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Opinião

O bom e velho PTB reencarnou

O bom e velho PTB reencarnou

Artigo por RED
05/01/2024 05:25 • Atualizado em 08/01/2024 10:51
O bom e velho PTB reencarnou

De PAULO TIMM*

No início de dezembro (2023), o deputado constituinte Vivaldo Barbosa (PDT/RJ) deu a conhecer a iniciativa dele e de alguns antigos colaboradores de Leonel Brizola: estava recriado, com o aval do Tribunal Superior Eleitoral, o PARTIDO TRABALHISTA BRASILEIRO, fundado por Getúlio Vargas em 1945 para ser a coluna vertebral  de sustentação de seu mandato que seria iniciado em 1950 e extinto pelo regime militar em 1966.

O curto período de vigência democrática de 1946/64 foi, aliás,  marcado pela intensa mobilização política do país e polarizada disputa ideológica entre forças progressistas, aglutinadas em torno do PTB e conservadores aglutinados na UDN. Jefferson Barros, um dos grandes intelectuais porto-alegrenses, desde o começo dos anos 60 até sua morte (2000), analisou com maestria (em artigo lamentavelmente extraviado) o papel dos Partidos no período 46/66, evidenciando a importância dos mesmos na vida pública do país

A reorganização do trabalhismo, extremamente dificultada pela campanha de difamação levada a cabo à direita, pela ditadura e seus acólitos,  e à esquerda, aqui sobretudo pela crítica ao “populismo” que teve seu epicentro na Universidade de São Paulo,  teve início quando Brizola chamou ao Encontro dos Trabalhistas, em junho de 1979, em Lisboa. Aí foi lavrada a pauta de princípios da velha sigla PTB, a  “Carta de Lisboa”, propondo o  trabalhismo como caminho brasileiro para o socialismo moreno, vinculado a II Internacional Socialista. Ou seja, uma clara opção pelo reformismo social-democrata, então defendido por Wily Brandt e Mário Soares, patrocinador do Encontro de Lisboa, na Sede do Partido Socialista Português e lá presente, nos termos em que mais tarde estes  e outros líderes europeus sustentarão no Manifesto Programa de 2000 (Ed. Sistema, Colección de Ciências Sociales, Madrid, 1991 apud Tarso Genro em Três informes da crise socialista e três desafios da sua redenção:

“a validade de uma economia mista em que o estado, em novas funções, com novos procedimentos e abrindo-se à participação, deve atuar sobre a base do mercado e (…) desfraldar a bandeira de uma sociedade livre e cooperativa, que é a meta do socialismo democrático”.

Voltando ao Brasil depois da Anistia, no final daquele ano, o ex governador gaúcho sediou-se no Rio, onde viria a ser também eleito Governador em 1982, e reorganizou o PTB, contra grande parte da esquerda ortodoxa (PCB, PCdoB e MR 8) que se batia pela incorporação de setores progressistas ao manto liberal do MDB, com o argumento da “Unidade das Oposições”. Isso posto, requereu   o devido registro, ao cabo de  épico plantão, do qual participei,  durante as festas de fim de ano  de 1979 na portaria do Tribunal Superior Eleitoral, em Brasilia. Temia-se que Ivete Vargas, dissidente, aliada ao regime miitar,  tivesse a primazia do Protocolo na concorrência pelo direito à sigla. Ela estivera em Lisboa mas rejeitara a reatualização do PTB ali aprovada. Entramos, enfim,  com o pedido de registro do PTB no TSE na frente dela no primeiro dia útil de 1980. Uma pequena lembrança deste dia:  Na hora de entregar os documentos, nas mãos do Deputado Getúlio Dias, este teve a gentileza de os passar para mim, com estas palavras: – “Tu ficaste no plantão durante dias e és bem mais moço do que eu, entrega aí e posa pra foto histórica”. Com efeito, ganhei um belo registro na primeira página do Jornal do Brasil no outro dia. Lamentavelmente, tudo em vão. O TSE, no desabafo do referido deputado, que lhe valeu um processo, já havia se tornado uma “latrina do Palácio do Planalto” e acabaria negando o registro do PTB a Brizola. Foi “O dia em que Brizola chorou”, como imortalizaria em crônica Drummond de Andrade, a dor do velho caudilho  diante da perda da sigla, feita em pedaços. Deu-se início, então, ao novo Partido sob sua liderança, para o qual todos os envolvidos até ali com o autêntico trabalhismo fluiriam, o PDT, um Partido, entretanto de ocasião, mas que cresceu, embora perdendo vigor depois da morte de seu grande líder em 2004. . O Deputado Lidovino Fanton, então Secretário odiava este nome, o associava DDT e jamais se conformou com a perda da sigla. Pouco tempo depois, suicidou-se, levando consigo esta dor. Enquanto isso, o PTB Ivete Vargas, como ficaria conhecido, caiu na vida, ao ponto de acabar nas mãos de Roberto Jefferson que o transformou em instrumento de apoio incondicional não só a Bolsonaro, mas a seus priores aliados, como o ferrabrás Daniel Silveira, hoje preso. Mas Deus escreve certo por linhas tortas e o próprio Roberto Jefferson, fracassado na qualificação da sigla nas últimas eleições a abandonou, fundindo-se com outro lixo da História, o Partido Patriotas. Com isso, a sigla ficou disponível e o PTB não só foi passível de recriação, como reencarnou com sua combativa alma para retomar o Fio da História. O trabalhismo sob a batuta de Vargas, Jango e Brizola levou o cabo, no século XX,  o ideal bolivariano da Grande Pátria. A autonomia do século anterior estava a exigir um projeto nacional-desenvolvimentista que entregasse aos nossos nascentes países a vertebração econômica da soberania almejada. Isso se conseguiu rompendo com a ideologia liberal  da vocação exportadora de nossos países. Do Rio Grande à Patagônia, emergiram líderes progressistas que, à frente de Partidos modernos e grande clivagem social  nacionalizaram riquezas naturais, impulsionaram a indústria e criaram instituições à altura dessas tarefas. O modelo vingou e se converteu em modelo para Gamal Abdel Nasser, no Egito, Mohammed Mossadegh , á testa da Frente Nacional do Irã, e vário outros líderes do chamado Terceiro Mundo, inclusive os que mais tarde criariam o Partido Baath no Oriente Médio.

Nesse contexto, o Brasil com Getúlio Vargas foi o país que levou mais longe este processo, a partir da Revolução de 1930, culminando na criação da Cia. Siderúrgica Nacional, BNDE, Petrobrás, Eletrobrás e a Marcha para o Oeste, cujo vértice acabou se convertendo na definição do local para a construção de Brasília, ainda no seu mandato, em 1954.  Calcula-se que o PIB teria crescido em torno de 6,5% entre 1930 e 1980.  Não por acaso produzimos e exportamos,hoje, além de automóveis, aviões, o produto de maior densidade tecnológica e de valor no mercado mundial, com a excelência da suficiência energética.  Foi precisamente na virada de 1979 para 1980 que, no âmbito do próprio regime militar, se dá uma virada neo liberal na Política Econômica, sob o comando do novo Presidente General, João Batista Figueiredo, enveredando o Brasil para os braços dos interesses financeiros internacionais, cada vez mais distante do modelo nacional-desenvolvimentista.

Já reorganizado em 19 Estados, o PTB volta à carga, e no Rio Grande do Sul realizou sua reunião inaugural em Porto Alegre no dia 26 passado (dezembro de 2023). Torres presente. Eu e Nilton Policena na Direção Estadual do Partido.


*Economista.

Imagem em Pixabay.

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