Esquerda favorita nas eleições

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Por SOLON SALDANHA*

As urnas confirmaram, neste domingo e sem nenhuma surpresa, que o candidato da esquerda é o favorito para chegar ao poder. Yamandú Orsi, da Frente Ampla, terminou em primeiro lugar no primeiro turno e deverá enfrentar, no dia 24 de novembro, data do segundo turno, o candidato conservador Alvaro Delgado, do Partido Nacional. Na terceira posição chegou Andrés Ojeda, do Partido Colorado, sendo este último o de maior presença nas mídias sociais – o que, no caso do país vizinho, não lhe garantiu o sufrágio necessário. Ainda existiam outros candidatos, cuja votação foi inexpressiva. Estou me referindo ao Uruguai, como não deve ter sido difícil para os eleitores perceberem.

Os uruguaios deverão manter dentro de um mês aquilo que apontam as pesquisas e o que preveem todos os analistas políticos: o seu desejo de entregar o comando do país outra vez para a Frente Ampla. Na chapa, como vice de Yamandú, está Carolina Cosse, ex-prefeita de Montevidéu, que é do Partido Comunista. Os cargos de presidente e vice serão exercidos pelos nomes componentes da chapa que venha a vencer, entre os anos de 2025 e 2030.

A coalizão Frente Ampla já governara o Uruguai durante 15 anos, com dois mandatos de Tabaré Vázquez (2005/2010 e 2015/2020) tendo entre eles um de José Mujica (2010/2015). Isso antes deste atual período, que tem Luis Alberto Lacalle Pou como presidente, representante de uma coligação conservadora. No período em que a esquerda governou foram aprovadas e sancionadas várias leis progressistas, como a permissão para o casamento entre pessoas do mesmo sexo e a legalização do uso da cannabis para fins recreativos. Também foi desencadeado processo que levou o país a ter uma das redes de energia mais verdes do mundo, sendo agora cerca renovável em 98% do total. Ao longo deste tempo o país também alcançou uma estabilidade social invejável, o que o mantém bem distante dos riscos totalitários vividos no Brasil, com Bolsonaro, e na Argentina, com Milei.

Quem mais se aproximava destes dois maus exemplos vizinhos era o candidato que ficou de fora. Ojeda é um advogado musculoso de 40 anos, com propostas pouco sérias e muito mais frutos da sua experiência midiática. Buscava atrair jovens eleitores apresentando vídeos na sua campanha que o mostravam fazendo exercícios em uma academia, além de outros ainda mais espalhafatosos e sem nenhum sentido propositivo. Alvaro Delgado, por sua vez, o representante situacionista, tem 55 anos, é deputado e foi chefe de gabinete do atual presidente. Como profissão, é veterinário.

Yamandú Orsi tem 57 anos, foi prefeito e trabalha como professor de História. Tem raízes humildes e manteve sem esforço algum a sua imagem nos anúncios da campanha eleitoral. Eles o mostravam com cuia na mão, tomando mate, além de em alguns aparecer passeando com o seu cachorro em roupas casuais. Isso porque era assim que ele era visto na vizinhança antes de se tornar candidato – não passou, por exemplo, a usar um chapéu de palha por interesse, forçadamente.

A votação não foi apenas para presidente: também foram escolhidos 30 senadores e 99 deputados, além de ser decidida pela reformulação ou não do atual sistema de seguridade social do país, em dois referendos constitucionais. O número de eleitores aptos a votar agora em 2024 era de exatos 2.727.120. Os uruguaios não são obrigados por lei a votar nos seus plebiscitos, mas o voto é obrigatório quando se tratam de disputas para a presidência e o parlamento. A participação no pleito anterior, ocorrido em 2019, ultrapassou os 90% e se tornou uma das maiores de todo o mundo democrático.

Sobre os referendos, o primeiro analisa proposta do presidente Lacalle Pou, que deseja autorizar operações policiais em residências durante a noite, o que agora é proibido. O segundo quer reduzir a idade mínima para a aposentadoria, dos atuais 65 para 60 anos, sendo uma proposta apresentada pela central sindical única Pit-CNT, além de ligar pensões ao valor do salário mínimo, na busca de dar mais dignidade para os trabalhadores aposentados.

Dados oficiais divulgados por “La Corte Electoral” às 04h44min desta madrugada, quando a apuração alcançava 99,92% do total, mostravam os seguintes números: Yamandú Orsi, da Frente Ampla (esquerda), 1.057.515 votos (43,94%); Alvaro Delgado, do Partido Nacional (centro/direita), 644.147 votos (26,77%); e Andrés Ojeda, do Partido Colorado (direita/extrema-direita), 385.685 votos (16,03%). Em termos territoriais, Yamandú liderou em 12 dos 19 Departamentos – regiões que seriam equivalentes aos nossos Estados – que compõem o país: Montevidéu, Canelones, Colônia, Durazno, Florida, Paysandú, Rio Negro, Rocha, Salto, San José, Soriano e Tacuarembó. Delgado chegou na frente em seis: Artigas, Cerro Largo, Flores, Lavalleja, Maldonado e Treinta y Tres. E Ojeda venceu apenas em um: simbolicamente, Rivera, na divisa com o Rio Grande do Sul. Para que não passe em branco, entre os candidatos “nanicos” o mais destacado foi Guido Manini Rios, do Cabildo Abierto, um partido de extrema-direita fundado em 2019. Obteve 2,43% dos votos.

Como curiosidade, o papel do vice-presidente no Uruguai é muito maior do que o atribuído no Brasil e em outros países. Lá ele assume como sendo o “primeiro senador” e presidente da Assembleia Geral. Isso potencializa a importância da sua função, o tornando de certa forma a principal ponte entre os poderes Executivo e Legislativo. Outra é que existem votos que chamam de “observados”. Estes ficam latentes, sendo contados apenas se necessário, com o placar muito próximo entre dois candidatos. Nesta categoria se enquadram votantes em zona eleitoral diferente da sua, ou cujos nomes por alguma razão não são encontrados nos cadastros. Os dados são anotados em separado, para verificação posterior.

 

*Jornalista e blogueiro.

Texto publicado originalmente no Blog Virtualidades.

Foto: Divulgação | Yamandú Orsi, da Frente Ampla, vai para o segundo turno como favorito

Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.

 

 

 

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