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Opinião

Derrotar Bolsonaro continuará luta de uma geração

Derrotar Bolsonaro continuará luta de uma geração

Artigo por RED
06/10/2022 09:32 • Atualizado em 06/10/2022 13:38
Derrotar Bolsonaro continuará luta de uma geração

De LUIZ AUGUSTO CORREA KERN*

Sou do tempo em que a política se fazia nas ruas, nos bairros, nas esquinas da cidade. A chegada de um líder político nacional enchia o aeroporto. Brizola, Lula, Marina Silva, Ulysses Guimarães, Fernando Henrique Cardoso levavam repórteres e cinegrafistas a disputar lado a lado com militantes a atenção do candidato ali no Aeroporto Salgado Filho.

O comício nem se fala. Uma loucura. No Largo da Epatur ou no entorno do Mercado Público era adrenalina pura, emoção do início ao fim. Tempo de disputas memoráveis: Olívio Dutra x Antônio Britto, Tarso Genro x José Fogaça, Nestor Jost x Paulo Brossard.

E o que dizer dos comícios pela redemocratização do país, que levaram milhões às ruas entre 1982 e 1984? A luta pela Anistia em 1979 não foi diferente. Povo na rua, comícios vibrantes, a força popular empurrando o establishment a atender as demandas sociais. Nas universidades, nas escolas de 2º Grau (termo da época), nos sindicatos, o debate político era frenético.

Nada foi em vão.

A sociedade brasileira avançou como nunca. Surgiu o Sistema Único de Saúde (SUS), as eleições diretas e livres para todos os cargos foram retomadas, acabou a censura, foram consagrados novos e velhos direitos trabalhistas. O trabalho de várias gerações desaguou na nova Constituição brasileira de 1988. Décadas de luta se encaixavam para formar um texto que resumia a evolução e modernização dos valores sociais e políticos nacionais.

Batalhas de vida e morte, travadas com os conservadores de então, foram vencidas durante lutas que se estenderam por anos e anos de disputa de corações e mentes, como no filme de Peter Davis, que retratou a Guerra do Vietnã e mostrou a alma americana sugada pelo militarismo. Mas vencemos. Elegemos Lula em 2002, depois de novo em 2006, seguido de Dilma Rousseff duas vezes. Antes, havíamos tornado Fernando Henrique Cardoso presidente, que hoje, com a distância que o tempo permite e comparado com o bolsonarismo e Bolsonaro, foi um chefe da nação adequado para uma democracia e que merece respeito. Como disse Lula, que saudade quando nosso adversário era o PSDB.

As pedras rolaram e o tempo mudou.

Política não se faz mais nas ruas. Aqueles jovens que na década de 1960, 1970 e 1980 circulavam por bares, comícios, debates e mobilizações partidárias e estudantis, estão ou já passaram dos 70 anos. Foram anos alegres e felizes com as vitórias da época e que agora, sem dúvida, se transformam em preocupação e constrangimento por irmãos brasileiros que acreditam na mamadeira de piroca, que a ideologia de gênero é coisa do Fórum de São Paulo e que direitos trabalhistas e sociais são criações do comunismo.

Tempos sombrios.

Mas já vivemos isso antes. A sociedade já foi varrida pelo conservadorismo quando o golpe cívico-militar de 1964 ganhou apoio de muitos brasileiros. E nossa geração resistiu. Lutou, conversou, dialogou com amigos e vizinhos, parentes e colegas de trabalho. Até mostrarmos, como afirmou certa vez o grande Luís Fernando Veríssimo que “ser de esquerda não é uma opção, é uma decorrência”. Assim como ser democrata. É uma condição básica para a manutenção da civilização humana.

Neste segundo turno, devemos lembrar de todo esse longo período da história nacional. Nada foi nunca concedido, nada foi fácil. Muito esforço coletivo foi colocado em ação para avançarmos como sociedade, como um país em construção e que tem como destino a igualdade entre classes sociais.

Há muito por fazer ainda. E essa é a tarefa da geração que está na casa dos 60, 70, 80 anos. Ao lado dos jovens temos a responsabilidade de eleger Lula e restaurar a plenitude da nossa democracia. Converse com amigos, parentes, colegas e vizinhos. Esse é o campo de batalha. Mostre o que está em jogo. É a própria vida que se disputará em 30 de outubro.

Nossa geração não abdicará desta luta. Nem nossos filhos.

Não podemos descansar até a vitória. Vamos derrotar Bolsonaro.


*Jornalista.

Imagem em Pixabay.

As opiniões emitidas nos artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da Rede Estação Democracia.

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