Por BENEDITO TADEU CÉSAR*
Membros do Partido Liberal (PL) e lideranças bolsonaristas intensificam ações no Congresso e nas ruas em reação à prisão domiciliar do ex-presidente Jair Bolsonaro, numa escalada que indica articulação nacional e internacional para aprofundar uma crise institucional no Brasil.
Manifestação de deputados no Congresso e “agora é guerra”
Na tarde desta terça‑feira (5 de agosto), cerca de 15 deputados bolsonaristas ocuparam a Mesa Diretora da Câmara, permaneceram sentados nas cadeiras e colaram esparadrapos na boca em protesto contra a prisão domiciliar de Bolsonaro. A tática tem o intuito de bloquear sessões plenárias e impedir votações até que sejam acomodadas demandas como a anistia e o impeachment do ministro Alexandre de Moraes.
Sóstenes Cavalcante (líder do PL na Câmara) declarou que a partir de agora a bancada entrará em “obstrução total” tanto na Câmara quanto no Senado. “Estamos nos apresentando para guerra se é guerra que governo quer, é guerra que o governo terá”, afirmou, misturando as ações do STF com as do governo e deixando claro o tom de confronto político institucional.

Projeto de anistia e ambição de poder no Senado
No mesmo contexto, articuladores do PL têm um projeto explícito para conquistar maioria no Senado nas eleições de 2026. O objetivo é alcançar entre 44 e 59 cadeiras, somando aliados já eleitos e os que pretendem eleger, o que permitiria controlar pautas legislativas estratégicas
A proposta é usar essa maioria para aprovar uma anistia “ampla, geral e irrestrita” em favor de Jair Bolsonaro e dos envolvidos nos atos de 8 de janeiro de 2023, além de extinguir o foro privilegiado e facilitar o impeachment de ministros do STF. Há também o objetivo declarado de que esse bloco passe a ter “mais poder que o Presidente da República” dentro do Congresso.
Altineu Côrtes, vice‑presidente da Câmara pelo PL, disse que se Hugo Motta estiver ausente, ele pautará imediatamente a PEC da anistia.
Entrelançamento com apoio de Trump e do Departamento de Estado dos EUA
Esse ambiente político interno se combina com pressão externa. Jair Bolsonaro foi colocado sob prisão domiciliar pelo STF em decisão do ministro Alexandre de Moraes no último dia 4 de agosto. A medida inclui restrição ao uso de celular, proibição de visitas não autorizadas e instalação de tornozeleira eletrônica. O ex-presidente é acusado de violar medidas cautelares ao influenciar manifestações por meio de filhos e aliados
O ex-presidente Donald Trump chamou o processo de “caça às bruxas”, classificou Moraes como “injusto” e impôs tarifas de até 50% sobre exportações brasileiras. O Departamento de Estado dos EUA criticou publicamente a prisão domiciliar, alegando riscos à democracia e anunciando que responsabilizará quem facilitou o que chamou de retaliação política.
Articulação nacional e internacional busca tensão institucional
Esses eventos combinam ações no Congresso com pressão diplomática vinda de Washington. Parlamentares do PL prometem obstrução, ocupação de plenários e apresentação de pautas como anistia e impeachment. Paralelamente, Trump e setores do governo dos EUA intensificam críticas ao STF e às instituições brasileiras, reforçando uma narrativa de crise institucional em curso.
As articulações indicam um movimento coordenado para gerar instabilidade interna e questionar a legitimidade das instituições brasileiras. Os discursos dos filhos de Jair Bolsonaro nas manifestações de domingo, inclusive com a transmissão de uma ligação telefônica do pai, foram nitidamente uma afronta deliberada ao STF, talvez com o objetivo de forçá-lo a uma medida mais drástica, como a decretação da prisão domiciliar.
A estratégia bolsonarista aplicada pode ganhar força com eventual maioria no Senado, abrindo caminho para aprovar medidas controversas e anistiar os envolvidos nos atos golpistas de 8 de janeiro. Do lado internacional, Trump e aliados atuam em sintonia, ampliando o impacto dessa mobilização sobre a opinião pública e o cenário político.
*Benedito Tadeu César é cientista político, professor aposentado da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e reconhecido por estudos sobre partidos políticos, eleições e democracia, especialmente no Rio Grande do Sul. Tem Mestrado em Antropologia Social pela Unicamp (1982) e doutorado em Ciências Sociais pela mesma instituição (1990), com pesquisa sobre a democracia brasileira.
Ilustração da capa: gerada por IA ChayGPT
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Bolsonaro, PL, Congresso, obstrução parlamentar, anistia, Senado 2026, crise institucional, Trump, STF, Alexandre de Moraes





Uma resposta
Boa análise, Tadeu. Os trogloditas estão forçando a barra. Querem intervenção militar. Ou, seja, seguem na linha golpista. “O que fazer?”