Ferramentas do bem, quando mal usadas, se transformam em problema

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Por EDELBERTO BEHS*

Em todas as épocas, sempre que aparecia um instrumento que facilitasse a condição humana, trazendo comodidade, vinha embutida, com a novidade, o temor ou o arrepio do que isso poderia representar para a sociedade. Foi assim com o automóvel que desenvolvia, nos primórdios, a incrível velocidade de 70 Km por hora, uma velocidade do diabo e um perigo para pedestres.

Nos diferentes instrumentos desenvolvidos por inventores, cientistas, professores pardais, apareceram efeitos colaterais. A faca, por exemplo, é necessária na cozinha, útil em diferentes situações, mas pode ser uma arma na mão de um assassino. Toda medicação, em demasia, é prejudicial ao corpo humano. O mesmo ocorre no excesso de exercícios ou esforço físico, prática recomendável para toda as idades.

Nessa relação de causa e efeito nem sempre é possível prever todas as consequências que uma nova ferramenta ou descoberta geram. Basta analisar os comentários, contra e a favor, da Inteligência Artificial e seus algoritmos. Ela é capaz de suplantar o seu criador, o ser humano, e submeter a sociedade aos seus ditames? Ela pode acabar com a democracia?

Vejam quanta facilidade o telefone celular trouxe à população mundial! O telefone deixou de ser unifuncional para assumir multifunções, desde relógio, despertador, calculadora, até porta de banco e bússola… Mas eis que o mau uso desse super aparelho – o que sempre depende de quem o tem em mãos – traz problemas e preocupações.

Quantas pessoas não caminham com o celular em mãos, absortos na telinha, sem prestar atenção onde pisam, quem está na sua frente? Até rua atravessam mais atentos ao celular do que ao trânsito. E quantos motoristas não dirigem com um olho na direção e outro no celular? E motoqueiros, com suas sacolas às costas, atentos ao endereço de entrega da encomenda? Esses ainda podem ser considerados males menores. Sobra aquele vício da telinha.

Em mesa de bares, não raro vemos grupo de quatro, seis, oito pessoas, com celulares em mãos – conversando entre si? – perdendo a oportunidade de contato direto com quem está do seu lado. Pais delegam seus celulares até mesmo para crianças numa mesa de restaurante, para que elas tenham um entretenimento e os deixem almoçar em paz!

O celular também amplificou a bandidagem. Tenho mais números de telefones bloqueados de pretensos serviços de vigilância bancária informando o valor de alguma compra e indicando a tecla dois para contestá-la, do que é minha lista de contatos. Se a cada dia recebo dois, três desses telefonemas, é sinal de que a sacanagem tem resultado em muitos casos.

Assim caminha a humanidade, dois passos para a frente, um ou três passos de ré. A cada final de ano jorram mensagens de amor, harmonia, tranquilidade que logo ali adiante se tornam palavras vazias, pois as guerras, lutas fratricidas, desejo de poder, alvos econômicos que mandões almejam não sustentam uma paz verdadeira. Donald Trump que o diga!

A disseminação de celulares permite a disseminação da desinformação. Se o celular consegue provocar até mesmo polarização política, o que a IA, se mal aplicada, não poderá fazer? As escolas, as universidades, precisam introduzir, com urgência, um currículo que trate da leitura crítica das novas ferramentas de relações, da nova linguagem, não só de comunicação, para a saúde física e emocional da humanidade.


*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa:  Reprodução

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