Da REDAÇÃO*
Na entrevista concedida ao programa Roda Viva, da TV Cultura, na segunda-feira (11), o embaixador e ex-ministro das Relações Exteriores e da Defesa, Celso Amorim, atual assessor especial para Assuntos Internacionais da Presidência, abordou as tensões diplomáticas entre Brasil e Estados Unidos após a imposição do chamado tarifaço pelo presidente Donald Trump.
Amorim classificou como “inaceitáveis” as exigências feitas pelo governo norte-americano, que incluiu tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, e afirmou que o país não deve adotar uma postura de submissão para tentar reverter a medida.
“Atitude de auto-humilhação para se evitar o pior não é uma atitude correta. Nós não estamos sendo arrogantes. Pelo contrário, houve várias buscas de contatos”, afirmou.
Busca de diálogo, sem submissão
Segundo o assessor, o governo brasileiro está buscando canais de diálogo com Washington, mas não aceitará condições que violem a soberania nacional ou interfiram no funcionamento das instituições do país. Amorim ressaltou que a diplomacia brasileira deve agir com firmeza, sem provocar isolamento, mas também sem ceder a pressões incompatíveis com os interesses nacionais.
Ele destacou que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva mantém disposição para conversar com Trump, desde que em condições de igualdade, e que as relações bilaterais não podem ser pautadas por ameaças ou retaliações.
Papel do multilateralismo e dos Brics
Na entrevista, Amorim reforçou a importância de fortalecer o multilateralismo e a cooperação entre países emergentes como alternativa à dependência econômica dos Estados Unidos. Citou os Brics como plataforma essencial para ampliar o comércio em moedas locais, diminuindo a dependência do dólar nas transações internacionais.
“Precisamos fortalecer mecanismos que nos permitam negociar com mais autonomia. O comércio em moedas locais entre os Brics é um passo importante nesse sentido”, defendeu.
O ex-chanceler relembrou que a diversificação das parcerias internacionais é uma estratégia de longo prazo, e que medidas como o tarifaço não podem servir de obstáculo para o Brasil consolidar sua presença econômica e política em outros mercados.
Impacto político e econômico do tarifaço
O tarifaço de Trump foi anunciado em meio a uma escalada de tensão entre os dois países, que incluiu sanções contra autoridades brasileiras, como o ministro do STF Alexandre de Moraes, e pressões explícitas para mudanças em decisões judiciais internas. Para Amorim, aceitar tais condições comprometeria não apenas a soberania, mas também a credibilidade da política externa brasileira.
Economistas consultados por veículos internacionais alertam que a medida pode afetar exportações-chave, como aço, alumínio e produtos agrícolas, com impactos diretos sobre a balança comercial. O governo, no entanto, aposta que a pressão diplomática e a articulação com parceiros estratégicos poderá reduzir os danos.
Autonomia como princípio
Celso Amorim encerrou sua participação reforçando que o Brasil precisa atuar no cenário internacional de forma altiva, preservando sua independência decisória e fortalecendo alianças que reduzam vulnerabilidades econômicas e políticas. Para ele, a atual crise é também uma oportunidade para acelerar a busca por mecanismos de integração regional e global que coloquem o país em posição mais favorável nas negociações futuras.
*Fontes: Roda Viva/TV Cultura, Estadão Conteúdo, Terra
Ilustração da capa: Celso Amorim no programa Roda Viva da TV Cultura SP – Imagem gerada por IA ChatGPT
Veja a entrevista no Programa Roda Viva:
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