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Recados e Lições da Vitória de Donald Trump

Recados e Lições da Vitória de Donald Trump

Internacional por RED
07/11/2024 12:00 • Atualizado em 06/11/2024 22:46
Recados e Lições da Vitória de Donald Trump

Por CARLOS EDUARDO BELLINI BORENSTEIN*

A análise política envolve um esforço de interpretação dos fenômenos conjunturais e estruturais olhando não apenas o presente, mas também refletindo sobre o futuro, a partir da leitura mais realista possível. Neste artigo, em que é analisada a vitória de Donald Trump na eleição presidencial do Estados Unidos, este objetivo será perseguido.

Independentemente das nossas preferências políticas, é importante reconhecer que a vitória de Trump representa um fato histórico de grandes proporções. A vitória no voto popular; entre os delegados; e a eleição de maioria na Câmara e Senado pelo Partido Republicano conferem a Trump o status de um dos maiores fenômenos eleitorais da política norte-americana. Números tão contundentes exigem uma análise realista para a compreensão deste fenômeno de repercussão global.

Uma primeira observação importante é que a “nova direita” tem obtido sucesso em seduzir parcelas importantes da sociedade. Redutos que no passado pertenciam ao Partido Democrata – e ao conjunto de forças progressistas – vêm passando por uma metamorfose em seu comportamento eleitoral, alinhando-se à direita. Isso tem ocorrido porque a “nova direita” tem conseguido se apresentar como a representante dos anseios de parcelas importantes da sociedade, a partir de uma narrativa antiestablishment, que passa também pelo conservadorismo na pauta dos costumes, a defesa da prosperidade – marcada por um forte engajamento religioso na política, e o entendimento de que a economia no governo anterior de Trump estava em melhor que hoje.

De outro lado, desde meados de 2016, quando teve início a ascensão da “nova direita”, as forças de esquerda têm apostado na narrativa do “combate à extrema-direita” e reflexões a respeito da “crise da democracia liberal”. Tais reflexões, repetidas pela campanha de Kamala Harris neste ano, geram um forte engajamento dos formadores de opinião a essas bandeiras, sendo reproduzidas pelo campo progressista mais intelectualizado, mas distante da compreensão do eleitor médio. Outra discussão importante envolve o identitarismo. Essa agenda, mesmo que represente a democratização de setores historicamente ausentes da representação política, também tem demonstrado um efeito eleitoral limitado.

Mais do que a clássica explicação de James Carville “É a economia, estúpido”, o ambiente de “guerra cultural”, com o avanço da pauta dos costumes, tem prevalecido sobre o identitarismo progressista, ancorado na estratégia do medo direcionada fundamentalmente aos segmentos mais conservadores. Há, assim, um descompasso entre a agenda escolhida pelas forças progressistas e a percepção que os eleitores têm dessa pauta.

Assim, as narrativas que soam como música na intelectualidade progressista são vistas de outra forma por parte significativa do mercado eleitoral. Estamos diante de uma dissonância, em que o discurso do combate à “extrema-direita” está distante da compreensão da sociedade, já que as esquerdas têm sido identificadas como o establishment.

A “nova direita”, de outro lado, possui um discurso de fácil entendimento, que simplifica a compreensão da política e do mundo, através de uma comunicação segmentada, curta e direta, principalmente nas redes sociais, explorando a pauta dos costumes.

A eleição de Donald Trump nos Estados Unidos combinado com a vitória da centro-direita nas eleições municipais trazem também importantes desafios para o campo progressista quando olhamos para o Brasil. Embora não haja uma transposição automática do cenário norte-americano para o nosso país, é inegável que a ofensiva da direita coloca à esquerda na defensiva.

Neste cenário, seguir ancorado no discurso do combate à “extrema-direita”, estabelecendo reflexões sobre a “crise da democracia”, colocando a pauta identitária no centro da agenda, continuará fortalecendo a estratégia da “nova direita”, que aposta na logica da polarização permanente.

Além de abrir seu programa às novas realidades do mercado de trabalho, as forças progressistas terão o desafio de ampliar a Frente Ampla, caminhar para o centro e construir uma agenda que dialogue não apenas com a esquerda, mas contemple o centro.

Basta observar os últimos resultados eleitorais de forma realista para constatar que a disputa com a “nova direita”, tendo como norte um programa e a construção política ancorada na chamada esquerda pura, está fadado ao insucesso na atual conjuntura em que o pêndulo se moveu para a direita.

 

 

Carlos Eduardo Bellini Borenstein, Doutorando em Ciência Política na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). Mestre em Comunicação Social pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS). Bacharel em Ciência política (ULBRA-RS). Especialista em Ciência Política (UFRGS). Tem MBA em Marketing Político (Universidade Cândido Mendes). Analista político da Arko Advice pesquisas.

Foto de capa:  Agência Brasil 

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