Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Depois de toda a confusão da semana passada, com a invasão do plenário, as representações contra os líderes dos movimentos e história de um acordo para a votação dos projetos de anistia do 8 de janeiro e de mudança no foro privilegiado, esperava-se que uma pauta mais robusta saísse da reunião de líderes nesta terça-feira (12). Pelo menos para que o presidente da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), demonstrasse um retorno ao normal. Não saiu. Da pauta que foi divulgada à tarde, talvez o projeto mais “importante” seja o que batiza um viaduto na cidade de Aparecida (SP) com o nome do falecido papa Francisco. Ainda que a pauta seja sujeita a alterações, o prenúncio é de mais uma semana de votações irrelevantes.
Autoridade
E, então, o que já se questiona no Congresso é o quanto o episódio da semana passada poderá ter comprometido a autoridade de Hugo Motta. Ele recuperou o controle da Mesa Diretora após um acordo com a oposição de direita que não foi conduzido por ele.
Dificuldades
E que ele pode ter dificuldades de cumprir. Como também terá dificuldades em cumprir sua determinação de punir com suspensão os líderes do motim da semana passada. Como Dona Flor, a célebre personagem de Jorge Amado, Motta tem dois maridos.
Motta fez compromissos à esquerda e à direita

Alcolumbre recuperou Senado com menos pressão | Foto: Lula Marques/Agência Brasil
No famoso romance de Jorge Amado, Dona Flor tinha um marido libertino e outro conservador. Para se eleger presidente da Câmara, Hugo Motta fez compromissos de casamento tanto quando a esquerda ligada ao governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva quanto com a direita bolsonarista. Essa direita cobra de Motta que vote o projeto de anistia pelo 8 de janeiro. E o governo segura essa possibilidade. À medida que a situação política se radicaliza com a proximidade do julgamento do ex-presidente Jair Bolsonaro, a pressão sobre Motta se intensifica. E sua solução, muitas vezes, acaba sendo adiar as pautas para depois.
Suspensões
Motta encaminhou na semana passada as representações contra 14 deputados que comandaram o motim da semana passada para o corregedor da Câmara, Diego Coronel (PSD-BA). Se isso, porém, significará mesmo a suspensão dos mandatos é coisa a se ver.
Alcolumbre
O presidente do Senado, Davi Alcolumbre (União-AP), não fez movimento semelhante no sentido de punir os amotinados. Por outro lado, recuperou o plenário sem se desgastar. Se nada acontecer com nenhum dos deputados representados, é Motta quem se desgasta.
Respostas
Se Motta demorar em dar respostas aos temas que estão à espera na fila da Câmara, há a possibilidade de novas pressões parecidas com as da semana passada. Seja quanto à anistia e ao foro, seja sobre o que fazer com Eduardo Bolsonaro e outros temas.
Guimarães
Na semana que vem, o líder do Governo na Câmara, José Guimarães (CE), deve retornar da cirurgia cardíaca a que se submeteu. As informações são de que correu tudo bem. Guimarães retorna com o coração renovado para novas emoções na Câmara dos Deputados.
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Compromissos dos dois lados travam Motta | Lula Marques/Agência Brasil




