Congresso sob chantagem: aliados de Bolsonaro exigem anistia como moeda de troca

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Deputados de oposição fazem ato tampando a boca com esparadrapo durante sessão da Câmara dos Deputados — Foto: José Cruz/Agência Brasil

Da REDAÇÃO

Parlamentares bolsonaristas pressionam por anistia a envolvidos no 8 de Janeiro e travam votações como forma de pressão

Aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro estão promovendo uma obstrução no Congresso Nacional para forçar a votação de um projeto de anistia que livraria os envolvidos na tentativa de golpe e nos atos de vandalismo de 8 de janeiro de 2023. A manobra é descrita como uma forma de chantagem política pela colunista Rosane de Oliveira, em artigo publicado nesta terça-feira (6) no jornal Zero Hora.

A coluna merece destaque por apresentar um posicionamento crítico consistente da jornalista, sinalizando, possivelmente, um afastamento editorial do grupo RBS em relação ao bolsonarismo. Rosane de Oliveira, colunista de Política de Zero Hora há mais de 30 anos, também apresenta o programa Gaúcha Atualidade, na Rádio Gaúcha, e atua como comentarista de política na TVCOM RS — posições que a tornam uma das vozes mais influentes do grupo RBS no debate político.

Anistia como “resgate”

Segundo Rosane, a tática bolsonarista equivale a um sequestro político: deputados e senadores são impedidos de trabalhar até que se pague o “resgate”, ou seja, a aprovação da anistia. Essa mesma lógica estaria por trás da ofensiva do ex-presidente dos EUA, Donald Trump, que vinculou a retirada de um tarifaço de 50% sobre o aço brasileiro ao fim dos processos contra Bolsonaro.

Nota do PL-RS escancara a pressão

A chantagem foi escancarada em uma nota pública do PL do Rio Grande do Sul, assinada por seu presidente estadual, Giovani Cherini. O texto, distribuído nas redes sociais, afirma:

“É fácil resolver a crise institucional no Brasil! Basta o Lula pegar o telefone, ligar para o Trump e dizer: ‘Vou permitir a aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita. E dar fim ao inquérito do fim do mundo, que está sendo conduzido de forma parcial pelo ministro Alexandre de Moraes’.”

A proposta ignora completamente os limites constitucionais entre os Poderes, apontando para um desconhecimento – ou desrespeito – ao funcionamento das instituições democráticas.

Risco institucional e precedente perigoso

Para a colunista, se os presidentes da Câmara, Hugo Motta, e do Senado, Davi Alcolumbre, cederem à pressão, estarão legitimando ataques às instituições democráticas. Mais grave: estarão abrindo espaço para que futuros derrotados nas urnas recorram novamente à violência e ao golpismo.

Golpe foi planejado antes da eleição

Rosane lembra que a tentativa de golpe começou antes mesmo da votação, quando Bolsonaro passou a desacreditar o sistema eleitoral. A reunião com embaixadores em julho de 2022, por exemplo, foi parte da estratégia para minar a confiança nas urnas eletrônicas.

Ela defende que as investigações e ações penais em curso devem seguir até o fim, sem interferência externa – nem de Trump, nem de parlamentares aliados a Bolsonaro.


Leia a íntegra da coluna de Rosane de Oliveira

Aliados de Bolsonaro sequestram o Congresso e pedem anistia como resgate

Obstrução dos trabalhos até que seja pautado projeto que livra envolvidos em tentativa de golpe é chantagem

O que os aliados do ex-presidente Jair Bolsonaro no Congresso estão fazendo — ao propor a obstrução dos trabalhos até que os presidentes da Câmara e do Senado, Hugo Motta e Davi Alcolumbre, pautem a votação do projeto de anistia — é uma espécie de sequestro dos deputados e senadores. A aprovação da anistia para Bolsonaro e outros envolvidos na tentativa de golpe e nas depredações do 8 de Janeiro seria o pagamento do resgate.

Foi o que o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, tentou fazer ao vincular o tarifaço de 50% ao fim do processo contra Bolsonaro. Em outras palavras, é chantagem.

A nota do PL do Rio Grande do Sul, divulgada pelo presidente estadual, Giovani Cherini, é a materialização dessa chantagem. Cherini escreveu, postou nas redes sociais e distribuiu para suas listas de contatos, em forma de card, a seguinte mensagem:

“É fácil resolver a crise institucional no Brasil! Basta o Lula pegar o telefone, ligar para o Trump e dizer ‘Vou permitir a aprovação da anistia ampla, geral e irrestrita. E dar fim ao inquérito do fim do mundo, que está sendo conduzido de forma parcial pelo ministro Alexandre de Moraes’.”

Noves fora a distorção cognitiva, que repete a ignorância de Trump em relação ao funcionamento dos Poderes — porque não cabe a Lula “permitir” a votação da anistia nem dar fim a um inquérito que, no caso, virou ação penal prestes a ser julgada —, a nota é uma afronta ao Legislativo e ao Judiciário.

Se Motta e Alcolumbre cederem à pressão dos bolsonaristas, estarão dizendo ao Brasil que está liberado atentar contra democracias, depredar prédios públicos, quebrar móveis e vidraças e danificar obras de arte. Mais do que isso, estarão sinalizando a futuros golpistas que é legítimo tentar virar a mesa quando não concordarem com o resultado da eleição.

Antes mesmo do pleito, Bolsonaro tentou criar o cenário para essa virada de mesa com uma campanha de difamação das urnas eletrônicas, sistema pelo qual ele e os filhos se elegeram em sucessivas eleições. A reunião com os embaixadores, em que colocou o sistema eleitoral sob suspeita, era parte dessa estratégia.

As sucessivas declarações contra as urnas, a pressão para que o Exército questionasse a integridade do sistema e tantos outros atos ocorridos antes e depois da eleição exigem que o processo seja levado até o fim. Não pode ser a chantagem de Trump, que desferiu um golpe na economia brasileira, a intimidar deputados e senadores que ao assumir se comprometeram a cumprir a Constituição.


Foto da capa: Deputados de oposição fazem ato tampando a boca com esparadrapo durante sessão da Câmara dos Deputados — Foto: José Cruz/Agência Brasil


Tags:
Bolsonaro, anistia, Congresso Nacional, chantagem política, PL, Giovani Cherini, Rosane de Oliveira, 8 de janeiro, golpe, democracia, Alexandre de Moraes, Lula, Trump

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