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Identitarismo: Instrumento de Prosperidade Coletiva

Identitarismo: Instrumento de Prosperidade Coletiva

Geral por RED
11/11/2024 18:30 • Atualizado em 10/11/2024 22:45
Identitarismo: Instrumento de Prosperidade Coletiva

Por MARCIA BARBOSA*

Em 2015, quando a consultoria internacional McKinsey [1] mostrou que empresas com administrações mais diversas obtinham maiores lucros, o tema da diversidade deixou de ser uma prerrogativa exclusiva dos direitos humanos e passou a integrar a esfera da eficiência. Essa mesma característica foi observada em um estudo acadêmico, que revelou que teses de doutorado produzidas por grupos não hegemônicos (mulheres nas áreas de exatas e negros e negras em qualquer tema) geravam mais inovação disruptiva [2].

No Brasil, o crescimento dos movimentos ditos identitários ocorre justamente no momento em que outras formas de participação social da esquerda, como a teologia da libertação e a atuação nos sindicatos, se enfraqueceram. Apesar das políticas de transferência de renda, como Minha Casa Minha Vida, Bolsa Família e as cotas sociais, a esquerda não conseguiu se apropriar dessas políticas de ascensão social. Em paralelo, o “identitarismo” é apresentado a essa população mais carente como um movimento de direitos humanos, ignorando o seu potencial para a prosperidade econômica coletiva. Atualmente, alguns movimentos, inclusive de esquerda, atribuem as derrotas eleitorais ao identitarismo. Afinal, o inferno são sempre os outros.

Em um país onde, segundo a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD), as mulheres já são a maioria dos chefes de família [3], lutar pela possibilidade de sucesso econômico das mulheres significa promover o crescimento para toda a coletividade.

Em 1999, a União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP) decidiu criar um grupo de trabalho para entender por que as mulheres não ocupavam altos cargos na física e, em particular, na própria IUPAP. A ideia surgiu quando o Conselho da IUPAP percebeu que havia apenas uma mulher entre seus membros e que, em seus comitês, era raro haver mais de uma mulher. Em vez de elaborar uma proposta formulada por uma dúzia de “iluminados”, o grupo decidiu estudar o tema decidiu ir às bases.

A estratégia era simples: construir uma rede de empoderamento feminino de baixo para cima. Entre 1999 e 2002, foram organizados grupos de mulheres na física em 65 países através de suas sociedades de física. Esses grupos tinham objetivos iniciais claros: obter dados sobre a participação das mulheres na física nos diferentes níveis em seus países. O processo de coleta de dados levou muitas mulheres a refletirem pela primeira vez sobre a sua própria situação o que deu origem à Primeira Conferência Internacional de Mulheres na Física da IUPAP em 2002.

O evento foi uma celebração da diversidade nunca vista em conferências tradicionais de física. Mais de 300 pessoas, 15% eram homens [4]. Apesar de concluir que a baixa participação das mulheres nas esferas de poder na física era um fenômeno mundial, o grupo entendeu que a construção de ações deveria seguir dois caminhos: um global, por meio da IUPAP, e outro local, por meio das sociedades científicas de cada país.

Passados 25 anos, a União Internacional de Física Pura e Aplicada (IUPAP) está de cara nova. A IUPAP incluiu o estabelecimento de uma pessoa chamada “Gender Champion,” com a tarefa de garantir a presença de mulheres nos comitês e eventos financiados pela IUPAP. Mulheres assumiram a presidência e são pelo menos 30% em seus comitês. Os grupos de cada país implementaram políticas locais, como, por exemplo, a licença-maternidade para bolsistas pesquisadoras no Brasil [5].  Agora o desafio é  ampliar a presença feminina na física desde a escola o que é possível, pois o trabalho de base permitiu criar uma rede mundial que entende que diversidade é um instrumento de prosperidade coletiva.

 

[1]Vivian Hunt Dennis Layton Sara Prince, Diversity Matters, McKinsey & Company, 2015. Acesso aqui.

[2] Bas Hofstra, Vivek V. Kulkarni, Sebastian Munoz-Najar Galvez and Daniel A. McFarland,  The Diversity-innovation Paradox in Science, PNAS, 117, 9284-9291 (2020). Acesso aqui.
[3] Solange Monteiro, Mulheres: responsabilidades aumentam mais que a renda, Blog da Conjuntura Econômica, FGV, Acesso aqui.

[] Marcia C. Barbosa, Equity for Women in Physics, Physics World, 16, July (2003). Acesso em: https://physicsworld.com/a/equity-for-women-in-physics/

 

*Marcia Barbosa  é Ppofessora do Instituto de Física da UFRGS.

Foto de capa: IA

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