Por BENEDITO TADEU CÉSAR*
No início da semana passada, parlamentares bolsonaristas protagonizaram um motim no Congresso Nacional — ocupando as Mesas Diretoras da Câmara e do Senado — que impediu o funcionamento das Casas Legislativas por cerca de 30 horas. Essa ação deve ser entendida não como um episódio isolado, mas como parte de uma tentativa de golpe estendida — uma insurgência política de longa duração que teve início com as manifestações golpistas de 7 de setembro de 2021 e 2022, avançou com as acusações infundadas contra a lisura das urnas eletrônicas e ganhou novos capítulos após as eleições de 2022.
Entre os atos pós-eleitorais, destacam-se os acampamentos em frente a quartéis do Exército pedindo intervenção militar, o bloqueio de rodovias em diferentes regiões do país e atentados à infraestrutura elétrica, com explosões de torres de energia em estados como Rondônia, Paraná e Mato Grosso. Esses ataques, somados ao atentado frustrado ao Aeroporto de Brasília, ao ataque durante a diplomação de Lula e ao motim de 8 de janeiro de 2023, formam um conjunto articulado de ações voltadas a inviabilizar a posse e o exercício legítimo do mandato presidencial.
O motim desta semana reproduziu esse método: parlamentares bolsonaristas exigiam, em troca do fim da ocupação, pautas como anistia geral aos golpistas, o impeachment de Alexandre de Moraes e a alteração das regras de foro privilegiado. O senador Randolfe Rodrigues denunciou que se trata “de um ataque à democracia, um 8 de janeiro de dentro para fora”, alertando que sem punições drásticas, ações como essa podem se tornar rotina das instituições.
Juristas qualificam a ocupação como clara quebra de decoro parlamentar e possível prevaricação — já que, ao inviabilizar o funcionamento das sessões, esses deputados e senadores abdicaram de cumprir suas obrigações constitucionais. A insurgência no Congresso caracteriza-se como tentativa de tomada de poder à força e, como tal, deve receber resposta proporcional à gravidade da ameaça: cassação de mandatos, abertura de inquéritos policiais e punições exemplares.
A impunidade seria um convite à repetição do golpismo. Proteger a democracia exige não apenas a reconstrução institucional após o 8 de janeiro, mas também a firme recusa de tolerar novas investidas contra a ordem constitucional — venham elas das ruas, dos quartéis ou do próprio Parlamento.
Benedito Tadeu César é cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em democracia, poder e soberania, integra a Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e é diretor da RED.
Ilustração da capa: Golpe de Estado bolsonarista estendido – Imagem gerada por IA ChatGPT
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motim no Congresso, golpe estendido, bolsonaristas, 8 de janeiro, bloqueio de rodovias, acampamentos em quartéis, explosões de torres de energia, democracia brasileira.





Respostas de 2
Preocupante porque pela história pregressa é difícil acreditar em pulso forte dos presidentes das duas casas.
Fazem parte do mesmo projeto.
Deveríamos discutir como intimidar, cercar , diminuir a influência do pastor Malafaia . Possivelmente empresários que financiam seriam os melhores porta vozes.