Estados bolsonaristas serão os mais afetados por tarifas de Trump, mesmo com isenções

translate

Foto: Porto de Santos / Divulgação

Da REDAÇÃO*

Tarifação anunciada pelos EUA penaliza exportações de Estados que apoiaram Bolsonaro; especialistas veem impacto econômico e desgaste político

A decisão do presidente americano Donald Trump de impor tarifas de 50% sobre produtos brasileiros, oficializada em 30 de julho, deve atingir com mais intensidade os Estados brasileiros que deram maior apoio a Jair Bolsonaro nas eleições de 2022. Mesmo com uma lista extensa de exceções, setores estratégicos desses Estados poderão sofrer perdas econômicas consideráveis.

Segundo dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), sete Estados concentraram mais de 80% das exportações brasileiras aos EUA em 2024: São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Espírito Santo, Rio Grande do Sul, Santa Catarina e Paraná. Desses, apenas Minas Gerais deu vitória a Lula no segundo turno. Os demais foram majoritariamente bolsonaristas.

Fonte: Comex, Tribunal Superior Eleitoral. *Os sete estados somam mais de 80% das exportações (US$ 40,4 bilhões) em 2024.

Impacto desigual e produtos excluídos

Embora o decreto assinado por Trump isente 694 produtos — incluindo petróleo, polpa e suco de laranja, aviões, fertilizantes e papel — itens como carnes, frutas e café, fortemente exportados por Estados como São Paulo e Paraná, não foram contemplados. A Câmara Americana de Comércio para o Brasil (Amcham Brasil) estima que 43,4% das exportações estão isentas, mas adverte que o restante ainda representa um impacto relevante.

Com cerca de US$ 40 bilhões exportados para os EUA em 2024, sendo US$ 13,5 bilhões apenas por São Paulo, a medida pode comprometer a competitividade brasileira em setores-chave. A Amcham alerta que a tarifa compromete cadeias globais de valor e pode levar empresas a redirecionar seus mercados.

Motivação política e resposta bolsonarista

Um dos motivos declarados para a tarifação foi a forma como a Justiça brasileira tem tratado o ex-presidente Bolsonaro, investigado por tentativa de golpe. Em publicação no X (antigo Twitter), Bolsonaro sugeriu que uma anistia poderia “pacificar” a economia.

Eduardo Bolsonaro, deputado federal licenciado e atualmente nos EUA, defendeu as tarifas como “resposta legítima” dos americanos à “repressão política” no Brasil. Ele tem atuado ativamente em Washington para promover anistia aos envolvidos no 8 de Janeiro e impor sanções contra Alexandre de Moraes. Em maio, o STF abriu inquérito para investigar sua atuação por suposta interferência nos Poderes.

Consequências políticas e redes sociais

O cientista político Carlos Pereira, da FGV, aponta que a medida teve como efeito colateral o desgaste de setores aliados ao bolsonarismo. “O tiro saiu pela culatra. Estados pró-Bolsonaro serão os mais atingidos”, afirmou. Para ele, o momento cria uma oportunidade para que lideranças de direita se desvinculem do ex-presidente.

Beto Vasques, diretor do Instituto Democracia em Xeque, analisou a repercussão nas redes sociais e identificou uma narrativa mais coesa entre os progressistas. Enquanto a esquerda apontou Trump como vilão, a direita se dividiu entre responsabilizar Lula, Moraes ou o Judiciário. “Quem tem dois inimigos não tem nenhum”, disse.

Reflexos eleitorais e pesquisas

Levantamento da Quaest/Genial Investimentos mostra que 59% da população acredita que Trump não conseguirá reverter a inelegibilidade de Bolsonaro. Entre bolsonaristas, há empate técnico. A mesma pesquisa indica que o tarifaço contribuiu para uma recuperação da popularidade de Lula, que agora venceria Bolsonaro em eventual segundo turno, segundo o instituto.

Governadores pressionam Lula, mas evitam romper com Bolsonaro

Governadores dos Estados mais exportadores têm criticado Lula pela falta de diálogo com os EUA. Tarcísio de Freitas (SP), Romeu Zema (MG) e Ratinho Jr. (PR) acusam o governo federal de politizar o tema. Em contrapartida, evitam culpar diretamente Eduardo Bolsonaro.

Zema, por exemplo, defendeu Bolsonaro nas redes e criticou o STF e Lula. Tarcísio, cotado como sucessor de Bolsonaro em 2026, tem buscado contatos diretos com parlamentares e empresários americanos. A exceção foi Eduardo Leite (RS), que condenou publicamente a articulação da família Bolsonaro nos EUA.

Segundo a cientista política Isabela Kalil, os governadores estão em posição delicada: precisam defender a economia local sem romper com a base bolsonarista. “É difícil imaginar que vão criticar Eduardo Bolsonaro abertamente. Dependem da base.”

Na contramão, senadores como Tereza Cristina (PP-MS) e Marcos Pontes (PL-SP), ambos ex-ministros de Bolsonaro, participaram de comitiva nos EUA para tentar reverter as tarifas. “Eles sinalizam que, acima da lealdade pessoal, está o compromisso com suas bases produtivas”, analisa Kalil.

A BBC Brasil apurou que Trump estaria aberto a dialogar com Lula. Ao ser questionado por uma repórter da TV Globo sobre uma possível conversa com o presidente brasileiro, Trump respondeu: “Lula pode falar comigo quando quiser”.

*Fonte: BBC News Brasil, reportagem original de Luiz Fernando Toledo.

**Gráfico: Carla Rosch, Equipe de Jornalismo Visual da BBC Brasil.

Foto da capa: Porto de Santos / Divulgação


Tags:

Donald Trump, Jair Bolsonaro, Eduardo Bolsonaro, tarifas EUA, exportações brasileiras, STF, Alexandre de Moraes, economia, anistia, 8 de janeiro

Receba as novidades no seu email

* indica obrigatório

Intuit Mailchimp

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia..

Gostou do texto? Tem críticas, correções ou complementações a fazer? Quer elogiar?

Deixe aqui o seu comentário.

Os comentários não representam a opinião da RED. A responsabilidade é do comentador.

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

plugins premium WordPress

Gostou do Conteúdo?

Considere apoiar o trabalho da RED para que possamos continuar produzindo

Toda ajuda é bem vinda! Faça uma contribuição única ou doe um valor mensalmente

Informação, Análise e Diálogo no Campo Democrático

Faça Parte do Nosso Grupo de Whatsapp

Fique por dentro das notícias e do debate democrático