Da REDAÇÃO*
A Corregedoria da Câmara dos Deputados analisa uma representação contra Marcel van Hattem (NOVO-RS) por ter ocupado a cadeira da presidência durante o motim parlamentar de 6 de agosto. O ato, que paralisou os trabalhos legislativos por mais de 30 horas, pode resultar na suspensão de seu mandato por até seis meses. O NOVO afirma que a medida configura “perseguição política” contra a oposição.
Motim na Câmara
O protesto, conduzido por parlamentares ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro, é visto por analistas como mais um capítulo da tentativa de golpe bolsonarista iniciada em 8 de janeiro de 2023 e ainda em curso. Na avaliação de parte da Mesa Diretora, a invasão da Mesa e a recusa de Van Hattem em deixar a cadeira do presidente configuram uma afronta direta à ordem institucional e precisam ser punidas de forma exemplar para coibir novos episódios.
O ato foi desencadeado em reação a decisões judiciais contra Bolsonaro e à possibilidade de punições para os envolvidos nos ataques golpistas. Van Hattem permaneceu na cadeira do presidente mesmo após pedido para se retirar, sendo convencido a sair após negociação. A cena, sem precedentes recentes, foi considerada quebra de decoro e obstrução física ao funcionamento da Casa.
A Mesa, presidida por Hugo Motta (Republicanos-PB), encaminhou denúncia à Corregedoria sugerindo suspensão como resposta firme contra esse tipo de conduta. Se o parecer for favorável, o caso segue para o Conselho de Ética, que poderá aplicar desde censura até suspensão de mandato.
A defesa e a reação do NOVO
O Partido Novo afirma que a representação é uma “criminalização da oposição” e que a obstrução é um instrumento democrático usado por diferentes bancadas no passado. Segundo a sigla, há “dois pesos e duas medidas” e uma tentativa de enfraquecer parlamentares representativos de setores expressivos da sociedade.
Essa comparação, no entanto, desconsidera que obstruções regimentais fazem parte do jogo democrático, mas ações de ocupação física da Mesa Diretora rompem protocolos institucionais e têm histórico de punição no Parlamento. O discurso de “perseguição política” mobiliza a base de Van Hattem, mas esbarra na gravidade e no simbolismo do ato.
Trajetória política e conexões internacionais
Nascido em 1985, Van Hattem iniciou a carreira como vereador em Dois Irmãos (RS) aos 18 anos, pelo PP. Foi deputado estadual (2015–2018) e, em 2018, filiou-se ao NOVO, sendo o deputado federal mais votado do Rio Grande do Sul, com cerca de 349 mil votos.
Formado em Relações Internacionais pela UFRGS, com mestrados na Universidade de Leiden (Holanda) e no consórcio Aarhus-Amsterdã (Dinamarca/Holanda), construiu conexões com think tanks e fundações liberais e conservadoras internacionais. Participou de programas da Fundação Friedrich Naumann (ligada à Atlas Network), do Acton Institute, da Georgetown University e da Academia Theodor-Heuss, na Alemanha.
Entre essas conexões, destaca-se a aproximação com o Acton Institute, parte da rede financiada pela Koch Foundation — citada por pesquisadores como apoiadora de redes que teriam atuado nas mobilizações pelo impeachment da ex-presidenta Dilma Rousseff. Van Hattem também é presença constante no Fórum da Liberdade, evento de destaque da nova direita latino-americana.
Controvérsias e arroubos políticos
Sua trajetória é marcada por episódios polêmicos. Em 2006, atropelou um pedestre que morreu meses depois. A responsabilização criminal prescreveu, mas houve condenação cível, posteriormente arquivada em 2021. Ele nega culpa e diz ter sido alvo de exploração política.
Em 2014, confrontou com megafone a deputada Maria do Rosário (PT-RS) em espaço público, acusando-a de “defender bandidos”. Já na Câmara, chamou um delegado da Polícia Federal de “bandido” durante sessão, fato que motivou investigação no STF.
O ato de 6 de agosto soma-se a esse padrão de gestos de impacto, de desafio à autoridade e de alta carga simbólica, frequentemente interpretados como arroubos políticos de cunho juvenil, com repercussões negativas e questionamentos sobre sua maturidade parlamentar.
Controvérsias na trajetória de Marcel van Hattem
- Acidente fatal (2006) – Atropelou um pedestre que morreu meses depois. Responsabilização criminal prescreveu; houve condenação cível, depois arquivada.
- Confronto com Maria do Rosário (2014) – Abordagem com megafone em espaço público, acusando-a de “defender bandidos”.
- Ofensa a delegado da PF (2023) – Chamou um delegado de “bandido” durante sessão, gerando investigação no STF.
- Motim na Câmara (2025) – Ocupou a cadeira do presidente durante protesto bolsonarista, enquadrado como tentativa de golpe continuada.
Conexões internacionais da nova direita
Rede internacional de atuação
- Atlas Network – Think tank dos EUA que articula organizações liberais e conservadoras em mais de 90 países.
- Fundação Friedrich Naumann – Parceira da Atlas Network na Alemanha; Van Hattem participou de programas na Academia Theodor-Heuss.
- Acton Institute – Instituto conservador cristão e libertário ligado à Koch Foundation.
- Koch Foundation – Criada pelos irmãos Charles e David Koch, citada por pesquisadores como apoiadora de redes que teriam atuado nas mobilizações pelo impeachment de Dilma Rousseff.
- Georgetown University – Curso executivo no Programa de Liderança para a Competitividade Global.
- Universidad Francisco Marroquín (Guatemala) – Participação no Antigua Forum, voltado à difusão do liberalismo na América Latina.
Eventos e palestras
- Fórum da Liberdade (Porto Alegre) – Palestrante em 2016; presença frequente.
- Students for Liberty – Participação em conferências internacionais pró-liberdade econômica.
Impacto político
Essas conexões inserem Van Hattem no circuito global da nova direita, associando sua atuação a agendas ultraliberais, conservadoras e a estratégias de mobilização política transnacional — incluindo ações que no Brasil se alinharam a pautas golpistas.

Ilustração da capa: Imagem Gerada por IA ChatGPT
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