O presidente da Câmara dos Deputados, Hugo Motta (Republicanos-PB), encaminhou nesta sexta-feira (8) à Corregedoria da Casa representações contra 15 parlamentares envolvidos no motim que bloqueou a Mesa Diretora por cerca de 30 horas, entre os dias 5 e 6 de agosto. O grupo inclui 14 deputados da oposição e a petista Camila Jara (PT-MS), acusada de agressão física durante o tumulto.
A medida prevê pedido de afastamento cautelar de até seis meses, com análise inicial do corregedor Diego Coronel (PSD-BA) e posterior julgamento pelo Conselho de Ética. Caso seja aprovada, a suspensão implicará corte de salários e retirada de toda a estrutura parlamentar.
O motim no plenário
A obstrução ocorreu após a prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, decretada pelo STF. Deputados do PL, Novo e aliados ocuparam fisicamente as cadeiras da Mesa, impedindo que Hugo Motta conduzisse as sessões. O ato foi usado como pressão para votação de pautas como o PL da Anistia e a PEC do Foro.
Entre os nomes denunciados estão Marcos Pollon (PL-MS), Zé Trovão (PL-SC), Júlia Zanatta (PL-SC), Marcel Van Hattem (Novo-RS), Paulo Bilynskyj (PL-SP), Sóstenes Cavalcante (PL-RJ), Nikolas Ferreira (PL-MG), Zucco (PL-RS), Allan Garcês (PP-MA), Caroline de Toni (PL-SC), Marco Feliciano (PL-SP), Bia Kicis (PL-DF), Domingos Sávio (PL-MG), Carlos Jordy (PL-RJ) e Camila Jara (PT-MS).
Zé Trovão (PL-SC) chegou a bloquear fisicamente a passagem de Motta com a perna. Marcel Van Hattem (Novo-RS) sentou na cadeira da presidência e só saiu após longa negociação. Marcos Pollon (PL-MS) recusou-se a deixar a Mesa. Júlia Zanatta (PL-SC) levou sua filha de quatro meses e permaneceu com ela na Mesa Diretora. Paulo Bilynskyj (PL-SP) ocupou a Mesa da Comissão de Direitos Humanos e é acusado de agredir o jornalista Guga Noblat.
Defesa dos acusados
Parlamentares da oposição afirmam que a ocupação foi um protesto legítimo contra decisões do STF e negam que tenha havido intenção de impedir de forma definitiva o funcionamento da Câmara.
O líder do PL, Sóstenes Cavalcante, declarou que o partido vai contestar as punições. “Violência não é argumento. Imunidade parlamentar não é salvo-conduto para agressão”, disse, ao justificar a representação contra Camila Jara.
A versão de Camila Jara
A deputada do PT nega ter agredido Nikolas Ferreira e afirma que se tratou de um empurra-empurra no momento em que tentava se proteger no plenário lotado. “Com 1,60 metro de altura, 49 quilos e em tratamento contra um câncer, fui injustamente acusada de nocauteá-lo”, afirmou.
Sua assessoria acrescenta que ela reagiu “como qualquer mulher reagiria quando um homem a pressiona contra a multidão”. Camila relata ainda que passou a receber ameaças e precisou de escolta policial.
O líder do PT na Câmara, Lindbergh Farias (RJ), classificou a inclusão de Jara na lista de denunciados como “um absurdo” e “manobra para criar falsa equivalência”. Segundo ele, a ação da deputada foi um ato reflexo de legítima defesa.
Procedimento e prazos
O corregedor Diego Coronel (PSD-BA) deve apresentar seu parecer até domingo (10). Caso a Mesa recomende o afastamento, o Conselho de Ética terá três dias para votar, e eventual decisão poderá ser revista pelo plenário. Em outros casos recentes, como o de André Janones (Avante-MG), a Mesa enviou recomendação direta de afastamento ao Conselho, sem passar pela Corregedoria, o que revela divergências sobre como punir os bolsonaristas.
Falas de Motta e reação de Lula, que defende cassação
Hugo Motta afirmou à CNN Brasil que as condutas foram “muito graves” e que é preciso “ser pedagógico” para evitar repetição.
Durante agenda no Acre, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) condenou a atuação dos parlamentares que participaram do motim e defendeu que eles percam o mandato. “Estão tentando fazer greve para não permitir que funcione a Câmara e o Senado. Verdadeiros traidores da pátria”, afirmou.
Lula também pediu a aliados que não apoiem o pedido de impeachment contra o ministro Alexandre de Moraes, argumentando que ele “está garantindo a democracia”.
Foto da capa: Cadeira da Presidência da Câmara, ocupada pelo deputado Marcel van Hattem (Novo-RS) durante protesto bolsonarista no plenário. Foto: Reprodução
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