Por RUDOLFO LAGO*, do Correio da Manhã
Nas conversas que tiveram esta semana com os presidentes da Câmara, Hugo Motta (Republicanos-PB), e do Senado, Davi Alcolumbre, os parlamentares da oposição mais à direita usaram da seguinte comparação para justificar o que fizeram nos dois dias de “greve” em que ocuparam os dois plenários do Congresso: fizeram, segundo eles, o mesmo que fez o deputado Glauber Braga (Psol-RJ) em abril, quando ocupou o plenário do Conselho de Ética. Se fizeram uma obstrução física, argumentam, foi também uma obstrução física o que fez Glauber na sua greve de fome. Trata-se de uma comparação desproporcional. A atitude de Glauber foi solitária, e ele colocou sua saúde em risco quando ficou nove dias sem comer.
Extremos
Os deputados e senadores de extrema-direita, assim, não acham que tenham feito nada de errado ou excessivo. Argumentam que são “tempos extremos”. E “tempos extremos” justificariam medidas extremas. Na cabeça deles, foi o que fez Glauber Braga.
Sucesso
Na ocasião, avaliam, a medida extrema de Glauber conferiu sucesso a ele. Hugo Motta negociou e ele deixou o plenário do Conselho de Ética e encerrou sua greve de fome. Agora, acham que ou obtiveram também sucesso ou voltarão a fazer algo parecido.
Ninguém quer uma guerra civil, dizem os oposicionistas

Glauber fez o mesmo, diz oposição | Foto: Ascom Glauber Braga
É grave o que dizem esses deputados e senadores nos bastidores. “Ninguém quer uma guerra civil”, disse ao Correio Político um dos interlocutores. Mas acham que têm respaldo da sociedade para esticar a corda por avaliarem que se estica também a corda do outro lado. Segundo esse interlocutor, a intenção é de diálogo. Mas de diálogo no termo em que colocam. Ou seja: acreditam que, agora, Hugo Motta levará à Câmara o projeto de anistia e Alcolumbre acabará cedendo no Senado com o impeachment de Alexandre de Moraes. Do contrário, novas correntes, esparadrapos na boca e coisas parecidas podem voltar a acontecer.
Respaldo
É difícil medir a essa altura o tamanho do respaldo político que o grupo mais à direita tem no Congresso. As ocupações irritaram tanto Hugo Motta quanto Davi Alcolumbre. Motta parece estar mais propenso a negociar se houver maioria para a anistia. Alcolumbre, não.
Do Val
No caso de Alcolumbre, a disposição de acordo seria somente no caso do senador Marcos do Val (Podemos-ES). Alcolumbre aceitou negociar com o STF a retirada da tornozeleira e demais restrições em troca de levar do Val ao Conselho de Ética e dar a ele uma suspensão.
Moraes
Quanto a Moraes, apesar da obtenção das 41 assinaturas para o processo de impeachment, a disposição não é a mesma. E aí pode entrar em ação uma turma de bombeiros. Entre eles, um nome pode ser o presidente do PP, senador Ciro Nogueira (PI).
Ciro
Ciro disse que não assinaria o pedido de impeachment. Recebeu, em troca, o ódio do pastor Silas Malafaia. Ao mesmo tempo, o senador afirma que não cabe aos presidentes do Congresso irem contra a vontade da maioria dos parlamentares. Tempos extremos…
*Rudolfo Lago é jornalista do Correio da Manhã / Brasília, foi editor do site Congreso e é diretor da Consultoria Imagem e Credibilidade.
Publicado originalmente no Correio da Manhã.
Foto de capa: Senadores se acorrentaram no plenário | Foto: Ricardo Salles





Uma resposta
Povo lixo!!