Por FERNANDO NOGUEIRA DA COSTA*
O neofascismo contemporâneo não é uma simples repetição do fascismo clássico do século XX, como o de Mussolini ou Hitler, mas sua atualização para os tempos de democracia formal, redes sociais, algoritmos e hiperindividualismo. Ele adota formas legais de ascensão ao poder, mas tem uma essência antidemocrática e autoritária.
Acontece com vitória eleitoral, mas rejeita a alternância de poder pela derrota eleitoral quando se candidata à reeleição. Em outros termos, chega ao poder por meio de eleições democráticas, mas não aceita as regras da democracia.
Questiona resultados eleitorais quando perde. Promove teorias conspiratórias sobre fraudes, infiltrados, ou sistemas manipulados. Busca perpetuar-se no poder por meio da erosão institucional e da captura das forças armadas, polícias e Judiciário. Dois exemplos recentes estão à vista: Trump nos EUA (invasão do Capitólio, 6 de janeiro de 2021) e Bolsonaro no Brasil (8 de janeiro de 2023).
A violência política e o apelo militarista são constantes dos neofascistas. Incentivam ou toleram o uso da violência contra opositores. Buscam instrumentalizar militares, policiais e milicianos como suporte político informal.
Estimulam o armamento da população e o discurso do “inimigo interno”. Atuam com linguagem de guerra, ainda estando em tempos de paz: “combater o comunismo” (inexistente), “aniquilar a corrupção” (dos outros, não a das rachadinhas), “limpar o país” (não da intolerância deles).
O neofascismo tenta deslegitimar a Justiça e intimidar jornalistas, professores, indígenas, movimentos sociais. Promove uma guerra cultural e busca o revisionismo histórico em defesa dos crimes cometidos pela ditadura militar.
Usa a nostalgia do passado para alimentar medo do presente. Reescreve a história na vã tentativa de limpar a imagem de ditaduras, genocídios, colonizações ou regimes autoritários.
Apresenta-se como “defensor da civilização” contra “a decadência moral” provocada pelo feminismo, pelo antirracismo, pelas lutas LGBTQIA+. Demoniza a universidade e as Ciências Humanas como “ninhos de doutrinação”.
A luta dos incultos reacionários contra o “marxismo cultural” extrapolou para o “antiglobalismo” e a “antivacina”. O negacionismo científico do governo deles resultou em milhares de mortos no Brasil pelo atraso na vacinação.
Praticam um ultranacionalismo excludente e xenofobia, exceto caso não tenham interesse em se transformar em “vendilhões da pátria”, acenando com bandeiras americanas e israelenses, em apoio ao Imperador Donald e ao genocídio em Gaza. Aguardam a quebra da soberania nacional para haver anistia de seus crimes.
Os neofascistas enfatizam uma identidade nacional baseada em etnia, religião ou tradição moralista, sempre em oposição ao “outro”: imigrantes, estrangeiros, minorias étnicas, muçulmanos, latinos, negros. Trump demoniza latinos; Netanyahu nega humanidade aos palestinos; Orban marginaliza migrantes.
Os entreguistas do Brasil aos Estados Unidos rejeitam acordos multilaterais, instituições internacionais e cooperação global. Enxergam o mundo como um campo de inimigos a ser dominado ou excluído.
Para espanto e vergonha nacional, os camisas amarelas fazem (pequenas) manifestações com bandeiras dos Estados Unidos e de Israel em apoio à guerra comercial e ao genocídio dos palestinos!
Os neofascistas tupiniquins apoiam o rompimento americano de alianças históricas e tratados de livre comércio sob a bandeira do nacionalismo econômico dos EUA. O pato Donald usa tarifas e sanções geoeconômicas como armas geopolíticas, inclusive contra ex-parceiros comerciais, para impor sua agenda imperial.
Justifica o protecionismo como defesa do povo americano, mas pratica chantagem imperialista com moeda, tecnologia e mercado. Faz isso com México, Canadá, Brasil, Rússia, Índia e China em retaliação aos BRICS. Os bloqueios contra Cuba e Venezuela tem a mesma ambição de as transformar em campos de concentração de famintos até a morte em retaliações por intolerância ideológica.
O genocídio se dá por exclusão ou fome. Não repetem ipsis literis os campos de concentração nazistas, porque EUA-Israel promovem mortes em massa por negligência, bloqueio, cerco, fome ou política de exclusão.
Seus governantes neofascistas criminalizam populações inteiras como se fossem culpadas por sua existência. Desumanizam o outro até sua morte parecer um “efeito colateral inevitável”.
Os exemplos de seus governos estão à vista em fotos e vídeos: Gaza sitiada e faminta sob bombardeio israelense; indígenas Yanomami abandonados à fome e ao mercúrio; migrantes morrendo nas fronteiras da Europa e dos EUA.
Os neofascistas fazem destruição institucional com fachada democrática por obterem maioria no Congresso Nacional. Atuam “dentro” da democracia, mas para destruí-la por dentro: capturam instituições, nomeiam para o Judiciário “tremendamente evangélico ou conservador”, aparelham agências de Estado, enfraquecem a imprensa.
Governam por decretos, medidas provisórias, redes sociais, fake news e “espetáculo” de motociatas e louvação a pneus de caminhões.
Os neofascistas alimentam crises institucionais como método de poder. O caos é a velha estratégia de dividir para reinar: exploram as divisões partidárias existentes ou promovem a criação de novas siglas. Esta tática visa impedir os grupos se organizarem em uma Frente Ampla Antifascista e se unirem contra o poder deles.
O populismo de direita se apresenta com um verniz democrático, mas se recusa a seguir a Constituição republicana.
Síntese crítica
| Elemento | Fascismo da II Guerra Mundial | Neofascismo contemporâneo |
| Ascensão ao poder | Golpe ou imposição | Vitória eleitoral |
| Inimigo central | Comunistas e judeus | Globalistas, minorias, migrantes, Judiciário |
| Instrumento de dominação | Partido único, exército | Redes sociais, fake news, populismo penal via anistia |
| Política externa | Expansionismo militar | Tarifas, sanções, boicotes, chantagem econômica |
| Morte em massa | Campos de extermínio | Fome, abandono, cerco, negacionismo sanitário |
*Fernando Nogueira da Costa é Professor Titular do IE-UNICAMP. Baixe seus livros digitais em “Obras (Quase) Completas”: http://fernandonogueiracosta.wordpress.com/ E-mail: fernandonogueiracosta@gmail.com.
Foto de capa: Reprodução





Uma resposta
Os DEZ primeiros parágrafos não provam que o fascismo contemporâneo seja diferente do nazismo, por exemplo. Bem ao contrário, MOSTROU-LHE AS SEMELHANÇAS. As diferenças estão nos detalhes. Acho que o texto precisa melhorar.