Por ADROALDO QUINTELA*
Laura e Mané tinham se desentendido. Passaram-se meses sem um oi. Mané caiu na real. Sem chance de retorno.
Sua casa estava vazia. Laura fazia imensa falta. Mané entrou em parafuso. Deprimiu. Mal saia com os amigos para o baba das quartas. Depois das partidas ia embora correndo. Evitava a cerveja com a turma de priscas eras.
Um casal de primos o convidou para almoçar.Titubeou. Insistiram. Terminou indo meio amuado. Mal sabia que cupido havia armado encontro inesperado.
Dentre os vários casais e solteiros, Mané notou o brilho especial no olhar de uma morena desconhecida.
Verônica percebeu que Mané olhava furtivamente. Não encarava. Deu um jeito de sentar ao lado e puxar conversa com aquele homem charmoso, com jeito de menino abandonado.
Aos poucos Mané foi relaxando. A conversa animou. Verônica contou que tinha enviuvado há três anos. De lá pra cá fechou o corpo, a mente e o espírito para relacionamentos duradouros.
Mané percebeu que a perda de Verônica era muito profunda e irreversível. Entretanto, parecia que ele estava vivendo um luto mais significativo.
Perceber isso acendeu uma centelha no seu humor. Mané e Verônica descobriram afinidades em várias dimensões da vida.
Trocaram telefones. Na mesma noite Mané ligou. Embora fosse tarde, Verônica atendeu. Conversaram longamente sobre assuntos diversos. Marcaram de encontrar no Cine Passeo para assistir à Homem com H.
Há muito tempo Mané não ficava tão ansioso para sair de casa. Fez xixi várias vezes. Tomou banho, barbeou-se e escolheu uma roupa bem descolada. Dirigiu assoviando, exalando alegria.
Comprou os ingressos e ficou esperando Verônica. O coração disparou quando ela entrou na sala de espera. Abraçaram-se timidamente, como dois adolescentes. Compraram pipoca e água.
No decorrer do filme timidamente Mané pegou na mão de Verônica. Ela aceitou tranquilamente. Estavam famintos. Entraram na Pizzaria do Shopping. Fizeram os pedidos e resolveram degustar um vinho. Sorriram, juntaram as mãos. Estavam renascendo para o amor?
Todavia, Verônica assinalou: podemos sair novamente, mas ainda não é um compromisso.
Mané aceitou na boa. A companhia era agradável. Nada melhor do que estar ao lado de uma pessoa que levantava seu ânimo. Enfim, abria uma avenida de possibilidades afetivas com uma mulher madura, que vivenciou uma situação dolorosa. E mais: deu a volta por cima e para os lados.
Contudo, Laura apareceu sem avisar, pois não devolveu a chave de casa. A presença inesperada deixou Mané confuso. Restava algo mais com Laura? O sexo era bom. Ainda não rolou cama com Verô.
E agora, Mané? Apostará no passado frustrante, ou vai se agarrar no presente de esperança? Cabeça de homem é igual a bunda de bebê: só se sabe o que tem dentro quando retira a fralda…
.*Adroaldo Quintela é Economista.Diretor-Executivo do Instituto de Desenvolvimento Sustentável do Nordeste (IDESNE) Fundador da Associação Brasileira de Economistas pela Democracia (ABED).
Foto de capa: IA




