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ELEIÇÕES EM POA: O VENDILHÃO DE CHAPÉU DE PALHA E O ESGOTO DIGITAL

ELEIÇÕES EM POA: O VENDILHÃO DE CHAPÉU DE PALHA E O ESGOTO DIGITAL

Artigo por RED
26/09/2024 18:00 • Atualizado em 25/09/2024 18:24
ELEIÇÕES EM POA: O VENDILHÃO DE CHAPÉU DE PALHA E O ESGOTO DIGITAL

Por ILTON FREITA*

Somos contemporâneos dos “campos de demarcação e propaganda” digitais. As ditas redes sociais foram capturadas pelas grandes corporações de tecnologia norte-americanas e degeneraram em  “indústrias de produção cultural de fascismo” no Ocidente. Evidentemente que as tecnologias da informação poderiam ser utilizadas para qualificar as democracias. Mas o que constatamos é que os potenciais comunicacionais  e democráticos das redes sociais foram despotencializados, fragmentados e corroídos pelo neofascismo.

Por seu turno, a operação para tornar o potencial democrático da internet em seu contrário, se valeu basicamente de dois movimentos delituosos. O primeiro foram as malfadadas “fake News”. E o segundo, intimamente vinculada as notícias mentirosas foram e são os discursos de ódio. Próceres da dita ultradireita como os astrólogo e falsário Olavo de Carvalho, traduziram esse movimento como uma “guerra cultural”, ou “guerra contra o marxismo cultural”. Por pior que seja o odor em revisitar as estratégias dos inimigos do povo, é fundamental que o campo progressista e que disputa eleições em nosso País leve em consideração essa mudança estrutural nas plataformas sociais da rede.  Do meu ponto de vista não faz mais sentido estratégias de disputa de corações e mentes nas redes a partir de discursos racionais, universalistas e simétricos. A operação é outra. Não mais “furar bolhas” discursivamente, mas aumentar a própria “bolha” nos parece o caminho mais adequado para o enfrentamento dos quintas-colunas.

A mídia-empresa tradicional conserva o seu papel de gerenciadores de percepção tendo em vista desinformar um vasto público, mas também se presta como instância de validação e de propaganda das mentiras e das omissões promovidas em escala industrial. Desse modo alguns fenômenos da política brotam desse esgoto digital e são naturalizados pela mídia diante de uma cidadania perplexa. Cito alguns frutos podres como a eleição do fascistóide e demente presidente da Argentina, Javier Millei, e no Brasil poderíamos apontar Bolsonaro e mais recentemente o vigarista e aplicador de golpes financeiros contra aposentados, o candidato a prefeitura de São Paulo, Pablo Marçal.

Mas nessa macabra lista de fenômenos putrefatos da política na era digital, não poderíamos deixar de nos referir ao candidato Melo de Porto Alegre, o prefeito que por negligência, incompetência e redução das capacidades da ação estatal permitiu que quase a terça parte do município fosse inundada pelas enchentes de maio. E mesmo assim, pasmem, lidera a intenção de voto no município segundo um instituto de pesquisa.

No caso de Porto Alegre, embora a soma das intenções de voto na oposição a Melo provoquem um “empate”, o que chama a atenção é a intenção de voto no atual prefeito. Observadores da cena política de outros estados perguntam, como é possível que Melo tenha viabilidade eleitoral após os desastres administrativos de gestão na enchente de Maio?  Vamos combinar que num contexto eleitoral “normal” nas democracias liberais, um prefeito corresponsável pelas consequências de uma tragédia climática seria carta fora do baralho. No entanto não há mais contextos normais regendo as democracias liberais. As oligarquias vassalas do império estadunidense de países como o Brasil, encaminharam ‘as favas os frágeis regramentos eleitorais dos regimes democráticos. Para além da mídia tradicional contam com as redes sociais, posto que há uma enorme bolha fascista a polarizar eleitores posicionados mais ao centro do espectro político. Concretamente  sucedeu que o monopólio de comunicação sediado na Av Ipiranga, mancomunado com o ICF, sustentado pelos grupos empresariais que se empanturraram com a destruição do espaço público e com o afrouxamento das regulações ambientais para a construção de prédios luxuosos em Porto Alegre, promoveram uma enorme operação de preservação do atual do prefeito. Fizeram isso se valendo do modus operandi normal da mídia tradicional em omitir as responsabilidades administrativas da prefeitura, combinada com a infoesfera bolsonarista instrumentalizada pelo ICF, para martelar a inoperância do estado e a superestimação dos indivíduos que prestaram trabalho voluntário. A mensagem subjacente e explícita é que dependemos do esforço individual para a superação dos problemas estruturais causados pela enchente.

Obviamente que essa peste informacional a que somos submetidos e que convertem bandidos como Marçal e vendilhões e incompetentes como Melo em candidatos competitivos, não tem solução imediata. O Estado brasileiro teria que regulamentar severamente os perpetradores de crimes digitais, e no médio prazo construir uma infovia de informação e comunicação soberana e  independente, de brasileiros para brasileiros.

Muitos dos estudos sobre esferas públicas comunicacionais já haviam localizado em meados do século passado, a colonização da mídia de comunicação de massa pelo grande capital. Desse modo a degradação dos grandes veículos de imprensa tornaram o debate público entre diferentes projetos políticos interditados, ou, tolerados até o ponto de não interferirem nos interesses do grande capital. Mas nada é tão ruim que não possa piorar. Com o advento das redes sociais convertidas em indústrias discursivas fascistas ocorreu uma inflexão que ameaçam as democracias e a civilização. A disputa eleitoral em Porto Alegre invoca essa disjuntiva que diz respeito a sobrevivência da civilização e da humanidade. Ou seja, a barbárie e sua face de chapéu de palha versus o centro democrático e a oposição de esquerda representados bravamente por duas mulheres.

*Ex-pesquisador CEGOV/UFRGS e Cientista Político.

Foto: © Agência Brasi

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