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O diálogo interreligioso do muçulmano Al-Farabi

O diálogo interreligioso do muçulmano Al-Farabi

Internacional por RED
26/11/2024 11:00 • Atualizado em 25/11/2024 21:20
O diálogo interreligioso do muçulmano Al-Farabi

Por EDELBERTO BEHS*

O movimento ecumênico e o movimento interreligioso deveriam passar os olhares nos escritos do pensador muçulmano Abu Nasr Al-Farabi, que viveu entre 872 e 950 d.C., e, depois de fazer negócios pela Rota da Seda, estabeleceu-se em Bagdá para estudar filosofia. Ele deixou para o mundo lusófono os “alfarrábios”, sinônimo de livros.

Farabi nasceu na região de Samarcanda, ora turca, ora persa, um ponto importante na Rota da Seda. Embora fosse muçulmano, não falava árabe, língua que foi estudar, ao lado da Filosofia, em Bagdá. Quando Al-Farabi nasceu, o Islã, com cerca de 250 anos, era uma religião nova na região.

No estudo do árabe, Al-Farabi recorreu a um professor gramático muçulmano, Ibn Al- Sarraj. Mas para estudar Filosofia, informa o escritor português Rui Tavares em “Agora, agora e mais agora”, ele foi discípulo de um filósofo cristão, Matta bin Yunus, o que o faz supor que o estudante viveu no mesmo teto junto com cristãos.

Yunus era um cristão nestoriano, ou seja, um ramo do cristianismo que se expandiu para o Oriente, chegando à Índia e até mesmo até a China. Tavares assinala que Al-Farabi desenvolveu sua filosofia fundada “num diálogo para lá das fronteiras da religião, com o pensamento de outros seres humanos de religiões, comunidades e línguas diferentes”.

Ele recuperou escritos de Aristóteles e de Platão para a época e os legou ao mundo Ocidental. No tempo de Al-Farabi, continua Tavares, as fronteiras entre as religiões eram menos estanques, “sendo possível a um filósofo manter um diálogo inter-religioso – potencialmente até com quem não tivesse religião nenhuma – e permanecer membro de uma comunidade de crença como o islão”.

De Aristóteles Al-Farabi busca o conceito de zoon politikon, qual seja, o homem é um animal político. Ele parte, então, da pergunta “como criar uma política de convivência?” e conclui que os humanos têm que viver juntos. O filósofo define os seres humanos como “os membros daquela espécie que não consegue alcançar aquilo de que necessita sem viver junta, em muitas associações ou um único lar”.

E essa comunidade tem que ser, além de política, multireligiosa, um ambiente que ele encontrou em Bagdá antes dos anos 1000 d.C. Al-Farabi dialoga com filósofos antigos, como Platão e Aristóteles, e dialoga para além das religiões, e, surpreendentemente, para a atualidade. E esse é seu legado para um mundo inter-religioso

 

*Edelberto Behs é Jornalista, Coordenador do Curso de Jornalismo da Unisinos durante o período de 2003 a 2020. Foi editor assistente de Geral no Diário do Sul, de Porto Alegre, assessor de imprensa da IECLB, assessor de imprensa do Consulado Geral da República Federal da Alemanha, em Porto Alegre, e editor do serviço em português da Agência Latino-Americana e Caribenha de Comunicação (ALC).

Foto de capa:Getty Images

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