De ex-Femen ao bolsonarismo: condenada e presa na Itália, Carla Zambelli pede campanha contra ministro italiano

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Carla Zambelli saca arma em perseguição a homem pelas ruas de São Paulo - Fonte: Redes Sociais

Por BENEDITO TADEU CÉSAR*

A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP), presa na Itália desde 29 de julho de 2025, protagonizou um gesto de rara desfaçatez política: em carta enviada à família, datada de 2 de agosto, pediu que influenciadores bolsonaristas como Allan dos Santos e Paulo Figueiredo mobilizassem seus seguidores para pressionar o ministro da Justiça italiano, Carlo Nordio — autoridade responsável por decidir se ela aguardará o processo de extradição em liberdade. Zambelli chegou a sugerir que os apoiadores comentassem diretamente no perfil do ministro, criando um constrangimento público internacional. A iniciativa, mais próxima de um ato de intimidação simbólica do que de uma defesa jurídica, busca deslocar o debate das instâncias legais para a arena do espetáculo digital.

O pedido ocorre no contexto de um robusto histórico judicial. Zambelli foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal a 10 anos de prisão em regime fechado, perda do mandato e indenização de R$ 2 milhões ao CNJ por liderar a invasão hacker ao sistema do órgão e inserir documentos falsos, incluindo um mandado de prisão contra o ministro Alexandre de Moraes. Também recebeu pena de 5 anos e 3 meses de prisão em regime semiaberto por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com emprego de arma, no episódio em que perseguiu, armada, um homem em São Paulo durante a campanha de 2022 — fato que contribuiu para a cassação de seu mandato em março de 2025. Soma-se a isso uma série de condenações por desinformação e danos morais: multas de R$ 10 mil e R$ 30 mil impostas pelo TSE por fake news, indenizações de R$ 20 mil à ex-deputada Manuela d’Ávila e R$ 3 mil a uma professora, além de outros processos em andamento.

No início da década de 2010, Zambelli esteve vinculada ao grupo feminista radical Femen, fundado na Ucrânia e conhecido por protestos em topless contra o patriarcado, a exploração sexual e o autoritarismo. Atuou ao lado de Sara Giromini — hoje Sara Winter —, que liderou a célula brasileira do movimento antes de migrar para o bolsonarismo e fundar o grupo extremista “300 do Brasil”. Ambas percorreram um caminho político semelhante: da estética contestadora de esquerda ao engajamento na extrema direita. A deputada, no entanto, hoje nega ter integrado o Femen, apesar de registros e reportagens apontarem sua participação em ações e protestos organizados pelo coletivo.

Sara Winter e Carla Zambelli em protesto do grupo Femen em São Paulo | Reprodução// Twitter

Essa metamorfose ideológica e a atual tentativa de mobilizar militância digital ultraconservadora para pressionar uma autoridade estrangeira revelam mais que oportunismo político: mostram a substituição da coerência programática por estratégias momentâneas de sobrevivência, ainda que à custa de desrespeitar protocolos diplomáticos e princípios democráticos.

*Benedito Tadeu César é cientista político e professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Especialista em democracia, poder e soberania, integra a Coordenação do Comitê em Defesa da Democracia e do Estado Democrático de Direito e é diretor da RED.


Foto da capa: Carla Zambelli saca arma em perseguição a homem pelas ruas de São Paulo – Fonte: Redes Sociais


Tags:
Carla Zambelli, extradição, Itália, STF, Allan dos Santos, Paulo Figueiredo, campanha digital, CNJ.

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