A cloaca do capitalismo tardio

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Por LÉA MARIA AARÃO REIS*

Na contramão das atenções, esta semana, das sanções econômicas indecorosas que o atual presidente dos Estados Unidos baixou contra o Brasil – ao que tudo indica deverão ser postas em prática dia 1º de agosto – há um esforço político coordenado, originado nos EUA dos democratas, e  estoura em cheio nas nossas plataformas de streaming**. O movimento não deixa esfriar o escândalo Jeffrey Epstein/ Ghislaine Maxwell de 20 anos atrás, até então cuidadosamente engavetado e trancado em arquivos secretos.

Agora, requentado, o asqueroso escândalo de pedofilia, tráfico e abuso sexual de mais de 500 meninas levadas por Epstein e sua namorada/secretária a diversos políticos proeminentes ressurgiu nos grandes jornais norte americanos e também nas plataformas cinematográficas com grande espalhafato. Desafiam a arbitrariedade e o autoritarismo vigentes no país hoje governado pela Casa Branca, desde o primeiro governo Trump que teria dado o escândalo por encerrado por envolver sabe – deus quem da nata da elite capitalista nacional e dos dois lados do Atlântico.

Perversão e Poder são os dois subtítulos dos filmes sobre Epstein/Maxwell que se encontram em cartaz no modelo minissérie de cinco episódios e no formato documentário, assim como em Ghislaine Maxwell filthy rich***, de 2022, filme dirigido por Maiken Baird e Lisa Bryant.

Esses docs pretendem reconstruir a operação libidinosa Jeffrey Epstein/Maxwell com base em um livro sobre o assunto, de autoria de James Patterson, e em cuidadosos depoimentos de advogados e das hoje adultas mulheres submetidas quando crianças e adolescentes aos abusos sexuais da dupla.

A alta burguesia é rastreada (em termos)  por esses dois membros diletos  da considerada elite. Norte americana e britânica. Epstein, um gestor de fundos hedge; ela ex-aluna de Oxford, filha ao que consta, de outro psicótico, Robert Maxwell, ex- refugiado tcheco na Grã-Bretanha, empresário, deputado trabalhista e magnata da mídia, dono na época do The Daily Mirror, que acumulou jatos particulares, helicópteros e Rolls-Royces ao longo da carreira.

Em todos os filmes mencionados há imagens, hoje já icônicas, de Donald Trump e do príncipe Andrew da Inglaterra, em festas e em comemorações ao lado da dupla de rufiões, os protagonistas da trama infame. São trabalhos que pretendem proteger depoentes menores de idade de décadas atrás que foram aliciadas, e suas famílias. Nem sempre eram  ‘vulneráveis’, essas garotas pobres e alunas de escolas públicas. Várias delas estudavam em escolas caras, particulares, da região de Palm Beach onde eram abordadas por Ghislaine e às quais eram pagos 200 dólares para fazer massagens nos pés do gigolô de luxo e por outras práticas inventadas por ela.

O que é mais importante nesses filmes, como escreve o pesquisador e jornalista Reynaldo José Aragon Gonçalves, do brasil247: ‘’Epstein é a metáfora perfeita do Ocidente em decadência: um financista que construiu um império de tráfico humano com a cumplicidade silenciosa do Estado, da mídia, do Judiciário, de universidades como Harvard e MIT, de agências de inteligência e de reis, príncipes, CEOs e ex-presidentes. Sua fortuna não veio de méritos, mas de chantagens, tráfico de influência e silêncio comprado’’. (…) ‘’É o capitalismo tardio em sua forma mais obscena: sem trabalho, sem lei, sem moral.  Aqui está o ponto mais profundo: Epstein não é apenas sobre pedofilia. É sobre poder’’.

Exala da tela, quando se assiste a esses documentários, um cheiro de podridão de indivíduos da alta burguesia e dos grandes volumes de dinheiro criminoso.  É importante conhecer os fatos desse caso que continua rendendo somas milionárias de dinheiro para advogados, depoentes, e indenizações incalculáveis. Apesar da irritação e, dizem, da fúria de Trump em vê-lo retornar às manchetes, quando ele busca o diversionismo político com a novela das sanções ao mundo e para que se possa esquecê-lo mais uma vez. Há que ter estômago forte para seguir essa história.

Em tempo: Nesta segunda-feira (28/07) Ghislaine Maxwell pediu à Suprema Corte dos EUA que anule sua condenação por tráfico sexual. Há rumores de que seria perdoada em troca de informações sobre figuras ligadas a Epstein; Trump entre elas. Como muitos sabem, Epstein morreu em 2019, no Centro Correcional Metropolitano de Nova Iorque onde cumpria pena. Ninguém se arrisca a confirmar se foi assassinado ou se houve suicídio. Ghislaine  continua presa cumprindo  20 anos de cadeia.


Léa Maria Aarão Reis é jornalista.

lustração de capa: Divulgação

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