Especial
Programação cultural – de 6 a 12 de abril
Programação cultural – de 6 a 12 de abril
Por LÉA MARIA AARÃO REIS**
*Programa de exercício de memória. Mais denúncias do genocídio da população da Palestina repercutem no mundo inteiro: trezentos palestinos – entre as vítimas, sempre muitas crianças –, foram assassinados, segunda-feira passada, no pátio do hospital al-Shifa, da Cidade de Gaza enquanto tentavam fazer uma refeição. Um ataque do exército israelense, que já se prolongava há quinze dias, deixou a maior parte do importante complexo médico em ruínas. Após o bombardeio, os médicos que trabalhavam no pátio do hospital recolheram o impressionante entulho humano de cerca de 20 corpos atropelados e dilacerados por veículos militares do governo de Israel.
*Outro programa para não esquecer: o ataque gratuito do exército israelense, esta semana, resultando na morte de sete membros da ONG World Central Kitchen. O grupo estava dentro de um comboio carregado de alimentos que seriam distribuídos aos famintos moradores da região. O veículo estava claramente identificado como de ajuda humanitária e autorizado pelo governo de Israel para rodar e transportar víveres recém-desembarcados na praia.
*No livro A vida não é útil Krenak escreve: “Quanto tempo nos dedicamos a desfrutar o privilégio de estar vivo? Somos instigados a fazer algo a todo tempo, em vez de simplesmente viver. Nossa cultura dificulta a concepção de uma vida que não tenha o trabalho como razão primordial da existência”.
*Sugestão: assistir doc sobre o líder Krenak: documentário Guerra sem Fim – Resistência e Luta do Povo Krenak, de 2016, no Youtube (clique aqui).
*Outros dois filmes de referência para essa semana que repercutem os 60 anos do golpe civil-militar de 1964: Como, quando e porque se derruba um presidente,de 1984, documentário de Silvio Tendler produzido pela Caliban. No Youtube (clique aqui). E outro: O dia que durou 21 anos, de 2004, em exibição no Canal do Instituto Vladimir Herzog, do diretor Camilo Tavares, também no Youtube (clique aqui).
*Ministro Silvio Almeida, da pasta de Direitos Humanos e da Cidadania, domingo último, no seu discurso sublinhando a nefasta data de 31 de março: “É preciso ter ódio e nojo da ditadura, como disse Ulisses Guimarães”.
*Programa teatral imperdível relembrando os 60 anos do golpe civil-militar de 1964, a peça Murro em ponta de faca, de Augusto Boal, está em cartaz no Teatro de Arena Eugenio Kusnet, em Vila Buarque, São Paulo. Texto de 1974 que descreve a trajetória de seis exilados políticos tentando sobreviver à expatriação. Ele próprio, Boal, foi um exilado durante a ditadura e escreveu: “Exílio é meia morte, como prisão é meia vida”. Sessões aos sábados e domingos às 19h00, e às sextas-feiras, 20h00. Estreia na sexta-feira, dia 5/4, e vai até o dia 28 deste mês. A encenação é do grupo Pedra Livre.
*Ainda é forte a repercussão da data de 60 anos do golpe civil-militar de 64. Entre centenas de manifestações públicas, desfiles, debates, comícios, caminhadas, lives, mobilização em geral de grupos organizados de ativistas, de militantes, sindicatos, de trabalhadores e de artistas, o evento, dia 9 próximo, no Teatro Casa Grande, Rio de Janeiro, no Leblon, promovido pelo Ibep (Instituto Brasileiro de Ensino e Pesquisa), pelo Instituto Zuzu Angel e pelo Sindicato de Engenheiros. Das 18h00 às 20h00. No debate, um time de peso: Nilmário Miranda, Amir Haddad, João Cesar de Castro, Dulce Pandolfi, Lincoln Penna e Hildegard Angel.
