Opinião
Um personagem farrapo esquecido
Um personagem farrapo esquecido
De ADELI SELL*
Se alguém pedir para citar alguns personagens da Guerra dos Farrapos, certamente você vai saber falar de Bento Gonçalves, General Netto, David Canabarro, Gomes Jardim, Onofre Pires, talvez de João Antônio da Silveira. Mas duvido que alguém de sopetão se lembrará do articulador civil mais importante, Domingos José de Almeida. Não era rio-grandense. Era mineiro. Como era carioca, o Tenente Alpoim que iniciou o Partido Farrapo por aqui.
O partido foi fundado em 1832, pelo Tenente Luís José dos Reis Alpoim, deportado do Rio para Porto Alegre. O grupo se encontrava na casa do major João Manuel de Lima e Silva, sede também da Sociedade Continentino. O objetivo do partido era criar a federação, desenvolver o nacionalismo e proclamar a república. Este João Manoel é que dá nome à rua no Centro Histórico da capital e a Rua Tenente Alpoim na Zona Leste é uma homenagem a este tenente citado.
Domingos José de Almeida era dado ao comércio, vindo ao Rio Grande do Sul em 1819, instalando-se em Rio Grande, casou-se ali. Começou com o comércio de mulas. Depois, fundou uma charqueada à margem do Arroio Pelotas, tornando-se um grande industrialista. Já em 1832 ele inicia a navegação fluvial no Estado.
Era de tendência bem liberal. Inclusive, seu barco chamava-se Liberal.
Só depois virou major, coronel da Guarda Nacional em Pelotas. Na época era indicação pura e simples, mesmo sem ter tido qualquer formação militar. Foi o caso também de Bento Gonçalves. Foi eleito para a Assembleia, onde apontava o caminho da revolução ou guerra dos farrapos.
Em 1835, logo depois do início da Guerra, foi preso em sua casa em Pelotas e ali ficou retido até a fuga do Presidente Fernandes Braga para o Rio. Proclamada a República Piratini em 1836, Domingos José de Almeida é nomeado Ministro do Interior e interinamente da Fazenda.
Toda a parte organizacional de finanças e temas afins na Guerra dos 10 anos foi ele quem fez. No projeto da Constituição que nunca vigorou ele teve o papel principal. Antes do final da guerra em 1845 houve dissidências, ele voltou às suas lides, descapitalizado. Cria um jornal, “Brado do Sul”, colocando-o nas mãos do teuto-brasileiro Carlos von Koseritz. Era um intelectual do seu tempo, lendo obras importantes como as de Beccaria e Rousseau. Alfredo Varella, nosso grande historiador, dedica a eles muitos elogios.
Nos textos que li, como o de Othelo Rosa, não há menção a escravos, mas certamente sua charqueada era tocada por eles. Por que motivo não se fala disto? Por que este nome não é mais lembrado quando se fala da Guerra de 1835-1845? Afinal, perguntar não ofende!
*Professor, escritor, bacharel em Direito, vereador em Porto Alegre.
Imagem em Wikipedia.
Os artigos expressam o pensamento de seus autores e não necessariamente a posição editorial da RED. Se você concorda ou tem um ponto de vista diferente, mande seu texto para redacaositered@gmail.com . Ele poderá ser publicado se atender aos critérios de defesa da democracia.
Toque novamente para sair.