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“Eu votaria no Sebastião”
“Eu votaria no Sebastião”
Por FLÁVIO SAIDELLES*
Meu sonho era votar em Porto Alegre, pra votar no Sebastião, disse uma ceguinha que permanecera em silêncio, sentada ao meu lado ontem, lá no hospital de Osório. Do outro lado, um paciente bolsonarista de Cidreira conversava com o médico plantonista do dia, que foi da Capital para dar suporte à equipe da hemodiálise.
Pensei com meus botões que, ela havia feito essa afirmação porque o Dr ao lado havia afirmado votar no Melo pois pra ele o prefeito da enchente era o melhor. Podia ser somente pra puxar conversa.
No entanto, havia uma intimidade a mais num provável voto dela: o plantonista vota no Melo, ela votaria no Sebastião.
O Dr. mora na região do Morro Santana, onde Cyrela Goldsztein e Rossi construíram seus condomínios, mesma área onde resido em Porto Alegre e onde as enchentes de maio não fizeram vítimas. Outros populares de bairros vizinhos, como o Jardim Ipê, Jardim Ypu, Jardim Carvalho e arredores da Bom Jesus, que escoram os empreendimentos de classe média das construtoras financiadoras das campanhas do Melo também votam no Sebastião. Todos eles votam com essa intimidade, do mesmo modo que intimidade têm com vítimas da irresponsabilidade já comprovada do Prefeito na conservação da estrutura básica de segurança do Município contra as cheias… Todos condenariam outros prefeitos por muito menos.
Porém, todos passam pano para Sebastião Melo por mais falcatruas que tenham sido denunciadas na sua administração, em diferentes áreas.
No fundo, no fundo, a título de resgate da verdade, é importante se observar que, aqueles que “não tinham bandidos de estimação” durante o andamento dos processos do mensalão e da lava-jato, agora têm bandidos de estimação.
De certa forma, o período do governo Bolsonaro serviu para que todos justificassem o injustificável, a legitimação de bandidos de estimação, mesmo sob a bandeira da Pátria, da família e de Deus, contra a corrupção.
…A alienação política dos porto-alegrenses, mesmo considerando a onda neofascista que assola o Planeta, não se assenta só na hipocrisia que fundamenta os discursos sulistas transvestidos de conservadores e neoliberais, se assenta principalmente no antiPTismo e este fato é algo que a democracia vai deixar por enquanto em aberto para que os partidos de esquerda aprendam a lidar com isto no futuro.
* Flávio Saidelles é sociólogo e professor
Foto: Alegre | Giulian Serafim/PMPAOs artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaoportalred@gmail.com. Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.
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