político-judicial das ações que pesam contra ele.
É por isso que o nome de Michelle merece atenção do campo progressista: por sua força simbólica, pela organicidade com o bolsonarismo digital e pela capacidade de capturar o eleitorado evangélico, que representa quase um terço do eleitorado brasileiro e, ainda que ocorram dissidências, tende a votar em bloco quando mobilizado por lideranças religiosas.
3. A Mística do Bolsonarismo: Michelle como “Ungida”
Michelle já cumpre hoje um papel central como referência religiosa do bolsonarismo. Em cultos, vídeos, eventos e redes sociais, aparece como uma “ungida” — a esposa fiel, mãe protetora, mulher recatada, mas firme. Sua estética e discurso reproduzem o imaginário da “Rainha Ester” do Antigo Testamento: aquela que, contra todas as adversidades, livra seu povo. É a mulher na política não como líder política, mas como instrumento da vontade divina — uma estratégia de poder que mobiliza fé como escudo ideológico.
4. A Oposição a Lula: Afetos e Fé
Michelle, diferentemente de seus concorrentes conservadores, não precisaria debater economia, desenvolvimento ou política externa. Ela disputaria com Lula o campo dos afetos — da moral, da família e da fé. O embate seria entre dois símbolos: Lula como liderança popular e soberana, forjada na luta social, e Michelle como heroína da conversão religiosa, portadora do “espírito da nova política” ultraconservadora.
Não é coincidência que figuras como Silas Malafaia, Magno Malta e outras lideranças evangélicas estejam sutilmente preparando o terreno para sua ascensão. Ainda que seu nome apareça menos nas pesquisas hoje, o potencial de crescimento é elevado — especialmente num cenário de polarização intensificada e retórica religiosa dominante.
Tabuleiro conservador
Michelle Bolsonaro é a peça que faltava no tabuleiro conservador. Sua biografia, marcada pela superação via fé; sua ligação orgânica com o bolsonarismo evangélico; e sua função estratégica de “garantidora” da anistia de Jair Bolsonaro fazem dela um nome com densidade simbólica muito superior ao de Tarcísio, Zema, Leite ou Ratinho. Ainda que não se declare candidata hoje, o bolsonarismo mais radical a vê como “plano A”.
Seu eventual ingresso na disputa de 2026 não será apenas mais uma candidatura da direita — será uma tentativa de refundação teocrática da política brasileira. O desafio, para o campo democrático, será enfrentá-la com razão, projeto e verdade — pois com Michelle, o que está em jogo não é apenas o poder político, mas o controle das almas.
*Benedito Tadeu César é cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em democracia, poder e soberania, integra a Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e é diretor da RED.
Ilustração da capa: Michele Bolsonaro – Imagem gerada por IA ChatGPT
Tags: Michelle Bolsonaro, eleições 2026, evangélicos na política, bolsonarismo, Lula, anistia Bolsonaro, fé e política, extrema direita, Tarcísio, Zema, Eduardo Bolsonaro.





Respostas de 2
Deus nos livre dessa mulher, falsa religiosa, sem conteúdo algum, aliás sem conhecimento bíblico.
Pior que os evangélicos que a apoiam Tb não conhecem a Palavra de Deus .
Deus nos livre dessa neófita, indouta política administrativa.
Falsa cristã .
Nosso imenso Brasil dará mais 4 anos de governo ao nosso competente e experiente Luis Inácio Lula da Silva .
Que Deus o proteja e o livre desses inimigos , algozes que só pensam em ficarem cada vez ricos e aos pobres cada dia menos ou nada.