Estadão apoia submissão brasileira ao tarifaço de Trump

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Por J. CARLOS DE ASSIS*

Em editorial publicado com o título “Brasil paga a conta da imprudência de Lula”, o jornal Estado de São Paulo (Estadão) ataca abertamente a política externa soberana adotada pelo presidente do Brasil. E sugere que a única saída para o País diante do tarifaço de 50% imposto pelo psicopata Donald Trump seria submeter-se à ordem mundial unipolar defendida por ele, acrescida, no nosso caso, à tentativa de parar os processos judiciais contra Jair Bolsonaro, réu por tentativa de golpe de estado.

Trata-se da mais candente manifestação de subserviência aos ditames norte-americanos, mesmo os mais absurdos, os quais submetem interesses comerciais e econômicos dos povos a objetivos ideológicos que trazem para o momento atual as sombras do fascismo e do nazismo. Na sua ardente manifestação contra a soberania nacional, o Estadão propõe que o Brasil abone os BRICS, ignorando os notáveis benefícios que a criação e atuação do bloco trouxeram para o País no campo comercial e econômico.

Ao contrário do que sustenta o entreguista jornal paulista, o BRICS não prejudica o Brasil, mas consiste, efetivamente, em seu barco de salvação. É num tratado que nossa diplomacia independente venha a costurar com seus dois mais importantes parceiros com potencial nuclear, a China e a Rússia, que poderemos dissuadir os Estados Unidos, de uma forma concreta, de uma escalada de suas ameaças, por enquanto tarifárias e comerciais, para uma escalada militar e uma intervenção direta.

Tenho ouvido, de alguns dias para cá, manifestações  de integrantes da oligarquia paulista, bem representada pelo Estadão, sustentando que o Brasil tem que procurar manter negociações com os Estados Unidos para reduzir as tarifas e recusar-se a retaliar. São idiotas. Não perceberam que Trump não tem qualquer intenção de negociar tarifas, sendo a manipulação tarifária apenas o melhor meio que encontrou para a expansão do fascismo no mundo, que é seu projeto central.

Isso está explícito no seu ataque ao Judiciário brasileiro e à soberania nacional. Trump quer Bolsonaro solto porque ele é um aliado fiel com perspectiva de voltar ao poder no país mais importante das Américas, fora os próprios Estados Unidos. Pescar esse peixe grande seria um avanço espetacular na escalada fascista no mundo. Daí a falta de escrúpulos em interferir na política interna brasileira e, subliminarmente, projetar a possibilidade de uma intervenção concreta via uma “guerra híbrida”.

Justamente por isso temos que reforçar nossa aliança com a China e a Rússia no BRICS. Deveríamos usar a própria tática de Trump em  seus arroubos autoritários: surpreendê-lo com a criação da Organização do Tratado do Atlântico Sul e Pacífico (OTASP), nos moldes da OTAN, como braço militar – e nuclear – para dissuadir qualquer tipo de violação da soberania dos países desse bloco. O Estadão acha que o Brasil nada ganha com o BRICS. É falso. Poderia ganhar ainda mais, ou seja, segurança.

A oligarquia paulista não quer saber disso. Prefere manter o Brasil como país subserviente aos interesses norte-americanos, como sempre foi, sobretudo antes da criação do BRICS. Está rasgando a bandeira nacional, em favor de seus próprios interesses individuais. Em vez de trabalhar para buscar alternativas ao mercado norte-americano ou para expandir o próprio mercado interno, quer continuar sentada em seus suntuosos escritórios da Avenida Paulista, usufruindo da especulação financeira.

Percebi depois de um movimento inicial de protesto dos empresários paulistas contra o tarifaço de Trump uma progressiva e sutil inclinação para a rendição total ao imperador do Norte. Contudo, não esperava que mesmo os empresários mais sabujos declarassem publicamente essa posição. O País teve que esperar pelo “corajoso” Estadão para assumir a tarefa suja. Ficou claro que, com seu apoio indireto a Bolsonaro, não é mais um jornal líder da direita, mas da extrema direita.

O empresariado brasileiro tem que se ajustar à realidade imposta ao mundo pelo presidente norte-americano, pelo menos ao longo desses quatro anos de seu mandato. Isso significa, principalmente, buscar alternativas no mercado interno e externo para as restrições do mercado dos Estados Unidos impostas pelo tarifaço. Negociações são inúteis, como dito, pois o propósito do tarifaço é político e inaceitável: livrar Bolsonaro da cadeia. Isso jamais poderemos aceitar.

É o momento de pelo menos os empresários mais conscientes de seu papel de liderança econômica e social assumirem sua responsabilidade na defesa da soberania brasileira. Isso significa trabalharem duro num programa de deslocamento de exportações para fora dos Estados Unidos, similar ao que se fez no passado em termos de substituição de importações. Eles devem a Lula o fato de que, em seus mandatos, e principalmente no atual, o Presidente se tornou um verdadeiro caixeiro viajante par ampliar tremendamente as vendas externas do País.


*J. Carlos de Assis é jornalista, economista, doutor em Engenharia de Produção, professor aposentado de Economia Política da UEPB, e atualmente economista chefe do Grupo Videirainvest-Agroviva e editor chefe do jornal online “Tribuna da Imprensa”, a ser relançado brevemente.

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