*Um volume de leitura indispensável sobre esse período sombrio da vida política brasileira, Um homem torturado – Nos passos de frei Tito Alencar, da jornalista Leneide Duarte-Plon e de Clarisse Meireles, acompanha a trágica trajetória do jovem dominicano Tito de Alencar e reconstitui o engajamento dos dominicanos de São Paulo na história de resistência à ditadura. Frei Tito foi torturado nos porões do regime ditatorial, depois foi um dos 70 prisioneiros trocados pelo embaixador suíço Giovanni Enrico Bucher, sequestrado em 1969, e morreu exilado em Paris, onde se suicidou. O livro foi lançado em 2020, editado em francês. O trabalho seguinte de autoria de Leneide, A tortura como arma de guerra – Da Argélia ao Brasil está sendo traduzido para o francês nesse momento e será lançado pela Editora L’Harmattan. Ambos são da Civilização Brasileira/Record e os dois foram finalistas do Premio Jabuti.
*Lançamentos: a quarta edição revista e ampliada de Nem pátria, nem patrão! (Editora Unesp), de Francisco Foot Hardman. É um mergulho na área de história do trabalho e das culturas entre operários. Outros trabalhos editados pela mesma Unesp: Escritos de um viado vermelho, de James Naylor Green; Dominação e desigualdade, de Paul Singer; Tempos difíceis, organizado por Sebastião Carlos Velasco e Cruz e Neusa Maria Pereira Bojikian e Re-trabalhando as classes no diálogo Norte-Sul, de Tullo Vigevani e Haroldo Ramanzini Junior.
*Comentário do cientista político e ex-ministro da Ciência e Tecnologia Roberto Amaral, em artigo intitulado Na Antessala do horror: “Um dos livros mais instigantes e informativos sobre o golpe é o 1964 na visão do ministro do trabalho de João Goulart, de autoria de Almino Afonso, parlamentar, jurista e advogado de primeira água. Bem editado, foi pessimamente comercializado, e assim não obteve a repercussão merecida. (…) Leitura mais do que nunca preciosa nesses 60 anos da instauração da mais longeva e brutal ditadura militar brasileira”.
*Relator especial da ONU para Verdade, Justiça e Reparação, Fabian Salvioli, sublinhou, esta semana, em entrevista coletiva: “O processo de memória é um valor em si mesmo. Não pelo que ocorreu no passado. É um valor para a construção de uma democracia forte e saudável para o futuro”. Segundo Salviolli, “a ditadura ainda não foi superada no Brasil. Há uma intenção clara de não querer que sejam abordados determinados fatos”.
*Outro livro preciso, de autoria do gaúcho Juremir Machado da Silva, é 1964, golpe midiático-civil-militar, que em 2020 se encontrava na nona edição. Relançado agora, o tema é aparticipação da mídia no golpe de 1964.O escritor, jornalista e professor Machado da Silva diz que essa participação “é uma das maiores pizzas da história brasileira” considerando o ditado popular, ‘no Brasil tudo termina em pizza’. (Editora Sulina). A ler.
*Também nas prateleiras das livrarias, 60 anos do golpe – Novo tempo (45 anos da anistia) organizado por Daniel Souza, Gylmar Chaves e Paulo Abrão, da Mórula Editorial da Cidadania. Trecho da apresentação do importante trabalho intitulado Sem memória não háfuturo: “Há 60 anos, militares tomaram o poder com um golpe apoiado por boa parte da classe média e da elite econômica brasileira. Entre 1964 e 1985, milhares de cidadãos contrários ao regime totalitário foram censurados, perseguidos, torturados e exterminados. Equívoco considerar que essa história pertence ao passado; o militarismo brasileiro segue forte, atuante e impune. A instituição da violência e a certeza da impunidade são legados ditatoriais que ainda hoje deixam vítimas e ameaçam nossa frágil democracia”.
*A plataforma Embaúba Play preparou uma seleção de filmes sobre a ditadura de 64 e alguns dos seus desdobramentos. “Algumas produções testemunham o passado, inscrevem nomes de vítimas e algozes na memória coletiva e expõem os efeitos nefastos da força bruta. Outras examinam o presente, com fagulhas da tragédia e centelhas da esperança, para que seja possível, enfim, seguir em frente entre a constatação do perigo e a necessidade da luta”, enfatiza a curadora da Embaúba Carla Maia. Alguns dos filmes para aluguel: Retratos de identificação, de Anita Leandro; Os dias com ele, de Maria Clara Escobar; Procura-se Irenice, de Marco Escrivão e Thiago B. Mendonça; Pastor Cláudio, de Beth Formaggini; Estranho animal, de Arthur B. Senra; A guerra dos gibis, de Thiago B. Mendonça e Rafael Terpins; Tatuagem, de Hilton Lacerda; Num país estrangeiro, Karen Akerman e Miguel Seabra Lopes; O golpe em 50 cortes ou a corte em 50 golpes, de Lucas Campolina; Vento frio, de Taciano Valério, e Bloqueio, de Victória Álvares e Quentin Delaroche.
