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Opinião

A vitória só é possível nas ruas

A vitória só é possível nas ruas

Artigo por RED
06/10/2022 14:00 • Atualizado em 07/10/2022 10:18
A vitória só é possível nas ruas

De GIOVANNI MESQUITA*

LULA teve uma ótima performance, a melhor de toda a sua história em primeiros turnos. Nessa votação, nós nos abatemos. Nos abatemos porque nos iludimos. Nosso coração pegou fogo, mas nossa cabeça não ficou fria, como prescreve Chico em Quem sabe um samba?. Podia ser bem pior, podia ser 2018! Na maioria dos casos estaduais deu o que já era possível esperar. Os bilhões de dinheiro público torrados na chantagem eleitoral, algum efeito havia de dar. Os mais pobres resistiram, mesmo sabendo que quem tem fome tem pressa, o povão não se vendeu nem se curvou. Mesmo assim surgiu das urnas um inesperado crescimento do inominável. O que houve? Por que essa diferença não foi percebida pelas pesquisas? Na realidade o que vimos foi a composição de alguns fatores que não observamos, ou não quisemos observar. O voto envergonhado, o voto útil e a abstenção.

A abstenção pode ter sido gerada, pelas filas enormes que estranhamente se formaram, pelas distâncias, ameaças, falta de fé, falta de esperança de que um simples ato possa transformar a realidade. Talvez não possa… . Há tanto tempo nesse jogo de votar não me lembro de tanta demora. Assim como o voto envergonhado daquele que se diz neutro; o isentão que por trás de seu biombo civilizatório, oculta maldade que não assume. O medo que vai se transformando em ódio; a incapacidade refugiada em mesquinhos ressentimentos. Aquele que se consome em ódio surdo ao ver o corpo negro que se abriga na marquise, o que vê a criança que pede esmola no sinal como um aviso ameaçador e desagradável. E finalmente o voto útil que foi o desmascaramento daqueles que passaram todo tempo procurando uma “terceira via”; aqueles que não queriam mais uma vez sujar as mãos de maneira tão pública, tão gritante, tão escandalosa como fizeram nos últimos anos. Na realidade, essa “gente de bem” só queria um verdugo perfumado, um vilão para chamar de seu. Mas, no último momento não vacilaram, ensebaram mais uma vez o teclado da urna eletrônica com os dedos gordos do seu preconceito e da sua ancestral aporofobia: aquele horror que tem aos pobres, pobres esses gerados por sua ganância, relegados às senzalas e às favelas.

A classe média, tiranizada pela grande burguesia, beija a mão da sua algoz e se revolta contra os pobres. Os impostos que pagam não amenizam a mensalidade das escolas particulares, dos planos de saúde, do preço da gasolina, dos aluguéis. O fascismo a um só tempo a atiça contra os pobres e lhe bate sua carteira. Se diz conservadora, mas não passa de zeladora do que não lhe pertence. Se acha igual ao patrão, mas tem carteira assinada, assim como o porteiro, a atendente e o peão. O que barrou a vitória no primeiro turno foi essa classe média do sul e do sudeste. E o nosso estado foi retrato perfeito disso. Onde estão os gaúchos, os farrapos, os Castilhos, os prestes, os getúlios, os brizolas? Viramos terra de caramurus plantadores de soja, destruidores de florestas, genocidas dos povos indígenas?

Mas, poderia ser pior… poderia ser outubro de 2018. O que temos de fazer de diferente? Temos que nos expor, temos que ir às ruas, ocupar espaços, demonstrar força e coragem. “Pra que nossa esperança/seja mais que a vingança/ seja sempre um caminho/ que se deixa de herança..” No peito trazemos o fogo sagrado da justiça, nos olhos o futuro e nas mãos o poder da criação. Nós não temos tanques, mas temos a multidão, nós não temos orçamento secreto, mas temos um povo que não tem medo de SER FELIZ, Quando o fascista olha para o inominável ele não vê um líder, não vê um mito, não vê um messias ele olha para um espelho no qual vê a si próprio. E nós também temos o nosso espelho, e o nosso espelho é LULA.


*Formado em História e Museologia pela UFRGS. Autor de Bento Gonçalves: do nascimento à revolução.

Foto no site do Partido dos Trabalhadores (PT).

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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