*O Clube de Leitura da Editora Tabla, dia 24 próximo, promove debate sobre a novela O tumor, do autor líbio Ibrahim Al-Koni com tradução de Mamede Jarouche. Trata-se de uma alegoria sobre o poder e discute processos de corrosão e devastação desencadeados pela sede de comando e pelas ambições desmedidas que a acompanham. Na ocasião, leitura da novela.
*Europa: Integração e Fragmentação (Coleção Relações Internacionais da Editora Contexto) descreve a história e fundamentos da integração econômica e política da Europa desde o mercado comum europeu até o início do Brexit. Autores: Antonio Carlos Lessa, professor da Universidade de Brasília e Angélica Szucko, professora da Pontifícia Universidad Javeriana de Bogotá e pesquisadora associada à Universidade de Brasília.
*A Editora Unesp está oferecendo 50% de descontos em mais de mil livros expostos na VI Feira do Livro da Universidade do Estado de São Paulo, entre 3 e 9 de abril. @feiradolivrodaunesp ou site da @livrariaunesp.
*Outra feira para visitar: de 9 a 11 de abril, a 5ª Feira do Livro da Editora da Unicamp, no pátio do Ciclo Básico II da Universidade de Campinas com livros vendidos no local ou através do site também com 50% de desconto.
*Livro em destaque, Tornar-se Palestina, trabalho sobre a ancestralidade, a herança do exílio, perda e recuperação da identidade. A autora, Lina Meruane, é descendente do avô que emigrou para o Chile sonhando com uma vida semelhante à da sua aldeia de origem, Beit Jala, na Cisjordânia. Duas gerações depois, Meruane, professora universitária, retorna ao território descrito por esse avô (Editora Relicário).
*Abril, mês do Festival É Tudo Verdade. No ano em que completa 80 anos, Luís Fernando Veríssimo é protagonista de Veríssimo, de Angelo Defanti, exibido na mostra competitiva que vai até dia 14, em São Paulo e no Rio. O universo de Veríssimo não é novidade para Defanti. Em 2022 ele lançou a ficção O Clube Dos Anjos baseado no livro homônimo do escritor, além dos curtas Feijoada Completa e Maridos, Amantes e Pisantes, ambos baseados em seus contos.
*E Helena Solberg, cineasta que vem dos tempos do Cinema Novo, apresenta o seu curioso e original documentário Um Filme para Beatrice a partir de pergunta da jornalista italiana Beatrice Andreose feita a ela, durante uma entrevista: “Como vão as mulheres no Brasil?”. Sessões às 18h00 no Espaço Itaú de Cinema Augusta, no próximo dia 10 às 14h30 no Instituto Moreira Salles paulista e dia 13, às 14h00, no Estação Net de Cinema Rio, sala 2.
*O filme No Submundo de Moscou (Khitrovka), de Karen Shakhnazarov, fez sucesso em São Paulo e em cinemas de várias capitais brasileiras. O personagem central é o diretor de teatro Konstantin Stanislavsky. E Karen, diretor também de O Tigre Branco, é o presidente da Mosfilm, estúdio que está comemorando 100 anos de existência, em 2024.
**Jornalista carioca. Foi editora e redatora em programas da TV Globo e assessora de Comunicação da mesma emissora e da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro. Foi também colaboradora de Carta Maior e atualmente escreve para o Fórum 21 sobre Cinema, Livros, faz eventuais entrevistas. É autora de vários livros, entre eles Novos velhos: Viver e envelhecer bem (2011), Manual Prático de Assessoria de Imprensa (Coautora Claudia Carvalho, 2008), Maturidade – Manual De Sobrevivência Da Mulher De Meia-Idade (2001), entre outros.
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A imagem é uma montagem do site Fórum21.
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